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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Avião mixuruca

Ao contrário do que todo mundo imaginava, o luxuoso Airbus A 319 que serve à presidência da República está sendo classificado pelo seu principal e único usuário como o novo sucatão. O presidente Lula se disse "humilhado" pelo fato de usar uma aeronave que não estaria à altura da majestática posição de chefe da Nação Brasileira. Sua principal queixa é a de que a autonomia de voo chega a "apenas" 12 horas, o que exige escalas de reabastecimento para viagens longas, sobretudo a capitais europeias mais distantes. O "Aerolula", até aqui amado pelo ocupante do poder, se transformou num estorvo. De uma hora para outra, o Luiz Inácio passou a defender a compra de um avião maior - um Airbus A 340 - nos moldes do completo Boeing usado pelo norte-americano Barack Obama. Não deixa de ser um complexo de inferioridade. O "AeroDilma", como Lula batizou-o, ao que tudo indica, deve ser adquirido mesmo pelo Estado ao custo de R$ 500 milhões, cinco vezes mais caro do que o atual. Já as más línguas, dentro da linha de quem desdenha quer comprar, dizem que Lula realmente deseja é que o "avião condenado" saia do circuito e fique à sua disposição para viagens internacionais. Cabe nos seus sonhos que, como ex-presidente, ele tem direito a isso. Em tempo: seu raciocínio decolou para além da lei.

Comparação

Nos Estados Unidos, em viagens especiais, os ex-presidentes utilizam-se de aeronaves da frota governamental. É o que acontece quando George W. Bush ou Bill Clinton, apenas para citar os dois últimos, possuem compromissos considerados de interesse do Estado. O Luiz Inácio imagina que o mesmo pode ocorrer no Brasil. Mas não pode.

O anterior

Se Lula reclama do que possui, pior era na época de Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente tucano, esse sim, deveria envergonhar-se quando precisava pedir autorização do controle aéreo do governo dos Estados Unidos para poder sobrevoar o território e pousar com o sucatão em Washington, visto que os barulhos produzidos pelos seus motores violam a legislação norte-americana. O vexame era tamanho que FHC se viu forçado, na última etapa de sua gestão, a fretar aviões da TAM, evidentemente que adaptados, para voos executivos.

O erro

A iniciativa de tentar comprar uma nova aeronave é inoportuna e injustificável. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que as finanças públicas não permitem o desperdício de recursos e, em segundo, o Airbus A 319 que hoje serve ao governo tem condições técnicas perfeitas, seu instrumental de voo é idêntico ao das aeronaves comerciais mais modernas, sua autonomia é de 12,5 mil quilômetros sem abastecimento - o que é razoável - e é luxuosamente decorado, com cama de casal, chuveiro, banheiro privativo e cozinha. Além disso, as instalações reservadas ao trabalho da comitiva presidencial são completas. O "Aerolula" não humilha ninguém, ao contrário, encheria de orgulho qualquer um, dos milionários sheiks árabes ao presidente dos Estados Unidos. O avião presidencial brasileiro não poder ser considerado, em nenhuma hipótese, uma coisa mixuruca.

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