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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sem encomendas, Embraer estuda fechar fábrica na China



Pelos contratos em vigor, a Embraer tem serviço para manter a unidade funcionando apenas até a metade de 2011. Se não surgirem novos pedidos, a avaliação é que não faz sentido seguir montando aviões na China.

A decisão de manter ou não a fábrica no país asiático deve ser tomada até meados do ano que vem. Os próximos movimentos estratégicos para a nossa presença industrial na China devem ser definidos dentro de doze meses, diz o presidente da Embraer, Frederico Curado.

Segundo o executivo, o prejuízo para encerrar as operações não seria grande. A Embraer e sua parceira China Aviation Industry Corporation (Avic) aplicaram US$ 25 milhões no negócio. Apesar da brasileira possuir 51% da joint venture, a sócia chinesa construiu a maior parte da infraestrutura.
O maior contrato da Embraer na China é com a companhia aérea Hainan Airlines, no valor de US$ 2,7 bilhões, e apresenta vários problemas. O acerto previa a venda de 100 aviões: 50 ERJ 145, produzidos em Harbin, e 50 Embraer 190, feitos no Brasil. Em maio deste ano, a Hainan cortou pela metade a encomenda dos ERJ 145. Já os 50 aviões feitos no Brasil não estão conseguindo licenças de importação para entrar na China.
Com a eclosão da crise, a situação da Embraer na China se tornou delicada. A turbulência reduziu a demanda por aviões no país e tornou o governo local mais protecionista. Segundo fontes em Pequim, além de obrigar o setor aéreo chinês a reduzir a oferta de assentos por causa da crise, o governo pressiona as empresas a dar preferência aos aviões fabricados na China.
A decisão prejudicou as entregas dos aviões EMB 190, que começaram em 2008. Até hoje, foram exportadas apenas sete das 50 unidades. Desde o início do ano, o problema com as licenças de importação bloqueou as entregas. De uma perspectiva realista, 2009 já passou, estamos tentando liberar os jatos de 2010, disse Curado. Na visita a Pequim em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou resolver o caso, mas não conseguiu.

Segundo fontes no meio empresarial chinês, a Avic teria imposto à Embraer condições quase inaceitáveis para continuar a joint venture em Harbin. Uma das exigências seria a de levar para a China a produção de aviões da família 170/190, possibilidade que é descartada pela companhia brasileira.

Além de ter as entregas bloqueadas, a Embraer assistiu sua sócia chinesa se tornar parceira indireta da arquirrival Bombardier. O governo chinês fundiu as duas grandes fabricantes de aviões: Avic II, sócia da Embraer, e Avic I, que se preparava para colocar no mercado um avião concorrente da família 170/190, o ARJ 21.

Com a nova reunificação da Avics - no passado, as duas empresas formaram um gigante com 600 mil funcionários -, o projeto do ARJ 21 foi deslocado para um terceira companhia, a Commercial Aircraft Corporation of China (CACC), que também é controlada pelo governo chinês. Em novembro de 2008, a CACC firmou acordo de cooperação tecnológica com a Bombardier para produzir o ARJ 21.

Segundo um executivo da Embraer, para atuar na China, é preciso ter nervos de aço, por conta das mudanças que o governo faz nas regras do jogo. A Embraer chegou ao país em 2000 e vendeu, na época, 40 jatos. No ano seguinte, Pequim elevou as tarifas de importação de aviões. Para conquistar a boa vontade do governo, a companhia optou pela fabricação local por meio da joint venture.

Mesmo que decida fechar a fábrica em Harbin, a Embraer não vai abandonar o mercado chinês e espera continuar vendendo aviões depois que a crise passar. No entanto, a vantagem competitiva que a companhia tinha em relação aos concorrentes e novos entrantes - o fato de estar em plena produção com os aviões da família 170/190, enquanto os novos modelos da Bombardier e de fabricantes da China, Japão e Rússia estão em fase de desenvolvimento - começa a se perder.

Quando a crise passar, é provável que os jatos dos concorrentes tenham saído do papel ou estejam próximos disso. Os mais avançados são os russos, que prometem entregar os primeiros Sukhoi SuperJet 100 em dezembro. Já os primeiros ARJ 21, da Avic, devem ser entregues em 2011, enquanto o MRJ 90, da japonesa Mitsubishi, está previsto para entrar em operação em 2014.

Se as projeções da própria Embraer para os próximos 20 anos se concretizarem, os fabricantes disputarão um mercado de US$ 220 bilhões. A companhia brasileira prevê uma demanda global de 6.750 novos jatos de 30 a 120 lugares até 2028. Apenas a China deverá adquirir 875 jatos, ou 13% do mercado.
Fonte:
O Estado de São Paulo

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