A comparação natural entre o procedimento das companhias aéreas ditas
brasileiras, de tempos atrás, com as de hoje apresenta profundas
diferenças. Sem dúvida, na época longínqua da Panair e mais próxima da
Varig, principais empresas do passado, as passagens eram, em termos
relativos, mais caras, somente acessíveis a camadas mais bem aquinhoadas
da população. Contudo, a diferença no tratamento aos passageiros chega a
ser impactante.
Antes, os profissionais eram de uma eficácia e gentileza ímpares. O
serviço de bordo, incluído no valor das passagens, era de primeira
classe. Os vôos eram diretos, por exemplo, do Rio de Janeiro para o
destino Nordeste.
Atualmente, o nível do atendimento caiu muito. De início, após o triste
fim da Varig, resultando na verdadeira tragédia dos beneficiários do
Aerus, é extremamente difícil o recrutamento de profissionais a altura
dos antigos. O nível salarial não apresenta os mesmos atrativos e a
política canibalesca do verdadeiro duopólio controlador (nenhuma das
duas empresas com tradição nacional no ramo), de fato, do cartel
existente na navegação aérea, demite inconsequentemente centenas de bons
profissionais, as tripulações operam com um nível máximo de estresse,
fato que explica a impossibilidade de prestação de um serviço de
qualidade.
A falta de investimento nos aeroportos transformou-os em estações
rodoviárias de baixa categoria, inferiores a muitas delas em
funcionamento. Existem inúmeras escalas nos vôos, transformando-os em
maratonas. É preciso cautela no trato com os comissários de bordo, sob o
risco de denúncia a autoridades, resultando na retirada do passageiro
da aeronave por policiais.
Os serviços existentes nos aeroportos nacionais, em sua maioria, são
caros e ruins. O estacionamento é fonte de extorsão. Na volta ao Brasil,
após mais de dez horas de viagem, o pobre do passageiro enfrenta um
outro cartel, agora de cooperativas de táxis, que fazem o que querem,
sem o devido controle das autoridades responsáveis, a exemplo do
acontecido com os órgãos encarregados da proteção ao consumidor, mais de
interessados em resguardar os interesses das empresas.
Caso o consumidor compre a passagem com muita antecedência na baixa
temporada os preços ainda são atraentes. Porém, caso não possa viajar
nas datas programadas, mesmo por razões de saúde, avisando com
antecedência, é penalizado com a aplicação de multas e diferenças
tarifárias, as quais resultam, em geral, em valores bem superiores aos
das passagens normais. Se tiver que viajar então de emergência, uma
simples passagem para o trajeto Rio–SP chega a mais de R$ 1 mil cada
trecho. Ida e volta ficam por algo equivalente ao valor de uma passagem
Rio–NY. Nos EUA as passagens são bem mais baratas para trechos até bem
maiores, mesmo cotadas em dólares.
E o programa de milhagens, antes uma esperança de obtenção de uma justa
contrapartida à fidelidade demonstrada pelo consumidor, passa a ser um
verdadeiro trabalho de Hércules. Antigamente, com uma prudente
antecedência, era possível, com 40 mil milhas, realizar uma viagem de
ida e volta aos EUA, com 15 mil, à América do Sul e até com 2 mil, a
destino nacional, sem ser época de promoção.
Agora, para os EUA, apenas consegue-se a ida por 25 mil e a volta por 95
mil, fora da alta temporada e com bastante antecedência. Se usarmos as
empresas parceiras, o valor mínimo passa a ser de 35 mil milhas. É
necessário fazer uma combinação com escala na volta, utilizando cerca de
70 mil milhas, por exemplo. Isto obriga um casal a comprar a outra
passagem pelo valor de mercado, algo em torno de R$ 2.400, com marcação
em loja, pois pela internet é impossível a conciliação.
Para destino nacional passou a ser de 6 mil milhas o mínimo necessário.
As mudanças são feitas a qualquer tempo, sempre em prejuízo do
consumidor, com flagrante violação do Código de Defesa do Consumidor,
pois as regras sempre mudam em desfavor dele. E isto com a complacência
conivente dos órgãos que deveriam proteger o passageiro/consumidor.
Desta forma, o programa de milhagem passou a ser desinteressante,
desestimulando inclusive até o uso do cartão de crédito, um dos
instrumentos de obtenção de pontos, além das viagens pelas respectivas
empresas. Inclusive, atualmente deixou de valer o critério da distância
percorrida, colocando-se no seu lugar o valor pago. Assim, uma passagem
comprada em promoção deixa de ser computada.
Ao escrevermos este artigo, tivemos ciência de que, em 5 de novembro,
começou a haver uma reação das autoridades responsáveis objetivando
tentar controlar os abusos perpetrados, segundo o descrito acima.
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