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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Comissão da Câmara quer levar caso da Gol ao Parlamento americano


A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara de Deputados realizou na manhã desta quarta-feira uma audiência pública sobre o acidente envolvendo um avião da Gol (voo 1907) e um jato executivo Legacy, ocorrido em setembro de 2006 e que matou 154 pessoas. De acordo com a assessoria da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907 (Afav 1907), os deputados presentes decidiram criar um grupo de trabalho com o objetivo de formar uma comissão externa para ir ao Parlamento dos Estados Unidos, além de estreitar os contatos com entidades governamentais brasileiras e sociedade civil.

A proposta da criação do grupo de trabalho, segundo a Câmara Federal, deverá ser votada na próxima quarta-feira , em reunião da Comissão de Relações Exteriores. A audiência pública foi convocada pelos deputados Rubens Bueno (PPS-PR) e Dimas Ramalho (PPS-SP). Além de representantes da Afav 1907, estiveram presentes componentes da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac). Um dos pontos debatidos foi a falta de efetividade da Anac no processo administrativo contra os pilotos norte-americanos que causaram a tragédia, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino.

Na audiência o deputado Rubens Bueno criticou a Anac, representada pelo superintendente de segurança operacional, David da Costa Faria Neto, dizendo que a agência não demonstrou eficácia no caso e propondo, inclusive, uma reestruturação nos moldes do órgão. Na condição de presidente da Comissão, o deputado Dimas Ramalho, criticou o MPF, órgão do qual faz parte, pelo não comparecimento na ocasião.

A Associação reivindica uma atuação efetiva do governo brasileiro no cumprimento, pela justiça americana, da pena do processo criminal contra os pilotos, quando ela for definida pela Justiça brasileira. Também pede a tomada de providências do governo dos Estados Unidos quanto à cassação da habilitação dos pilotos.

Segundo Rosane Gutjahr, diretora da Afav 1907, representantes do governo de todo o Brasil podem desenvolver mobilizações de apoio à Associação. "Nossa causa é de todos os brasileiros. Se fosse um jato pilotado por brasileiros colidindo em um Boeing norte-americano, certamente não teríamos uma sentença de serviços comunitários e uma justiça lenta. Todos os presentes se emocionaram com a história das famílias", disse a diretora, que representou os familiares na audiência.

O acidente
O voo 1907 da Gol, que fazia a rota Manaus-Rio de Janeiro, com escala em Brasília, caiu no norte do Mato Grosso, em 29 de setembro de 2006 e matou os 148 passageiros e seis tripulantes. O acidente ocorreu após uma colisão com um jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer, que pousou em segurança numa base aérea no sul do Pará.

Os pilotos do Legacy, os americanos Lepore e Paladino, são acusados de não terem acionado o Sistema de Alerta de Tráfego e Prevenção de Colisão (TCAS), equipamento responsável pelo contato entre a aeronave e as torres de transmissão. A denúncia do Ministério Público Federal, apresentada em maio de 2007, relata que o transponder do avião da Gol permaneceu ligado durante todo o voo, mas o do Legacy, a partir de um certo momento, foi desligado. O transponder é um aparelho que interage com os radares secundários do controle aéreo e com outros transponders, fornecendo informações sobre a posição e o deslocamento das aeronaves.

A sequência de erros que causou o acidente passou também por uma falha de comunicação entre controladores brasileiros e pilotos do jato, que, sem entender as instruções, teriam posto a aeronave na mesma altitude do voo da Gol, 37 mil pés. Em maio de 2007, os pilotos e quatro controladores de voo foram denunciados pelo Ministério Público Federal por crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo nacional. Os americanos foram absolvidos da acusação de negligência em dezembro de 2008, mas, em 2010 a Justiça anulou a absolvição e ordenou o reinício do julgamento.

Em maio de 2011, eles foram condenados pela Justiça de Mato Grosso a quatro anos e quatro meses de prisão em regime semiaberto por expor a perigo aeronave própria ou alheia e pelo ato ter resultado em morte. A pena, no entanto, foi convertida em prestação de serviço comunitário e proibição do exercício da profissão e seria cumprida nos Estados Unidos, onde os pilotos residem.

Em 2008, os controladores de voo Leandro José Santos de Barros e Felipe Santos dos Reis foram absolvidos sumariamente de todas as acusações pela Justiça Federal. Jomarcelo Fernandes dos Santos também foi isentado do crime, em maio de 2011. Na mesma decisão, a Justiça de Mato Grosso condenou Lucivando Tibúrcio de Alencar a prestar serviços comunitários por atentado contra a segurança do transporte aéreo.

Na Justiça Militar, a ação penal militar para apurar a responsabilidade de cinco controladores que trabalhavam no dia do acidente - quatro denunciados pelo MPF e João Batista da Silva - só foi instaurada em junho de 2008. Em outubro de 2010, quatro deles foram absolvidos - apenas Jomarcelo Fernandes dos Santos foi condenado por homicídio culposo, mas recebeu o direito de apelar em liberdade. Ele recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM) e aguarda julgamento.

terra

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