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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cemitério de aviões em Brasília é 'ato fúnebre' da União




Vou sempre a Belo Horizonte, onde tenho familiares. E, em Brasília, geralmente escala tradicional, pois é difícil voar no trecho Cuiabá/São Paulo/BH, observo triste os jatos abandonados da Transbrasil e Vasp numa das extremidades do pátio de estacionamento do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Na realidade, Brasília apresenta aos visitantes seu cemitério de aviões, a exemplo dos existentes nos Estados Unidos.

São Boeing 767 (maiores do que os Aiurbus 320) e os famosos 737-200 da Vasp, abandonados há anos à própria sorte do desmazelo da administração federal. Sem turbinas e com sinais visíveis de corrosão na fuselagem, essas aeronaves aguardam não sei o quê. A mesma cena se repete também em outros aeroporto s brasileiros, conforme constatei em Salvador, Fortaleza e, principalmente Congonhas e Guarulhos, SP. A maioria dessas máquinas - grandes, médias e pequenas - está enterrada precocemente no ato da sua vida operacional. No caso dos 737-200, movidos a turbinas charuto, aviões antigos, poderiam ir pelo menos para alguns museus, em face de ter cumprido notáveis missões aéreas desde o instante em que deixaram a fábrica da Boeing.

Ver os imponentes Boeing 767 e mesmo os valentes 737-200 reduzidos a uma situação humilhante é constrangedor para quem ama a aviação e valoriza o erário público, conhecedor das dificuldades diárias para manter as contas em dia, por conta dos altíssimos impostos cobrados pela União. O Brasil continua sendo um dos países detentores de "recordes" no valor das tarifas fixadas para cada segmento, sabemos, carga tributária altíssima. Mas existem outros parâmetros dignos de uma análise racional do povo tupiniquim a respeito disso. Por exemp lo: por que o governo não revende essas aeronaves para banca! r as entidades de cunho filantrópico? Existe ainda algum embargo complexo e interminável, por parte da Justiça, que trava sua comercialização?

Também é de questionar o porquê de o governo federal não guardar esses aviões em locais não propícios à deterioração visível, como acontece nos aeroportos do País. No caso de Brasília, quem passa por baixo de um dos acessos ao pátio de estacionamento do Aeroporto Internacional já 'aprecia' esse desprezo governamental a tudo que não lhe diz respeito politicamente, na contagem de votos.

Enfim, os eleitores do grande Brasil da miséria jamais terão acesso a informações do tipo. Assim, não há qualquer urgência em resolver tal questão, mesmo que envolva somas bilionárias, dezenas de milhões de dólares. Porém, para as eventuais autoridades estrangeiras que não sejam deslocadas para aterrissagem na Base Militar de Brasília, a cena do cemitério de aviões no Planalto, centro nervoso administrativo do País, real mente chama a atenção. Como o governo explicaria sua competência se as imagens da incompetência para resolver impasses semelhantes estão à vista de todos?

Talvez o próprio presidente Lula prefira ignorar o que está diante de si a cada uma das intermináveis viagens internacionais e nacionais que realiza. De tanto assistir à maratona estática dos aviões abandonados e em ferrugem viva Brasil afora, ele pode também ter adotado o comportamento de que ali se evidencia mais um dos entraves não solucionáveis do País, e o melhor então a fazer é jogar a toalha para algum outro governo.

Os aviões 'sepultados no pátio' brasiliense lembram figuras mortas metálicas, descartadas por desmazelo de quem não soube gerir a administração das empresas às quais pertenciam, ou ainda pertencem, apesar de que a maioria dos seus funcionários ficou a ver navios, em termos de rescisão trabalhista. Houve até casos de suicídios, de separações matrimoniais, porque a falta de dinheiro implica diretamente no equilíbrio das fa! mílias, sabe-se. E o desmonte das falências protagonizadas por atos escúrios geraram fatos nada apreciadores de uma vida tranquila que todos querem. O que fazer quando uma empresa fecha suas portas e salários vão para o ralo da burocracia e das incertezas que confrontam justificativas nada plausíveis?

É em face de aberrações tão gritantes que me recuso a colaborar com campanhas de filantropia, pois o governo pode fazer, resolver muito do que é reivindicado pelos Didi(s) da Vida (Criança Esperança). Qualquer cidadão poderia questionar, por exemplo, com qual direito os mentores de campanhas de tamanho alarde televisivo cobram participação dos brasileiros, já sugados por impostos monstruosos e testemunhas oculares do desperdício descomunal da coisa pública. Não dá para entender, e é óbvio que o governo fecha os olhos.

Se todos os aviões prisioneiros em solo por conta da falência das empresas pelas quais voavam fossem comercializados e os recurs os direcionados a instituições filantrópicas sérias, muito já teria sido resolvido das pendências sociais de alarde internacional que o Brasil exibe. Infelizmente, os erros começam a partir da apreensão de aeronaves de pequeno porte, centenas delas jogadas nos aeroportos brasileiros, e até em campos de pouso. Na Rodovia Emanuel Pinheiro, que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães, pode-se "apreciar" dois monotores Skylane, da Cessna, ancorados no mato, canibalizados ao extremo. O próprio campo de pouso (falido) encontra-se sucateado.

Isso é o que se poderia tirar do mínimo para investimentos na ala social, sem contar outras apreensões que o governo federal leva a efeito (carros, motos e imóveis faraônicos). Excetuando-se dinheiro vivo, ouro e pedras preciosas, muito bem guardado, o restante apreendido por alguma irregularidade está fadado a apodrecer à vista geral de uma Nação perplexa diante de atitudes tão incompreensíveis. Depois ainda querem descaracter izar a célebre frase de Charles de Gaulle: "O Brasil não é u! m País sério".
hangar do vinna

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