Um dia após o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, retornar secretamente ao país e refugiar-se na embaixada brasileira, a tensão tomou conta de Tegucigalpa. Na frente da embaixada, milhares de simpatizantes de Zelaya entraram em choque com as forças de segurança hondurenhas, respondendo com pedras às bombas de gás lacrimogêneo e jatos d"água.
À noite, o governo de facto disse, pela primeira vez, que aceitará dialogar com Zelaya se ele reconhecer a legitimidade das eleições presidenciais previstas para 29 de novembro.
Segundo aliados de Zelaya, 170 pessoas foram presas e levadas para um ginásio esportivo por violar o toque de recolher que começou às 16 horas de segunda-feira e foi estendido ontem para até a tarde de hoje.
Pela manhã, circularam rumores de que três pessoas tinham sido mortas, mas o governo negou a informação.
Por algumas horas, o governo de facto de Honduras cortou luz, água e telefone da embaixada brasileira, que estava cercada por policiais e militares. Os funcionários da missão entraram em contato com a embaixada americana para pedir auxílio. "Estamos discutindo que tipo de ajuda podemos dar", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly.
Em toda a cidade havia a sensação de que um conflito generalizado poderia explodir a qualquer momento. "Estão atacando com bombas a embaixada do Brasil. Eles usam sons ensurdecedores para nos enlouquecer", disse Zelaya, em uma das entrevistas que concedeu ontem. Segundo testemunhas, duas bombas de gás lacrimogêneo caíram no jardim da embaixada. O som alto era emitido por alto-falantes na frente do edifício.
Zelaya denunciou à TV Telesul que o governo de facto tinha um plano para invadir e embaixada e assassiná-lo: "Parece que têm até legistas prontos para dizer que foi um suicídio."
Em Nova York, o chanceler Celso Amorim disse que o Brasil não toleraria nenhuma ação contra sua embaixada. Horas antes, o assessor da chancelaria do governo de facto Mario Fortín afirmara que a missão brasileira poderia ser invadida por dar proteção a Zelaya. "A inviolabilidade de uma sede diplomática não se aplica para a proteção de foragidos da Justiça", disse.
Mas, pouco depois, o presidente de facto Roberto Micheletti garantiu que seu governo respeitaria a imunidade diplomática da representação brasileira: "Se Zelaya quiser viver ali por 5 ou 10 anos, não temos nenhum inconveniente." Em seguida, Micheletti pediu que o Brasil "entenda que ou dá asilo político (a Zelaya) ou o entrega às autoridades hondurenhas". Na segunda-feira, o governo de facto suspendeu os voos nos quatro aeroportos internacionais de Honduras por "motivos de segurança" e para não permitir a chegada do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza. O governo afirmou que poderia decretar estado de sítio.
Zelaya foi expulso de Honduras por militares em 28 de junho. Tentou voltar ao país em duas ocasiões - uma pela fronteira com a Nicarágua e outra em um avião venezuelano. Até agora, ele não esclareceu como chegou à embaixada brasileira em Tegucigalpa. Segundo o próprio Zelaya, sua viagem "durou 15 horas" e ele teve de mudar de meios de transporte várias vezes. O presidente de El Salvador, Mauricio Funes, disse que Zelaya esteve em seu país no domingo à noite.
Micheletti quer deixar a situação como está até as eleições presidenciais de novembro. Mas muitos países dizem que não reconhecerão o resultado se Zelaya não for restituído. Ontem, alguns candidatos se ofereceram para mediar o diálogo entre Micheletti e Zelaya.
Ainda ontem, a Câmara e Senado brasileiros aprovaram uma moção de repúdio "às agressões ao Brasil" por parte do governo de facto.
O Estado de S. Paulo
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