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terça-feira, 4 de maio de 2010

Aviões usados derrubam encomendas de novos


GENEBRA - Vende-se avião seminovo. Ótimo estado. Pouca quilometragem. Se existisse um classificados de aviões, a constatação é de que faltaria espaço para tantos anúncios. Diante da crise mundial, a explosão do mercado de aviões de segunda mão foi impressionante em 2009 e 2010. Milionários endividados e empresas com problemas de caixa tentam se desfazer de seus aviões para cortar custos, enquanto companhias obrigam executivos a tomar voos comerciais.

O resultado foi uma queda vertiginosa nas novas encomendas de empresas como Embraer, Airbus, Bombardier e outras. Para os fabricantes mundiais de aviões, 2010 e 2011 serão anos ainda piores. Elas não apenas terão de competir entre si, mas agora também contra o mercado de segunda mão.

As conclusões foram apresentadas na segunda-feira, 3, pela Embraer no primeiro dia da principal exposição de jatos executivos da Europa, em Genebra. Em 2009, mais de 3 mil aviões usados estavam sendo colocados à venda pelos proprietários.

Em meados do ano passado, 24% de toda a frota mundial de jatos estava à venda por seus donos. Hoje, esse volume está em 2,5 mil, o que significa que 16% da frota mundial de jatos está à venda. Historicamente, o mercado de segunda mão de aviões não representava nem 6% da frota mundial.

Menos bilionários

O vice-presidente da Embraer, Claudio Camelier, lembra que tanto o PIB mundial quanto o número de bilionários caiu em 2009. "A venda de aviões tem uma relação direta com isso." Entre 2008 e 2009, o número de bilionários no mundo passou de 1.100 para 973.

Em 2008, as vendas de jatos executivos chegaram a US$ 22 bilhões no mundo, segundo dados da Embraer. Em 2009, esse volume caiu para US$ 17 bilhões. A expectativa da Embraer é de que as vendas ficarão em US$ 14 bilhões neste ano e em 2011.

Uma retomada mais pronunciada ocorreria a partir de 2012. Mas a volta das vendas aos mesmos níveis de 2008 ocorreria apenas em 2018, segundo as projeções da Embraer para o mercado mundial. "Não acreditamos que, quando o mercado voltar a se recuperar, o céu será tão azul como em 2008", diz Camelier.

No caso da Embraer, o vice-presidente da empresa para a divisão de jatos executivos, Luis Carlos Affonso, admite que 2009 não foi um período positivo. "Tivemos muitos cancelamentos e as vendas foram devagar." Ele reconhece que o que está aliviando a empresa é o fato de o número de encomendas feitas antes de 2008 ter sido substancial.

Enquanto o mercado mundial de jatos encolheu 20% em 2009, a receita da Embraer subiu 20% graças a esses pedidos anteriores à crise. Em 2010, a empresa representa 6,4% das vendas do segmento no mundo, contra 4,1% do mercado em 2009. Em 2009, a receita chegou a US$ 900 milhões, contra US$ 1,1 bilhão estimado para 2010. Para este ano, a meta da Embraer é de entregar 137 jatos. Mas a empresa não fala em novos pedidos.

Mesmo assim, a empresa brasileira estima que consumidores de todo o mundo comprarão 10 mil novos jatos nos próximos dez anos, em um mercado avaliado em US$ 190 bilhões. A América Latina representaria 6% desse mercado, ante 12% da Ásia.

Mas Affonso reconhece que, enquanto os mercados de Estados Unidos e Europa não voltarem a se expandir, a recuperação do setor não ocorrerá. Os dois mercados representam 70% das vendas do setor hoje.

estadão

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