Um eventual recurso a "truques baixos" por parte da administração da Portugália Airlines, nas negociações sobre o acordo de empresa, será o mote para uma queixa em Bruxelas, afiança a Associação dos Pilotos da Star Alliance. A estrutura promete dar aos pilotos da PGA, em greve desde quinta-feira, "todo o apoio que estes solicitarem".
"Se a administração não estiver de boa-fé e recorrer a truques baixos, então avançaremos para uma queixa". A garantia é deixada pelo secretário-geral da Associação dos Pilotos da Star Alliance, um conglomerado de transportadoras aéreas que inclui a portuguesa TAP, detentora da Portugália Airlines. Em declarações à agência Lusa, Bob Arnesen, piloto da Scandinavian Airlines, descreveu a ausência de um acordo de empresa como um abuso.
"Quando numa grande companhia como a TAP, que detém a Portugália, um grupo de pilotos tem acordo de empresa e outro não, porque a empresa não permite que se organizem, compreendo como é que estes últimos ficam furiosos", afirmou o sindicalista sueco.
Na quinta-feira, o primeiro de dez dias de greve convocados pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), o presidente executivo da TAP dizia ter perdido "toda a paciência" para com os profissionais da PGA, que acusou de estarem a "ultrapassar todos os limites". Entrevistado pela agência Lusa, Fernando Pinto admitia mesmo deixar cair a Portugália, apoiando-se numa estimativa de prejuízos da greve na ordem de um milhão de euros.
Para o secretário-geral da Associação dos Pilotos da Star Alliance, as palavras de Fernando Pinto poderão ser parte de uma "táctica para amedrontar".
"Não sei até que ponto está a falar a sério ou apenas a fazer uma declaração bombástica à imprensa. É muito difícil reagir a isso quando não vejo todas as cartas sobre a mesa. Se calhar, é uma táctica para amedrontar, mas não sei", afirmou o piloto sueco, para quem as transportadoras "que não têm acordo de empresa", que não oferecem a "possibilidade de discutir condições com o empregador e obter melhorais acima das limitações mínimas", são agentes de abusos sobre os profissionais. "Fáça-os trabalhar mais com menos remuneração", concluiu.
Pilotos querem novas regras operacionais
A ausência de um acordo de empresa e de um documento técnico sobre regras operacionais é uma das principais queixas do SPAC. Os pilotos denunciam o fato de a PGA ser a única transportadora da Star Alliance a operar na União Europeia que não dispõe daquele mecanismo de protecção laboral. Uma reivindicação apoiada por Bob Arnesen: "Todas as companhias aéreas da Star Alliance na Europa têm um acordo colectivo de empresa".
Mas a posição dos pilotos não colhe um apoio unânime entre a força de trabalho da empresa. Na antecâmara da greve, um grupo de trabalhadores de terra da Portugália Airlines remeteu uma carta à administração da empresa para contestar a estratégia de luta dos pilotos: "Face às condições excepcionalmente adversas que a indústria do transporte aéreo atravessa, e estando ainda bem presente o contínuo esforço de recuperação e melhoria que temos vindo a efectuar depois da compra da PGA pelo grupo TAP, o tempo e a forma de luta escolhida não poderiam ser menos adequados, pois põem em causa o trabalho de todos nós".
Regras operacionais "são declaradamente excessivas"
O SPAC opta por guardar o balanço da paralisação para o meio ou o final da acção de protesto. A TAP fixou os números do primeiro dia da greve em nove voos cancelados e 49 efectuados.
Em entrevista à RTPN, Jaime Prieto, do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, insistiu este sábado na necessidade de gizar o mais rapidamente possível um acordo de empresa na PGA, uma "prática comum da indústria aeronáutica".
"A necessidade da criação dos acordos de empresa, nomeadamente na indústria aeronáutica, é para estabelecer normas de operação, normas racionais da utilização do trabalho e do serviço dos pilotos", sustentou o dirigente sindical.
"Nesta altura a Portugália tem um regulamento interno com um valor vinculativo relativo e uma abrangência muito limitada. Queríamos então criar um acordo de empresa que englobasse vários fatores negociais, entre eles a utilização do tempo de trabalho dos pilotos", reiterou Jaime Prieto.
Sem acusar a administração da empresa de estar violando a legislação relativa aos tempos de voo, o responsável do SPAC recorreu a uma analogia para consubstanciar as reivindicações dos pilotos: "Se comprarmos um carro que dá 300 km/h e andarmos com o carro sempre a 300km/h, é claro que o período de vida do carro será sempre mais limitado do que se escolhermos uma velocidade um pouco mais baixa".
"Neste momento, dada a não existência de um documento técnico aliado a este acordo de empresa que está em negociação, os pilotos da Portugália continuam a ter regras de operação que são declaradamente excessivas", afirmou.
Os pilotos da PGA, garantiu Jaime Prieto, estão "abertos à negociação", mas não podem admitir que o presidente da TAP diga "ou isto ou nada".
Fonte:RTP
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