A passagem de um avião comercial por uma nuvem vulcânica desliga os motores do aparelho e transforma-o num planador, o que faz com que estas poeiras sejam um «perigo para a aviação». A explicação foi dada à Lusa por um piloto português.
José Cruz dos Santos, comandante e responsável pela área de segurança da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA), explica que é essencial que as entidades meteorológicas monitorizem estas nuvens e avisem atempadamente os centros de controlo aéreo. Isto, porque é muito difícil detectá-las em voo.
O radar meteorológico dos aviões «detecta a humidade que existe dentro das nuvens, mas estas são secas, por isso não têm grande reflexão em termos de radar», explicou o piloto.
Voos de Portugal para o Reino Unido afectados devido a vulcão
Ao se passar pelo meio da poeira vulcânica uma «das primeiras sensações» é a «formação de fogo de Santelmo», uma descarga eletroluminescente que pode ter o aspecto de uma faísca dupla ou tripla, que produz «raios ao longo dos vidros do aviões», explica José Cruz dos Santos.
Mas o mais grave é mesmo o que esta cinza faz aos aviões. «Ao entrar nos motores, a cinza entra nas câmaras de combustão e, devido à temperatura muito elevada, volta a derreter, e agrega-se às câmaras de combustão, impedindo a passagem de ar» e, consequentemente, para o motor.
«Se os pilotos não saírem rapidamente de dentro dessa nuvem, não conseguirão reactivar os motores e o avião fica um planador», ilustrou o piloto, adiantando que as finas poeiras vulcânicas provocam ainda danos nos sistemas de pressurização e tanques de combustível da aeronave.
«Cria-se uma nuvem densa dentro do avião devido à contaminação dos ares condicionados, porque o ar condicionado vai retirar ar aos motores», explicou.
«Os tanques de combustível também ficam contaminados porque estão constantemente a ser pressurizados com ar que vem dos motores», o que «dificulta a sua utilização», acrescentou.
Esta explicação surge na sequência do Reino Unido e Dinamarca encerram espaço aéreo encerramento do espaço aéreo em vários países europeus e do cancelamento de inúmeros voos, devido a nuvens de fumo formadas na sequência da erupção de um vulcão na Islândia.
tvi24O vulcão localizado no sul da Islândia, no glaciar Eyjafjllajokull, registou na passada quarta-feira a segunda erupção em menos de um mês, obrigando à retirada de cerca de 800 pessoas .