PARA HOSPEDAGEM CLIQUE NA IMAGEM

PARA HOSPEDAGEM CLIQUE NA IMAGEM
PARA HOSPEDAGEM CLIQUE NA IMAGEM

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sorocaba mantém tradição de formar pilotos


As recentes crises aéreas que afetaram os aeroportos brasileiros apontam o que deve ser um dos grandes nós da aviação comercial nos próximos anos: a falta de tripulação formada e preparada para preencher as vagas e dar conta da demanda gerada pelo crescimento do transporte aéreo. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estima que seriam necessários mais de 100 novos pilotos ao ano, além dos que já atuam, para que o caos não se instale nas salas de embarque. Somente Sorocaba, com seu aeroclube, formou até novembro deste ano 59 destes profissionais, mas que representam apenas 30% do total de alunos que ingressam nas aulas. O alto custo da formação - no mínimo R$ 40 mil, em cursos particulares - acaba inibindo muita gente que tem o sonho de pilotar um avião.


Em Sorocaba foram formados 59 pilotos somente neste ano.


Mas números de quem desiste são bem maioresAs projeções da Anac levam em conta não somente o volume atual de tráfego aéreo no Brasil, mas eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, que devem aumentar em muito estes índices. Desde 2008, o transporte por avião cresceu 27% ao ano, enquanto o volume de licenças de novos pilotos, emitidas pelo órgão federal, caiu pela metade. Somente em 2010, segundo dados das quatro maiores companhias aéreas que atuam no País - Tam, Gol, Azul e Webjet - pelo menos 40 novos aviões passaram a fazer parte da frota aérea brasileira. Para conduzi-los seriam necessários, no mínimo, 200 novos profissionais - cinco para cada aeronave.

Porém, no mesmo período, a Anac emitiu 192 licenças para piloto de linha aérea. Essa demanda é sentida pelos que atuam no mercado, que lembram bem os tempos em que conseguir um espaço numa companhia aérea de porte era algo muito difícil. “Na época em que eu comecei, achei que levaria a vida inteira para arrumar um emprego. No auge da crise das companhias aéreas, todo mundo que estava bem acabou caindo. Hoje é o contrário: todo mundo está subindo na carreira”, contou o instrutor Rodrigo Moraes Toscano, de 29 anos, que atua na formação de novos pilotos no aeroclube e na aviação executiva.

Fundado na década de 40, o Aeroclube de Sorocaba continua atraindo alunos de todo o País por sua tradição e as boas condições climáticas da cidade, que favorecem o voo em períodos durante os quais, em outras regiões, é impossível dar andamento às aulas práticas. A média de 50 novas habilitações por ano se mantém: 59 este ano e 55 em 2009. Os números, que sozinhos já representam 50% do que a Anac considera ideal para suprir a demanda de mercado, poderiam ser ainda melhores se cerca de 70% dos ingressantes não desistissem no meio do curso.

Apesar da exigência de muito estudo e dedicação, a falta de dinheiro ainda é o principal motivo do abandono da formação. “Muita gente trabalha durante a semana para fazer os voos só no final de semana. Daí o tempo está ruim, as aulas não acontecem, e a formação atrasa. Muitos desistem porque não conseguem pagar. Infelizmente, só quem tem grana consegue voar”, admitiu Toscano. Segundo o instrutor, a Anac ensaiou alguns embriões de projetos de concessão de bolsa para formação de pilotos, porém ainda sem sucesso.

Quem persiste tem conseguido bons resultados. É o caso do piloto Marcelo Ferreira, de 40 anos, formado em Sorocaba, que em janeiro passa a fazer parte da tripulação da Gol. “Acreditei naquilo que ouvia desde 2004: vai faltar piloto”, contou ele, que atua como instrutor e examinador da Anac no aeroclube. Porém, a partir de 2011, sua dedicação será exclusiva à nova função. “Sempre quis ser piloto”. Seis anos depois de sua formação, diz que o alto investimento valeu a pena. “O desafio agora é me manter com esse emprego. O mercado está muito aberto e antigamente, para mim, chegar a uma companhia aérea já era algo impossível. Agora é aproveitar a intenção da empresa de transformar seus co-pilotos em comandantes”. Para isso, é necessário o acúmulo de cerca de 15 anos de trabalho na aviação comercial - incluindo treinamentos e atualizações profissionais.

Disciplina e investimento

Para ser piloto o candidato precisa, antes de tudo, passar por um rigoroso teste de saúde, que mede a acuidade visual, condições de audição e a existência de doenças - como aneurismas, epilepsia e até diabetes - que possam, de alguma forma, atrapalhar o desempenho do piloto à frente de uma aeronave. “Muita gente começa o curso teórico e depois vai fazer o teste de saúde e não passa”, conta Toscano. A atualização dessa avaliação será exigida do piloto - assim como acontece com os portadores de carteira de habilitação - durante toda sua vida profissional.

Depois desta etapa seguem-se um curso teórico, com duração de cerca de quatro meses, e um mínimo de 35 horas de voo para formação como piloto privado - tudo avaliado por meio de testes com instrutores credenciados pela Anac. Para seguir a formação e se tornar piloto comercial o aluno precisa passar por nova avaliação médica, novo curso teórico e acumular, no mínimo, 150 horas de voo. A formação total - que garante a capacitação de operar em taxi-aéreo, como piloto particular ou para concorrer a uma vaga numa empresa aérea comercial - não sai por menos de R$ 40 mil e dificilmente é completada antes de dois anos de estudo. “É um investimento como o de uma faculdade. Porém, hoje em dia, conseguimos ter o retorno deste dinheiro com nosso trabalho”, opinou o instrutor Toscano.

Não somente a demanda aumentou mas as exigências para conquistar uma vaga de co-piloto numa companhia aérea comercial - cargo que é colocado à disposição para novos contratados - também diminuíram. “Algumas não exigem sequer inglês fluente e aceitam, ao invés das 1500 horas de voo, cerca de 800. Mas o manual da aeronave é enorme, todo em inglês. Ou seja, quem sabe a língua, ou tem uma faculdade, é um diferencial”.

Mais mercado

Um dos motivos que também contribui para a falta de pilotos nas companhias aéreas é a opção, de muitos, pela atuação na área executiva. “Se ganha mais e se trabalha bem menos. Hoje, quem tem dinheiro está comprando avião”, falou Toscano. Porém, apesar das projeções positivas, o instrutor deixa claro que não dá para investir na carreira sem gostar. “É uma coisa que se tem paixão desde criança. Se não for assim, o aluno não consegue aguentar tanto estudo. (com Nataly Costa/Agência Estado).

jornal cruzeiro do sul

Nenhum comentário: