Proposta feita por grupo de empresas brasileiras para nacionalizar a produção do jato militar sueco pode reverter favoritismo do aparelho francês
Marcelo Cabral - Brasil Econômico
O resultado dessa negociação triangular seria a fabricação pela empresa e a compra pelo governo de um caça com elevado grau de nacionalização, que receberia até mesmo um nome nacional—Tupi, Senna e Silva estão entre as denominações sugeridas.
A Saab ainda analisa a proposta, vista como uma tentativa de reverter o favoritismo do modelo francês Rafale, fabricado pela Dassault.
Caso seja aceita, o anúncio oficial deverá ser feito esta semana, aproveitando a presença no Brasil do casal real sueco. A Embraer não se manifestou oficialmente sobre a proposta. "É compreensível a cautela. A FAB é cliente da Embraer, e a empresa não quer se indispor com a Força caso o aparelho escolhido seja outro", analisa Ozires Silva, ex-presidente da companhia. O aparelho vencedor deve ser revelado pelo governo nos próximos dias.
As empresas do comitê têm a visão de que a proposta sueca permite que a indústria brasileira consiga efetivamente dominar as tecnologias envolvidas no processo, ao contrário da transferência de tecnologia proposta pelos franceses e pelos americanos da Boeing, que produzem o F/A-18 Super Hornet, terceiro participante da concorrência. Isso porque atualmente existe apenas uma versão de demonstração do Gripen modelo NG voando. "Poderíamos desenvolver todas as etapas em conjunto", afirma a fonte representante do grupo.
Segundo ele, isso seria preferível do que comprar o avião francês ou americano com todos os sistemas já prontos. Para Ozires, "o importante é aprendermos a fabricação, porque daí o dinheiro investido retorna ao país mais cedo oumais tarde. Ao fazermos pura e simplesmente a compra lá fora esse dinheiro não volta nunca". Já os concorrentes veem a situação de modo diferente. Conforme diretores da Dassault já declararam, o fato do Gripen NG ainda não estar em serviço ativo representaria uma ameaça à viabilidade da operação. "Ninguém compra um avião que ainda não saiu da prancheta para valer", acredita uma fonte ligada ao projeto francês.
Seguindo o exemplo
O modelo proposto segue aquele que foi adotado pela Embraer no jato de ataque AMX, no início dos anos 1980. Na ocasião, a empresa nacional desenvolveu cerca de 30% da aeronave, em conjunto comas italianas Alenia e Aermacchi.Os conhecimentos acumulados com o processo foram responsáveis por um verdadeiro salto tecnológico na Embraer, que se capacitou para voos mais altos como o da sua família de E-jets—hoje, o coração dos negócios da empresa. "A ideia é seguir a mesma proposta, mas adotando um grau de nacionalização ainda maior", afirma um dos representantes da Saab no Brasil.
No caso do Gripen NG, esse percentual de nacionalização poderia chegar a 40% do desenvolvimento e a 80% da fabricação. No caso da venda ao mercado externo dos aparelhos fabricados no Brasil, haveria uma divisão. A Embraer ficaria responsável por uma parte dos países, notadamente na América Latina, onde já possui uma presença forte. Outras praças, especialmente na Europa, ficariam a cargo da companhia sueca, pois lá ela é vista como tendo alto potencial de entrada. O BRASIL ECONÔMICO também apurou que a Saab estuda oferecer ao governo a compra do KC-390 — o futuro cargueiro militar da Embraer—como parte de sua proposta, tal como foi já feito pela França. Os aviões substituiriam os idosos C-130 Hércules e Saab 340 na Flygvapnet, a Força Aérea sueca.
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