RIO DE JANEIRO - Uma sequência de explosões, com a duração aproximada de 15 minutos, acordou e assustou, na noite de quinta-feira muitos moradores de bairros no entorno da Enseada de Botafogo. A queima de fogos, feita em uma balsa na Baía de Guanabara, era parte de uma festa realizada no Morro da Urca pela empresa TAM Linhas Aéreas. O horário autorizado pelas autoridades para a queima, porém, era até 23h, e os fogos estouraram por volta de 1h.
De acordo com a Direção Geral de Diversões Públicas (DGDP), órgão do Corpo de Bombeiros que controla e fiscaliza queimas de fogos no estado, a TAM Linhas Aéreas será notificada e, posteriormente, multada.
– A empresa foi devidamente autorizada para o show pirotécnico. Mas estava destacado no documento o horário a ser respeitado. Já entramos em contato com a TAM, que alegou atraso na programação da festa, o que não justifica o erro. A multa nesses casos pode chegar a 10 mil Ufir/RJ (aproximadamente R$ 22 mil) – afirmou o coronel bombeiro Roni Alberto Fernandes de Azevedo, diretor da DGDP.
Ao contrário do que disseram os moradores, a TAM Linhas Aéreas informou, através de comunicado, que a queima de fogos “teve duração de seis minutos e foi autorizada por autoridades municipais e estaduais do Rio de Janeiro”.
Segundo a empresa, a licença da prefeitura municipal foi publicada no dia 12 de maio no Diário Oficial. Na mesma nota, a companhia pediu desculpas “pelo desconforto causado a alguns moradores nas áreas próximas”. Segundo o comunicado, “o objetivo da TAM, ao escolher o Rio e o Morro da Urca para sediar um evento internacional, com a presença de executivos das maiores empresas aéreas do mundo e mais de cem jornalistas de vários países, foi exibir aos seus convidados, com orgulho, a Cidade Maravilhosa”.
Com uma imagem ligada ao estado de São Paulo, a TAM vem há tempos desenvolvendo estratégias de marketing para ganhar a simpatia do consumidor fluminense. Mas, a julgar pelas reclamações dos moradores de bairros como Botafogo, Flamengo, Urca e Largo do Machado, a ação de quinta-feira não foi muito feliz (leia texto na página ao lado).
Surpresa
O comandante do 2º BPM (Botafogo), tenente coronel Antônio Carlos Carballo Blanco, disse que seus homens ficaram surpresos com o barulho das explosões.
– Não esperávamos nada parecido. Nem o Batalhão e nem as associações de moradores da área foram comunicados de que ocorreria uma queima de fogos. Alguns policiais circularam pela região para saber as causas do barulho, já que o 190 não recebeu nenhum chamado sobre o fato.
Segundo os bombeiros, a queima estava autorizada até as 23h – e não 22h, como rege a lei do silêncio – porque partia de uma balsa a 300 metros da orla.
Na Urca, moradores saíram às ruas de pijama
– Pensei que estivessem bombardeando meu prédio. O chão tremia, os vidros das janelas pareciam que iam quebrar. Minha primeira reação foi pegar meu filho, de 5 anos, e ir para o lugar mais seguro da casa – o corredor – e me esconder – contou a professora, Érica Fadul, moradora da Rua Osório de Almeida, na Urca, a uma quadra do mar, onde estava a balsa de fogos.
A professora ficou impressionada com a barulheira, da madrugada de sexta-feira, e disse que achou que estava no Iraque.
Não só moradores da Urca se assustaram com a intensidade dos fogos da madrugada de sexta-feira. No Catete e em Botafogo, muita gente também acordou sobressaltada.
Moradora da Rua Pedro Américo, no Catete, Cibele Gurgel disse que quando viu um enorme clarão pensou que a polícia estava invadindo os morros da redondeza.
– Minha filha, de 16 anos, e eu ficamos apavoradas. Pensei que tivessem jogado uma bomba na comunidade, pois tive a impressão de ter visto um helicóptero sobrevoando a área.
Presidente da Associação de Moradores e Amigos de Botafogo, Regina Chiaradia recebeu um e-mail de morador assustado com o alvoroço.
– Ele perguntou se eu estava a par do que acontecia, pois sentiu o chão tremer e viu a preocupação dos vizinhos. Muita gente ficou assustada – disse Regina, que só se acalmou após ver, do alto de sua cobertura, na Praia de Botafogo, a queima de fogos no mar.
O estudante Igor Zuquim, morador da Rua Otávio Correa, também na Urca, acordou com o estrondo, que, segundo ele, era igual ao de tiros de canhão.
– Parecia a festa de Reveillón em Copacabana. Os fogos duraram mais de dez minutos – observou. – O estrondo era tão grande que até alarmes de alguns carros dispararam. Os vizinhos ficaram desesperados. Teve gente que saiu na rua de pijama para ver.
A terapeuta Márcia Luvizoto, moradora da Rua Almirante Gomes Pereira, disse que ligou para a cabine da PM e nem mesmo os guardas sabiam o que acontecia.
– Eles vieram de pronto, contudo, não sabiam informar o motivo do alvoroço – relatou.
A presidente da Associação de Moradores da Urca, Celinéia Paradela, explicou que entrou em contato com a assessoria do Morro da Urca, que colocou a responsabilidade na produtora do espetáculo, sob o argumento de que apenas cedeu o espaço, para o evento.
– Quero apurar responsabilidades. Na segunda-feira, haverá reunião para decidir se entraremos com uma denúncia no Ministério Público ou na Secretaria municipal de Meio Ambiente. É um absurdo, pois moradores ficaram assustados com suas casas tremendo e os vidros das janelas quase quebrando – frisou a presidente, que diz ter ouvido queixas de cerca de 150 pessoas do bairro.
O presidente da Associação de Moradores da Lauro Muller e Adjacências, Abílio Tozini, disse que enviará ofício à equipe de Meio Ambiente do Ministério Público para que haja punição ao responsável pela “balbúrdia”.
– Quero que sejam tomadas as providências cabíveis. É muita irresponsabilidade, pois a Urca é composta por um longo costão rochoso, onde os fogos deram a sensação de bombardeio. Sou a favor de festas, desde que haja aviso prévio.
jb online
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