Elegante e ágil, Dornier era chamado de 'lápis voador'
Cientistas, historiadores,
mergulhadores e engenheiros britânicos iniciaram nesta sexta-feira os
trabalhos para recuperar do fundo do Canal Mancha um avião alemão da 2ª
Guerra Mundial.
O Dornier 17 será restaurado após o resgate em
um trabalho que levará dois anos e será coordenado pelo Museu da RAF (a
Força Aérea britânica).
Nos anos 40, essa aeronave era
considerada ágil e fácil de pilotar, sendo uma das apostas dos Alemães
para vencer a Grã-Bretanha na guerra.
"Esse era o melhor avião para voar a alturas
baixas. Ele nos permitia voar bem próximo ao chão", diz Gerhard Krems, o
último homem vivo a ter pilotado um Dornier. "O avião era ágil, muito
fino e elegante. Por isso ganhou um apelido apropriado: o lápis voador."
Até pouco tempo, se acreditava que nenhum
Dornier 17 havia sobrevivido à passagem do tempo. Cinco anos atrás,
porém, uma equipe de mergulhadores descobriu os restos do avião em
questão a 15 metros de profundidade, em um banco de areia.
Estudos posteriores confirmaram que tratava-se
de um Dornier 17 e o Museu da RAF decidiu resgatá-lo e colocá-lo em
exposição na base de Hendon, nos arredores de Londres, a um custo total
de 500 mil libras (R$1.563).
Para Chris Goss, um historiador especializado em aeronaves militares, o achado tem uma grande importância histórica.
"Essa aeronave será a único de seu tipo no
mundo. Temos alguns fragmentos de outras aeronaves desse tipo. Mas essa
está completa e, portanto, seu valor do ponto de vista histórico é
incalculável", diz.
Queda
Acredita-se que o Dornier que será resgatado
tenha caído no dia 26 de agosto de 1940, abatido pelo caça da RAF
Boulton-Paul Defiant.
Ao ser atingido, o avião perdeu força e altura
rapidamente e, quando tocou a água, provavelmente capotou. O piloto e um
companheiro sobreviveram, mas pelo menos duas outras pessoas da
tripulação teriam morrido.
Ao chegar no fundo do mar, o avião foi logo
coberto por uma espécie de areia movediça, mas imagens subaquáticas
mostram que boa parte de sua estrutura permaneceu intacta.
Faltam algumas partes, como as portas do
compartimento de bombas, o vidro da cabine e as portas do trem de pouso.
E o mais provável é que elas tenham sido arrancadas na queda.
Mas a fuselagem, as asas, motores e hélices ainda estão lá, bem como o trem de pouso - com pneus cheios.
Segundo Bob Peacock, mergulhador e arqueólogo
marítimo que encontrou os destroços, isso não quer dizer que será fácil
tirar o Dornier do mar. O avião está em um estado frágil e a sua
recuperação e conservação será complicada.
Conservação
Mergulhadores que fazem parte da equipe de resgate do PA
Holger Steinle, professor do Museu Técnico
Alemão de Berlim, que tem bastante experiência em projetos de resgate de
aeronaves da 2ª Guerra, é cético sobre a possibilidade de se conseguir
manter o Dornier em boas condições.
Ele diz que a aeronave era feita de alumínio,
material facilmente corroído pela água do mar, e adverte seus colegas
britânicos para não esperarem muito. "Em 20 ou 30 anos pode ser que não
sobre nada desse Dornier", acredita.
Já a cientista Mary Ryan, do Imperial College
London, é mais otimista. Ryan foi contratada pelo Museu da RAF para
encontrar uma maneira de parar o processo de corrosão da aeronave.
Trabalhando com um pequeno fragmento resgatado
ela e sua equipe descobriram que uma mistura de água e ácido cítrico -
mais precisamente, suco de limão - limpa o metal e impede a corrosão.
Por isso, o museu construiu estruturas equipadas
com um sistema de pulverização para a aeronave. E nos próximos 18
meses, suas as asas e fuselagem receberão borrifadas de ácido cítrico
por 10 minutos, a cada meia hora.
A operação para tirar o avião da água inteiro
também não será fácil. Para isso, o museu contratou uma empresa de
salvamento marítimo, a Seatech, que desenhou uma estrutura especial para
ser construída ao redor do Dornier embaixo da água.
Por causa do movimento da água e da areia,
provocado pelas mudanças das marés, os mergulhadores encarregados da
construção dessa estrutura poderão operar por apenas 45 minutos, quatro
vezes por dia - o que fará com que demorem até quatro semanas para
concluir a tarefa.
Se tudo correr bem, o avião provavelmente poderá ser exposto ao público em cerca de dois anos, como previsto.
BBC BRASIL