A Embraer é sempre citada como o grande exemplo da diversificação da pauta de exportações e da indústria brasileira. A partir deste ano, ela poderá também ser citada como um bom exemplo de como o governo brasileiro agiu para minimizar os efeitos da crise financeira internacional nas grandes empresas nacionais. No caso da Embraer, a resposta das autoridades foi uma ação coordenada de concessão de crédito, de forma a evitar o cancelamento de pedidos de compra de jatos da fabricante.
Entre setembro e outubro do ano passado, o crédito privado internacional secou. E algumas grandes empresas de leasing de aeronaves ficaram em maus lençóis, como a gigante International Lease Financial Corporation (ILFC), subsidiária integral da AIG, o grupo americano que precisou ser socorrido pelo governo americano. Sem crédito, muitas companhias aéreas passaram a adiar pedidos de compra de aeronaves ou a cancelá-los. A carteira de pedidos da Embraer, que havia chegado a US$ 21,6 bilhões no fim do primeiro semestre de 2008, caiu a US$ 19,7 bilhões no fim do ano. E a situação poderia ter sido ainda pior, não fosse a participação do governo brasileiro.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi acionado e acabou respondendo no ano passado por 14% das entregas de jatos da Embraer, segundo dados divulgados recentemente pelo diretor de mercado de capitais e relações com investidores da companhia, Carlos Eduardo Camargo, em seminário. A participação do BNDES foi especialmente importante no segundo semestre. "No ano anterior, em 2007, com o excesso de liquidez no mercado financeiro internacional e o custo praticado lá fora, o financiamento público havia sido de zero. Naquele ano, não houve necessidade de usar o recursos do BNDES para financiar nossos clientes", explicou Camargo. De zero em 2007, o financiamento público passou a 14% das entregas em 2008 e deverá chegar a 36% do total das entregas neste ano, segundo Camargo. Isso quer dizer que pouco mais de um terço dos aviões entregues pela Embraer neste ano serão financiados pelo governo brasileiro. E, neste ano, a novidade é que os financiamentos não são exclusividade do BNDES, como em 2008. Agora, também o Banco do Brasil e o Fundo de Garantia às Exportações estão concedendo créditos, de longo prazo e em reais, a clientes da Embraer.
Entre os compradores de jatos financiados pelo setor público estão - finalmente - companhias aéreas nacionais, como a Azul e a Trip, que fazem rotas exclusivamente domésticas. Para elas, a vantagem de se contratar um financiamento local em reais é a de poder casar receitas e despesas na mesma moeda, embora o presidente da Trip Linhas Aéreas, José Mário Caprioli dos Santos, tenha recentemente reclamado ao presidente Lula que o financiamento do BNDES para empresas regionais ainda é mais caro do que o crédito concedido às exportações de jatos para companhias internacionais.
A mão do governo é bastante visível no financiamento dos clientes da Embraer (nesta semana, anunciou-se que o BNDES vai financiar também a aquisição de jatos executivos da companhia com taxas de 9% ao ano, além de aviões comerciais), mas não é o único braço de apoio à empresa aeronáutica brasileira. No segundo trimestre, a companhia anunciou um contrato com o governo para o desenvolvimento do jato de transporte militar KC 390, além da modernização de 12 jatos da Marinha brasileira, num total de US$ 1,44 bilhão. E o BNDES ainda deve ampliar o Pró-Aeronáutica, programa de financiamento de investimentos de fornecedores da indústria aeronáutica (ver página B7).
Certamente surgirá alguém que considerará um absurdo que o governo apoie uma companhia que demitiu neste ano 4 mil pessoas e que tem entre seus clientes grandes companhias aéreas internacionais. Permitam-me discordar desse raciocínio. Solidarizo-me com aqueles que perderam seus empregos, mas não considero que o governo tenha de abandonar uma empresa nacional que tem tecnologia de ponta, capaz de competir com grandes companhias internacionais, que tem um importante papel na balança comercial brasileira e que é capaz de fomentar um importante polo fornecedor. Além disso, é bom lembrar, o próprio BNDES, por meio de sua empresa de participações, detém hoje 5,2% do capital da Embraer. A União, outros 0,3%, por meio de uma ação com poderes especiais ("golden share").
Acredito, sim, que o governo deve ficar atento para que a evolução e o crescimento da Embraer estejam alinhados a interesses nacionais. Lembro-me que em 2003, por exemplo, o BNDES não concedeu um único centavo de financiamento a clientes da Embraer, a despeito da crise da aviação aérea internacional e dos pleitos de financiamento de US$ 1,8 bilhão. O presidente do banco à época, Carlos Lessa, travou uma difícil queda-de-braço com a empresa e chegou a brincar com a situação, citando um samba: "Pra botar a mão no meu dinheiro, você vai ter que rebolar, rebolar, rebolar." Os representantes do banco queriam que a companhia aumentasse o índice de nacionalização das aeronaves. Ao final, a Embraer acabou por ampliar para 45% o índice de nacionalização e em 2004 o BNDES retomou os financiamentos.
Não quero julgar quem estava com a razão à época e nem tenho elementos para isso. Mas sou a favor de uma política de incentivo a um setor em que o país se mostre competitivo internacionalmente. A decisão, agora, de estimular fornecedores da indústria aeronáutica para que eles possam atender não apenas a Embraer, mas também fabricantes internacionais de aeronaves, me parece acertada. E para quem se assustou com o alto volume de financiamento público, é bom lembrar que esse patamar não deve se sustentar por muito tempo. A tendência é de que o crédito internacional se normalize, ainda que não seja esperada uma liquidez como a vista em 2007.
Aeroportos no Brasil
Entre setembro e outubro do ano passado, o crédito privado internacional secou. E algumas grandes empresas de leasing de aeronaves ficaram em maus lençóis, como a gigante International Lease Financial Corporation (ILFC), subsidiária integral da AIG, o grupo americano que precisou ser socorrido pelo governo americano. Sem crédito, muitas companhias aéreas passaram a adiar pedidos de compra de aeronaves ou a cancelá-los. A carteira de pedidos da Embraer, que havia chegado a US$ 21,6 bilhões no fim do primeiro semestre de 2008, caiu a US$ 19,7 bilhões no fim do ano. E a situação poderia ter sido ainda pior, não fosse a participação do governo brasileiro.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi acionado e acabou respondendo no ano passado por 14% das entregas de jatos da Embraer, segundo dados divulgados recentemente pelo diretor de mercado de capitais e relações com investidores da companhia, Carlos Eduardo Camargo, em seminário. A participação do BNDES foi especialmente importante no segundo semestre. "No ano anterior, em 2007, com o excesso de liquidez no mercado financeiro internacional e o custo praticado lá fora, o financiamento público havia sido de zero. Naquele ano, não houve necessidade de usar o recursos do BNDES para financiar nossos clientes", explicou Camargo. De zero em 2007, o financiamento público passou a 14% das entregas em 2008 e deverá chegar a 36% do total das entregas neste ano, segundo Camargo. Isso quer dizer que pouco mais de um terço dos aviões entregues pela Embraer neste ano serão financiados pelo governo brasileiro. E, neste ano, a novidade é que os financiamentos não são exclusividade do BNDES, como em 2008. Agora, também o Banco do Brasil e o Fundo de Garantia às Exportações estão concedendo créditos, de longo prazo e em reais, a clientes da Embraer.
Entre os compradores de jatos financiados pelo setor público estão - finalmente - companhias aéreas nacionais, como a Azul e a Trip, que fazem rotas exclusivamente domésticas. Para elas, a vantagem de se contratar um financiamento local em reais é a de poder casar receitas e despesas na mesma moeda, embora o presidente da Trip Linhas Aéreas, José Mário Caprioli dos Santos, tenha recentemente reclamado ao presidente Lula que o financiamento do BNDES para empresas regionais ainda é mais caro do que o crédito concedido às exportações de jatos para companhias internacionais.
A mão do governo é bastante visível no financiamento dos clientes da Embraer (nesta semana, anunciou-se que o BNDES vai financiar também a aquisição de jatos executivos da companhia com taxas de 9% ao ano, além de aviões comerciais), mas não é o único braço de apoio à empresa aeronáutica brasileira. No segundo trimestre, a companhia anunciou um contrato com o governo para o desenvolvimento do jato de transporte militar KC 390, além da modernização de 12 jatos da Marinha brasileira, num total de US$ 1,44 bilhão. E o BNDES ainda deve ampliar o Pró-Aeronáutica, programa de financiamento de investimentos de fornecedores da indústria aeronáutica (ver página B7).
Certamente surgirá alguém que considerará um absurdo que o governo apoie uma companhia que demitiu neste ano 4 mil pessoas e que tem entre seus clientes grandes companhias aéreas internacionais. Permitam-me discordar desse raciocínio. Solidarizo-me com aqueles que perderam seus empregos, mas não considero que o governo tenha de abandonar uma empresa nacional que tem tecnologia de ponta, capaz de competir com grandes companhias internacionais, que tem um importante papel na balança comercial brasileira e que é capaz de fomentar um importante polo fornecedor. Além disso, é bom lembrar, o próprio BNDES, por meio de sua empresa de participações, detém hoje 5,2% do capital da Embraer. A União, outros 0,3%, por meio de uma ação com poderes especiais ("golden share").
Acredito, sim, que o governo deve ficar atento para que a evolução e o crescimento da Embraer estejam alinhados a interesses nacionais. Lembro-me que em 2003, por exemplo, o BNDES não concedeu um único centavo de financiamento a clientes da Embraer, a despeito da crise da aviação aérea internacional e dos pleitos de financiamento de US$ 1,8 bilhão. O presidente do banco à época, Carlos Lessa, travou uma difícil queda-de-braço com a empresa e chegou a brincar com a situação, citando um samba: "Pra botar a mão no meu dinheiro, você vai ter que rebolar, rebolar, rebolar." Os representantes do banco queriam que a companhia aumentasse o índice de nacionalização das aeronaves. Ao final, a Embraer acabou por ampliar para 45% o índice de nacionalização e em 2004 o BNDES retomou os financiamentos.
Não quero julgar quem estava com a razão à época e nem tenho elementos para isso. Mas sou a favor de uma política de incentivo a um setor em que o país se mostre competitivo internacionalmente. A decisão, agora, de estimular fornecedores da indústria aeronáutica para que eles possam atender não apenas a Embraer, mas também fabricantes internacionais de aeronaves, me parece acertada. E para quem se assustou com o alto volume de financiamento público, é bom lembrar que esse patamar não deve se sustentar por muito tempo. A tendência é de que o crédito internacional se normalize, ainda que não seja esperada uma liquidez como a vista em 2007.
Aeroportos no Brasil
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