RIO
- Nos terminais do Galeão e do Santos Dumont, o passageiro que vai
fazer um lanche antes de pegar o avião tem a sensação de que os preços
decolaram antes dele e estão suspensos nas alturas.
Produtos vendidos
nas lojas dos aeroportos do Rio chegam a custar o triplo do que é
cobrado em shoppings e lanchonetes da cidade. Com a chegada das classes C
e D ao saguão de embarque, a Infraero decidiu agir para que os novos
passageiros possam pagar pelo sanduíche: até o fim do ano, 11 aeroportos
do país, entre eles os cariocas, terão uma lanchonete "popular", com
preços baixos e controlados.
São vários os exemplos de preços estratosféricos - veja neste link
infográfico com a comparação de preços. À espera do voo de volta a Porto
Alegre, Maria Anália Damasceno desistiu de comer um quindim: o doce
custava R$ 9 em uma lanchonete no Santos Dumont. Ela preferiu pagar R$
14 em um misto quente e um refrigerante, mas continuou achando caro:
- Estou acostumada a comprar o quindim por R$ 4,50 lá na minha cidade.
No Terminal 2 do Galeão, um pote de 415 gramas do sorvete Häagen-Dazs
sai por R$ 42, enquanto pode ser encontrado por R$ 19,90 no shopping
RioSul.
Um pão de queijo grande custa R$ 4 no saguão de embarque, mas é
vendido por R$ 2,70 em uma franquia da mesma rede no Centro.Os preços
altos obrigam quem trabalha nos aeroportos a trazer comida de casa. Na
terça-feira, Daiane Souza, funcionária de uma banca de revistas do
Galeão, comia um sanduíche que ela própria fez.
Para complementar o
almoço, comprou um pastel de carne por R$ 4 em uma lanchonete do
aeroporto:
- Acho que o preço susto seria, no máximo, R$ 3. É tudo muito caro.
Por isso, todo mundo que trabalha aqui acaba trazendo comida de casa.
Também no Galeão, um casal de Araxá, Minas Gerais, achou demais os
quase R$ 27 pagos pelo almoço do seu bebê, Henrique, de apenas 1 ano.
- Lá em nossa cidade, um quilo de comida não passa de R$ 30. Aqui,
chega a R$ 50. Mas não é um problema só do aeroporto. O Rio está caro
demais. Durante nossa estada na cidade, gastamos mais de R$ 400 por
diária em um hotel na Rua Barata Ribeiro. Tudo está caríssimo, e isso
faz com que a viagem saia uma fortuna - disse o empresário Paulo Márcio
Silva, que considera o Rio mais caro do que Nova York, onde morou por
cinco anos.
Em Curitiba, refrigerante não pode custar mais que R$ 3,20
O superintendente de negócios comerciais da Infraero, Claiton Resende
Faria, considera adequados os preços das lojas dos aeroportos. Segundo
ele, com base em cláusulas dos contratos de concessão dos espaços, o
órgão inspeciona regularmente os preços praticados e notifica os
lojistas flagrados em irregularidade.
A reportagem questionou a Associação Nacional de Concessionárias de
Aeroportos (Ancab), que representa os lojistas, sobre os preços
elevados, mas não obteve resposta.
- É natural que os preços nos terminais sejam maiores, pois o custo
operacional das lojas também é maior. Elas precisam funcionar todos os
dias do ano, 24 horas por dia. Isso implica mais gastos. Logo não se
pode comparar uma loja de aeroporto com o um botequim - afirmou Faria.
Mas a Infraero admite que os passageiros da chamada nova classe
média, que passaram a viajar de avião nos últimos anos, podem achar os
preços proibitivos.
A solução foi licitar espaços para lanchonetes com preços baixos e
tabelados, como forma de oferecer uma alternativa aos passageiros e
estimular a concorrência entre os lojistas. O concessionário é obrigado a
cumprir o preço estipulado por um ano. Ao fim do período, a Infraero
pode avaliar a possibilidade de reajuste.
- Agora, as classes C,D e até E estão frequentando aeroportos, por
causa do aumento na renda e de promoções. Por isso fomos buscar uma
alternativa mais barata, embora a função da Infraero não seja regular
preços - disse o superintendente da Infraero.
A ideia é introduzir as lanchonetes populares nas cidades-sede da
Copa de 2014. No Aeroporto Internacional Afonso Pena, em Curitiba, uma
delas começou a funcionar há algumas semanas. Lá, uma lata de
refrigerante não pode custar mais de R$ 3,20 (no Galeão, sai por R$ 4,50
hoje); já o preço máximo do sanduíche natural é R$ 3,90 (custa R$ 8 no
Rio). A cesta de produtos com preços regulados tem 15 alimentos.
Já foi licitada a lanchonete do aeroporto de Londrina (PR) - que não é
sede da Copa mas quis integrar o projeto. O pregão para a loja de Natal
acontece amanhã. Na quinta-feira é a vez de Recife, e na sexta, de
Fortaleza. Os leilões de Vitória (que também não é sede), Congonhas (São
Paulo) e Salvador sairão ainda este mês. Depois da licitação, o prazo
para que a lanchonete comece a funcionar é de 90 dias.
O processo licitatório para os aeroportos do Rio (Galeão e Santos
Dumont) e o de Porto Alegre estão em fase de prospecção de espaço
disponível e pesquisa de preços, mas deve ser concluído ainda este ano.
Como passarão por amplas reformas para a Copa, os terminais de Cuiabá,
Manaus e Confins (Belo Horizonte) só devem receber a lanchonete no ano
que vem. A Infraero também apresentou a ideia aos concessionários dos
aeroportos privatizados - Guarulhos (São Paulo), Viracopos (Campinas) e
Brasília -, mas cabe a eles aderir ou não ao projeto.
YAHOO