Aparelho angolano 'bombardeou' cidade com peças. Companhia assume prejuízos
Quase a entrar para uma operação, Ana Ferreira, auxiliar de cirurgia no Hospital Veterinário Central de Almada, atendeu o telemóvel. Do outro lado da linha estava o seu irmão, pedindo-lhe que fosse à Rua Lourenço Pires de Távora, onde o seu carro estava estacionado. Alguma coisa caíra do céu, partindo por completo o vidro traseiro. Ana chegou, tirou uma fotografia ao pedaço de ferro e chamou a polícia, que isolou a viatura.
O carro foi um dos alvos de pedaços da fuselagem de um avião da TAAG (Transportadora Aérea Angolana) que tinha acabado de descolar de Lisboa. O problema técnico obrigou a aeronave com 125 passageiros a bordo a dar meia volta e regressar à pista do aeroporto da Portela. Pelo caminho, foi "bombardeando" a cidade de Almada com, ao que tudo indica, pedaços da fuselagem, desde pequenos até outros com tamanho considerável (ver foto).
Os bombeiros de Cacilhas e de Almada, de acordo com os respectivos comandantes ouvidos pelo DN, não tiverem registo de quaisquer pessoas atingidas. "Já fui confirmar ao Hospital Garcia de Orta e não há ninguém ferido", garantiu ao DN Vítor Santo, comandante dos Bombeiros de Almada. "Tivemos algumas chamadas, mas não há feridos", disse Luís Sousa, adjunto do comandante de Cacilhas.
Apesar da ausência de registos, certo é que o episódio causou muito "diz que disse" em Almada. Havia quem falasse em inúmeros carros atingidos e, pelo menos, três feridos. Em frente ao café Danúbio caiu um dos pedaços. Manuel Joaquim foi categórico: "Quando isso caiu, eu disse logo: é de avião. E, das duas uma, ou é da turbina ou do escape."
Mas quem irá determinar as causas do sucedido é o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA), que já está no terreno a investigar. Em declarações aos jornalistas, o director deste departamento do Ministério das Obras Públicas, Comunicações e Transportes, Fernando Reis, adiantou: "Será depois feita a análise de peritagens da parte da aeronave em causa - provavelmente todo o motor. Ainda não podemos afirmar nada, mas quando são peças assim pequenas normalmente são do motor."
"A investigação e o relatório não imputam responsabilidades em si", disse ainda o director do GPIAA, acrescentando que, numa fase posterior à apresentação do documento, compete ao Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) apurar responsabilidades.
Em declarações à TV Net, um dos passageiros que iam a bordo do avião da TAAG relatou ter ouvido barulho da parte de trás do avião. Hussein Juma afirmou que "40 a 45 minutos depois da descolagem sentiu-se uma vibração muito intensa" e depois o avião regressou a Lisboa. Ao início da tarde de ontem, a companhia angolana de aviação emitiu um comunicado, no qual garantiu que irá assumir as "eventuais consequências" da avaria técnica do Boeing 777.
Este tipo de incidentes não é comum mas há um caso recente: há cerca de um mês um Airbus 380 que partira de Singapura com destino a Sydney, na Austrália, perdeu pedaços de metal sobre a ilha indonésia de Batam.
dn portugal
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