O contrato brasileiro será determinante para a Dassault, que mais do que nunca depende do Estado
A Dassault realmente precisa vender aviões de combate para exportação? A pergunta se coloca depois da decisão do Estado de compensar a ausência de vendas no estrangeiro por uma aceleração de seu programa de compras de Rafales. Ao confirmar a aquisição suplementar de 11 aeronaves de combate até 2013, no valor de 800 milhões de euros, o Ministério da Defesa apenas aplicou os dispositivos previstos na Lei de Programação Militar (LPM) no período 2009-2014, votada há dois anos.
Na época, todos estavam convencidos de que um contrato com o Brasil ou os Emirados Árabes Unidos seria assinado rapidamente, seguido por primeiras entregas que permitiriam adiar a única encomenda do Rafale até hoje, a da França. Prudente, porém, a fabricante de aviões obteria como garantia a de produzir, de qualquer modo, um avião por mês, o mínimo segundo ela para manter suas instalações industriais e seus preços.
Se essa garantia alivia a Dassault, penalizará outras indústrias, pois cai no pior momento deste período de cortes orçamentários. Esses 800 milhões de euros serão acrescentados aos 3,6 bilhões de créditos orçamentários suprimidos em três anos. E o que será na sequência, se nenhum contrato for assinado rapidamente? Pois esse programa de 286 aviões no horizonte de 2021 realizado pela GIE Rafale (Dassault, Thales, Snecma) pesa muito: 40,69 bilhões de euros (142 milhões por aparelho) financiados em 75% por fundos públicos.
Se a Dassault não assinar nenhum acordo, 2010 será seu décimo ano sem contratos no estrangeiro. Os últimos compradores de Mirages 2000 foram a Índia e a Grécia. Apesar de seus desempenho reconhecido, o Rafale não consegue se vender. As explicações dadas pelo fabricante para os contratos perdidos são múltiplas, mas não envolvem jamais o aparelho.
O principal motivo se refere aos mercados visados, que são muitas vezes "territórios de caça" americanos, impossíveis de penetrar, como foi o caso dos Países Baixos em 2001, da Coreia do Sul em 2002 ou de Cingapura em 2005. No caso do contrato com o Marrocos em 2007, derrubado pelos americanos quando o mercado era considerado vencedor, o fracasso é atribuído à desorganização dos serviços do Estado.
O fabricante evoca outro obstáculo: a aplicação da convenção da OCDE, assinada pela França em 2000, que proíbe as comissões. Sem questionar o princípio, ele observa que os concorrentes estrangeiros não têm a mesma obrigação.
Mas se a venda de um avião de combate mobiliza toda uma cadeia de atores, dos políticos aos construtores, é a falta de impulso que vem da chefia do Estado que foi criticada. Desde sua chegada ao poder em 2007, Nicolas Sarkozy estava decidido a se afastar de seu antecessor, Jacques Chirac, cuidando pessoalmente desse caso. Depois do fiasco do Marrocos, uma "sala de guerra" foi constituída no Eliseu para encontrar rapidamente um mercado. A Líbia foi um dos primeiros países abordados. Sem resultado até hoje.
Em 2008, os Emirados Árabes Unidos mostraram interesse pela aquisição de 63 Rafales, com uma condição: a França deveria receber os 60 Mirages 2000 quase novos da força aérea dos Emirados. Desde então as discussões se chocam com um nível de exigência elevado, referente ao fornecimento de um motor mais possante e à instalação de um radar muito sofisticado. As negociações não seriam retomadas depois do Ramadã. Elas são impedidas pelo custo de centenas de milhões que o Estado francês teria de suportar ao retomar os Mirages e modernizar os Rafales.
Pelo lado francês, outro motivo é dado para explicar as tensões com os Emirados. A irritação teria ocorrido depois da publicação em 26 de junho no jornal "Le Figaro", de Serge Dassault, de um artigo evocando a compra de material de segurança israelense pelos Emirados. Outro suposto grão de areia foi uma entrevista dada pelo general de divisão aérea Alain Silvy a um número especial da revista "Défense & Sécurité Internationale" em agosto. Nela, o militar cita em detalhes a negociação, mas sem revelar segredos.
Quanto ao contrato com o Brasil, dado por consumado há um ano para 36 Rafales, o caso se arrasta. A resposta virá até dezembro, pois Lula deve decidir antes de sua partida da Presidência brasileira, em janeiro, sobre a abertura ou não de negociações exclusivas com os franceses.
"Foi Nicolas Sarkozy quem vendeu o Rafale", afirmou o patrão da Dassault Aviation, Charles Edelstenne, em setembro de 2009, deixando entender que a bola estava no campo dos políticos.
Os outros mercados são raros. Se a Suíça decidiu adiar uma licitação por motivos orçamentários, restam ainda o Kuwait e a Índia, mas a concorrência se anuncia severa. Daí a importância para a Dassault, nesse contexto, de manter suas vendas na França.
Enquanto isso, caso se limite ao mercado nacional, a fabricante de aviões corre o risco de não entrar na corrida para a futura geração de aviões de combate sem piloto. Seria um grave revés para um grupo cujos aviões (Mirage, Jaguar, AlphaJet) foram amplamente exportados no passado, assim como seus aviões comerciais hoje.
A prioridade é portanto contar com cooperações europeias, tirando lições dos erros dos anos 80. À falta de entendimento sobre um programa comum e sobretudo sobre o grupo mestre-de-obras, dois aviões de combate fazem concorrência: o Rafale e o Eurofighter, ao qual se acrescenta o Gripen sueco. Para grande satisfação dos americanos.alide
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