Uma notícia divulgada em setembro pelo jornal O Estado de São Paulo deixou o publisher da publicação especializada Aviação em Revista, Claúdio Magnavita, com uma pulga atrás da orelha. O Estadão dizia:
- A empreiteira Odebrecht terá uma fatia bem maior do que o imaginado nos 6,7 bilhões que serão desembolsados pelo Ministério da Defesa para equipar a Marinha. Isso porque, além de ter sido escolhida - sem licitação - para construir uma base naval e um esteleiro, a companhia também será parceira do estaleiro francês DNCS na fabricação das embarcações.
O jornalista da Aviação em Revista comentou:
- O incrível desempenho dos franceses na venda dos submarinos e prossivelmente dos aviões de caça ao governo brasileiro merece a colocação de uma lupa, por ter agregado a esta equação um novo personagem que deverá ficar com um bom quinhão do contrato. Surge a construtora Norberto Odebrecht como sócia milionária da operação, atuando nos bastidores da negociação e fornecendo um lastro de relacionamento com a classe política que permeia todas as correntes político-partidárias.
Magnavita acrescentou:
- Trata-se do maior negócio no setor defesa realizado no planeta nos últimos tempos. São 20 bilhões de reais sem contar com os eventuais (e comuns) aditivos futuros. Envolve dois governos democráticos, o do Brasil e o da França, e, de repente, no meio da assinatura do contrato, surge a empreiteira, que vai trazer uma parte deste quinhão para a iniciativa privada. Aceitar como normal esta mistura de público e privado sem que haja licitação, concorrência, e que se esclareçam os caminhos que o capital bilionário oriundo dos cofres públicos tomará, é desafiar a inteligência e o bom senso de qualquer cidadão com um mínimo de instrução. Tudo isso no apagar das luzes de um governo e tendo como interlocutor o ministro da Defesa, Nélson Jobim, que trouxe esta negociação para o seu colo, inclusive com constantes idas e vindas à França.
Já o diretor internacional de Desenvolvimento de Negócios da Boeing, Michael Coggins, disse à Folha de S. Paulo que os franceses fazem "marketing do medo" contra os EUA quando sugerem que a Boeing não irá transferir a tecnologia do Super Hornet F-18 para o Brasil, caso o caça americano venha a ser o escolhido. Coggins disse que o avião americano é 40% mais barato que o Rafale francês e que o Congresso do seu país aprovou a transferência de tecnologia para o Brasil. O executivo da Boeing pegou pesado:
- É frustrante ver o ministro da Defesa da França e seu 'chapinha' da Marinha falarem isso. É intelectualmemente desonesto vir com uma declaração dessas. Só pode ser porque têm um produto 40% mais caro e com um horrendo histórico de manutenção dos aviões [Mirage) no Brasil. Além disso, a transferência de tecnologia que sugerem não empolga ninguém na indústria brasileira. (...) Os franceses estão montados em um cavalo sem pernas. Acredito que os franceses não têm credibilidade. Ou inflacionaram o valor inicial ou vão operar com perda. E fazer isso é uma idéia muito, muito ruim.
A Boeing já se comprometeu a transferir a tecnologia do F-18 para a FAB. A fabricante de aviões sueca Saab ofereceu ao Brasil ampla participação no desenvolvimento do caça Gripen. O F-18 e o Gripen são mais baratos que o Rafale. Mesmo assim, o Brasil bate pé e insiste no negócio com os franceses. O acordou chegou a ser anunciado, precipitadamente, pelo presidente Lula no dia 7 de setembro (ato falho?), causando a indignação dos concorrentes norte-americanos e suecos - o que obrigou o ministro Jobim a entrar em cena e colocar panos quentes na polêmica. Ganhou-se um tempo, até a poeira baixar, mas o interesse pelos caças franceses não diminuiu. Por que, afinal, o Brasil quer tanto o Rafale - um projeto velho (atualizado), pouco testado em combates verdadeiros, e que a França até hoje não conseguiu vender para ninguém?
Vou repetir o que escrevi aqui outro dia: é bom ficar de olho neste negócio de bilhões de dólares.
Irineu Guarnier Filho
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