Governo espanhol diz que controladores aéreos têm "torre de privilégios"

O ministro do Fomento espanhol descreveu hoje, terça-feira, no parlamento em Madrid, a "torre de privilégios" dos controladores aéreos, em que os salários "eram a fachada mais visível", para defender mais reformas para a actividade.

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"Os controladores conseguiram levantar uma torre de privilégios, com salários desproporcionados, poder absoluto para organizar o seu próprio trabalho e grande poder na formação e no acesso à profissão", afirmou José Blanco.

"Um colectivo que sempre recorreu à pressão, às ameaças, à chantagem, às greves ilegais e ao abuso das baixas", acrescentou, na Comissão de Fomento do Congresso de Deputados em Madrid, onde compareceu, a pedido próprio, para dar conta da situação do serviço aéreo espanhol.

Em Espanha ainda vigora o estado de alarme - primeiro nível do estado de emergência - para a navegação aérea, em resposta à decisão dos controladores de abandonarem maciçamente os locais de trabalho, a 4 de Dezembro.

"Um ataque contra o Estado"

Numa intervenção marcada por duas críticas aos controladores, José Blanco quis agradecer a "lição de seriedade e responsabilidade" manifestada pelos cidadãos no momento e a actuação das forças e corpos de segurança do Estado, trabalhadores da AENA, empresas aéreas, força aérea e a Unidade Militar de Emergências.

"Os acontecimentos desse fim de semana não foram um acto isolado mas a culminação de sucessivas ameaças, chantagens e acções irregulares de um colectivo que tem vindo a impor condições laborais privilegiadas e inaceitáveis", afirmou.

"Chegou o momento desta câmara reflectir sobre os problemas de fundo e continuar a tomar medidas de reforma necessárias para adequar o sistema de controlo aéreo ao marco europeu", afirmou.

José Blanco defendeu as medidas que o Governo tem vindo a adoptar para reformar o serviço e as decisões que tomou para lidar com a situação de 4 de Dezembro, que considerou "legais, adequadas, necessárias e eficazes" para responder "a um ataque contra o Estado, a soberania e a cidadania".

Salário médio de 323 mil euros/ano

E para combater privilégios que, referiu, permitem que o salário médio dos controladores espanhóis seja de 323 mil euros por ano, mais do dobro dos controladores alemães e quase o triplo dos congéneres britânicos.

Os controladores aéreos conseguiam definir a própria jornada de trabalho, reduziam o horário normal e aumentavam as horas extraordinárias - como foi determinado numa sentença da Audiência Nacional - chegando a uma média de 600 por ano, pagas num valor "três vezes" superior ao normal.

Isto permitiu, por exemplo, que em 2008 um controlador em Barajas (Madrid) tenha conseguido 1200 horas extraordinárias e um rendimento anual de quase um milhão de euros, com outros representantes da USCA - União Sindical dos Controladores Aéreos - a beneficiarem de rendimentos de mais de 600 mil euros.

Só em 2009, os controladores somaram mais de 1,3 milhões de horas extraordinárias, a um custo de 360 milhões de euros. Este ano, e desde a reforma, apenas se usaram 18 mil horas extraordinárias, a um custo de 2,5 milhões de euros.

Ao mesmo tempo os convénios existentes, negociados sobre pressão, implicavam que os controladores poderiam alcançar a pré-reforma aos 52 anos com salários de 170 mil euros.

Valores que levaram a que o serviço de controlo aéreo estivesse em risco de sustentabilidade financeira com um custo total por ano de mais de 1100 milhões de euros que serão reduzidos para 480 depois da reforma.

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