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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Boeing recorre a sua força na aviação comercial para o F-X2

A dois dias da entrega da proposta final para o processo de seleção de novos caças para a Força Aérea Brasileira, a Boeing decidiu usar sua força na aviação comercial como mais uma arma para vencer a concorrência.

A companhia americana termina hoje um programa de dois dias de reuniões com 150 fabricantes de componentes que poderão se tornar, segundo a direção da empresa manifestou ontem, fornecedores também da linha de aviões comerciais.

As oportunidades que a Boeing promete aos fornecedores brasileiros vão além dos caças, segundo o vice-presidente da área de defesa da Boeing, Bob Gower. "As compras da Boeing somam US$ 45 bilhões por ano e estamos aqui buscando fornecedores", disse.

No caso de o caça americano, o Super Hornet, ser escolhido, Gower aponta a possibilidade de a indústria brasileira fornecer peças da fuselagem e asas. Mas qualquer plano para montar o avião no Brasil depende do governo brasileiro, segundo ele.

Oito dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter anunciado o início das negociações com a francesa Dassault, a direção da Boeing montou uma forte operação para mostrar que ainda está no páreo.

Ontem a empresa publicou anúncio de página inteira em jornais, lembrando ser a principal fornecedora do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Nas reuniões de dois dias com 150 fornecedores busca ampliar o número de acordos, já fechados com 27 empresas. Para completar, o cônsul geral dos EUA em São Paulo, Thomas White também participou da entrevista convocada pela Boeing ontem para reforçar o apoio do governo americano.

Apesar da sinalização de Lula em favor do caça francês, o Ministério da Defesa havia divulgado, por meio de nota, na semana passada, que a concorrência não estava decidida e que as finalistas poderiam melhorar as ofertas. Além de Boeing e da Dassault, a sueca Saab participa da seleção.

Gower não quis antecipar a proposta que será apresentada ao governo na sexta-feira. "Não quero que meus concorrentes saibam", disse. Preço e risco estão no foco da estratégia dos americanos. Em relação aos riscos, a estratégia da companhia americana é criticar de um lado o Gripen, o avião da Saab, pelo fato de ser um projeto ainda em desenvolvimento, e por outro lembrar que até agora foi vitoriosa em todas as demais concorrências com o Rafale fora do país de origem do caça francês.

Gower disse ter sido surpreendido pelas declarações de Lula, no dia 7 de setembro. "Não esperávamos aquele anúncio", destacou. O executivo reconheceu o peso das declarações do governo, que indicou a transferência tecnológica como ponto importante na escolha da empresa que será a fornecedora do F-X2, o programa da FAB que prevê a compra de 36 caças.

Mas insistiu em esclarecer o que a Boeing entende por transferência tecnológica. "No sentido do que é preciso para a manutenção e up grade no futuro, atendemos todos os requisitos da FAB; mas não queremos criar expectativas errôneas" , disse Gower. "Quando ouço alguma empresa dizer que dará acesso tecnológico irrestrito não sei o que isso significa". "Será que alguém pretende revelar o conteúdo de um chip que está dentro de alguma caixa e que foi produzido por um fornecedor de tecnologia de informação?", questionou.

A Boeing também confirmou colaboração para o desenvolvimento do cargueiro KC-390, da Embraer. Segundo Gower, as duas empresas estão trabalhando em conjunto. No caso, a tecnologia do C-17, avião da Boeing, seria aplicada no desenvolvimento do cargueiro da fabricante brasileira. O governo da França revelou a intenção de adquirir o KC-390.

Mas Gower reconheceu que política e estratégia terão grande peso na escolha final: "Numa aquisição que envolve uma arrecadação de impostos de valor tão elevado é justo entender que os políticos estão lá para representar os contribuintes", disse.

Valor Econômico

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