O último painel de debate no 21º Festival do Turismo de Gramado “Guerra Tarifária estimulando a competitividade” serviu para uma coisa: deixar no ar dúvidas ainda maiores sobre a futura liberação das tarifas aéreas, prevista para 23 de abril do próximo ano. De um lado, a presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, Solange Vieira que é a favor da desregulamentação das tarifas e, de outro, o presidente do Snea – Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, José Márcio Monsão Mollo que vê com isso sérios riscos à sobrevivência das companhias aéreas brasileiras. O Snea é a entidade máxima representativa das empresas aéreas que operam no Brasil.
Mollo, que abriu o painel, apresentou dados alarmantes, mas já de conhecimento de quem trabalha no setor: “As empresas aéreas brasileiras comprometem cerca de 32% de sua receita bruta com a carta tributária, contra 26% das concorrentes do Reino Unido, e 23% para as companhias aéreas americanas,”, esses números, logo de cara, segundo Mollo, colocam em condições totalmente desiguais no mercado aéreo as companhias brasileiras. “Além disso, continuou ele, nosso país é responsável apenas por 1,4% do mercado mundial de aviação. Essa pequena escala aumenta os custos para a aquisição de aeronaves, peças de reposição e negociações de seguros”, disse.
Segundo o presidente do Snea, a esses fatores se somam a deficiente infra-estrutura do setor aeronáutico e aeroportuário do Brasil que não se adequou ao crescimento elevado da demanda, o que aumenta os custos das empresas aéreas brasileiras. “Os custos das operações financeiras para as empresas nacionais são mais altos devido às condições do mercado nacional, principalmente as altas taxas de juros”, disse depois ao DT. “O mercado brasileiro tem uma importância marginal para as grandes companhias aéreas internacionais que possuem lastro suficiente para impor o preço que querem aqui, inviabilizando a atuação das aéreas nacionais”, complementou.
“Se houver liberdade tarifária, como as empresas estrangeiras são mais fortes, com mais disponibilidade de aviões, créditos, e custos menores, em um primeiro momento os usuários ficarão muito satisfeitos com a queda dos preços. Mas em um segundo momento, a empresa brasileira será eliminada no mercado internacional, porque não conseguirá competir”, falou ao Diário.
Para a presidente da Anac, Solange Vieira, a liberação de tarifas é uma ação que cumpre a determinação da lei e que representará um benefício aos passageiros, estimulando a competição entre as companhias. Solange apresentou vários quadros mostrando a diferença de mercado entre os Estados Unidos e o Brasil, e aproveitou para defender a liberação tarifária: “Nos Estados Unidos as companhias aéreas tiveram lucros de 18 bilhões de dólares no último ano a partir da flexibilização”, contabilizou. Segundo ela, as empresas aéreas latinoamericanas também tiveram um crescimento de volume de passageiros em 2008, significativo, o que justifica a liberação tarifária. “O grupo Gol e o grupo TAM tiveram, respectivamente, 37,2% e 18,8% de crescimento no volume de passageiros após a flexibilização”, disse.
“Nossa expectativa é que as companhias brasileiras cresçam de tamanho, e novas aéreas possam se beneficiar com isso”, disse Solange Vieira em entrevista ao DT. Ao ser questionada sobre a infraestrutura falou: “Acho que não podemos inibir um setor que está gerando resultados tão positivos, como é o de aviação. Temos que ir nos adaptando”, contemporizou.
Diário do Turismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário