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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os pilotos (e os comissários) sumiram




Mercado aquecido e escassez de mão de obra disponível provocam uma dança das cadeiras entre os profissionais das empresas aéreas.


RIO - A explosão da demanda no transporte aéreo no Brasil está gerando uma acirrada disputa entre as empresas por tripulação para seus novos voos, lançados quase semanalmente. Com o crescimento da necessidade de contratações, comissários, copilotos e comandantes entraram em uma verdadeira dança das cadeiras, migrando de uma companhia para outra em busca de melhores salários e benefícios.

Só no último mês, cerca de 60 comissários debandaram da Gol em direção à TAM, segundo o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). "As pessoas vão para a TAM, onde há possibilidade de fazer voos internacionais e obter melhores salários", afirma o presidente da entidade, Gelson Fochesato.

Desde o início do ano, a TAM admitiu 950 aeronautas, dos quais mais de 750 são comissários. Já a Gol contratou 183 copilotos e 501 comissários até agora, ante 43 e 59 em todo o ano passado, respectivamente.

As companhias de menor porte, que têm tomado mercado das duas líderes, também estão engordando os números de contratação no setor. A regional Trip planeja chegar ao fim do ano com 183 novos copilotos e comandantes, 60 a mais do que o total incorporado no ano passado. A Azul, a três meses do fim do ano, já repetiu as 43 admissões de comandantes de 2009. O número de copilotos que ingressaram na companhia cresceu de 69 para 78, e o de comissários saltou de 173 para 241.

Para o presidente da Azul, Pedro Janot, a disputa por profissionais é resultado não só do número cada vez maior de brasileiros que viajam de avião, mas também da maior concorrência no setor - acirrada, inclusive, pela criação da própria companhia. Fundada há menos de dois anos, hoje a Azul já detém 6% de participação no mercado. "De um mercado estático, em que havia duas companhias, estamos entrando em um mercado dinâmico", disse.

No chão

A migração de aeronautas entre companhias ficou evidente no fim do mês passado, quando quase metade dos voos da Webjet não pôde decolar por insuficiência de tripulantes. Um dos motivos foi a saída de pilotos da empresa - a quarta maior do País - para trabalhar na TAM e na Gol. "Isso acontece por conta dos salários pagos na Webjet. O mercado está aquecido, concorrentes estão pagando mais e oferecendo melhores condições de trabalho", disse a diretora do SNA, Graziella Baggio.

O vice-presidente de operações da companhia, Fernando Sporleder, atribuiu os cancelamentos do mês passado a um problema pontual: uma falha no simulador usado para treinar os pilotos. Diante do imprevisto, segundo o Estado apurou, a empresa não conseguiu formar funcionários recém-contratados no mesmo ritmo em que perdia pilotos para a concorrência. Sporleder afirma que a empresa não será atingida novamente pela falta de aeronautas. "Não vejo grandes problemas, pois estamos no topo da pirâmide", declarou, em meio à crise de imagem causada pelos cancelamentos em série. "Buscamos tripulantes nas companhias regionais, de táxi aéreo e de aviação executiva. Essa base é muito grande."

O executivo informou que a empresa já começou a se preparar para que não faltem tripulantes no ano que vem. "Estamos contratando mais uma turma de 20 copilotos, que começa no dia 18 de novembro, para atender ao crescimento esperado para o primeiro trimestre de 2011", disse Sporleder.

Já Leonard Grant, diretor de operações e treinamento da TAM, admite que o problema da migração de profissionais não é exclusividade das pequenas empresas. "Perdemos muitos copilotos eficientes este ano para outras empresas, que ofereceram promoções mais rápidas. Aqui, eles seriam promovidos a comandantes em dois anos. Na concorrência, a promessa é de que seriam promovidos em seis meses", afirmou. Segundo ele, a Azul foi o principal destino desses aeronautas.

A companhia aérea de David Neeleman também garimpou pilotos brasileiros que estavam em empresas estrangeiras. Muitos profissionais da Varig, Transbrasil e Vasp foram trabalhar no exterior quando essas companhias começaram a entrar em declínio. Desde o início do ano, a Azul repatriou 50 aeronautas. "Quem foi voar lá fora não saiu do País por aventura. Foi por falta de oportunidades aqui. Agora, temos a possibilidade de trazer pilotos altamente experientes de volta para casa", disse o vice-presidente técnico operacional da companhia, Miguel Dau.

Disputa

Parte da disputa pesada pelos profissionais pode ser explicada pela rápida mudança no cenário econômico do País. A crise financeira internacional forçou as empresas a diminuir o ritmo das contratações. "O número de admissões do segundo semestre de 2008 até o fim de 2009 foi muito baixo", diz Leonard Grant, da TAM. "Ao mesmo tempo, como o tripulante é um funcionário caro, a tendência é trabalhar sem excessos", complementou.

Com os quadros enxutos e em meio à retomada da economia neste ano, as empresas tiveram de dar início a uma caça aos profissionais já treinados e prontos para trabalhar. "Com a volta do crescimento do setor, as empresas aéreas passaram a receber novas aeronaves ou a aumentar a utilização dos aviões que já possuíam", diz Grant.

O outro lado

Se para as empresas do setor a expansão do mercado doméstico de aviação traz o revés da disputa por mão de obra qualificada, para os profissionais recém-formados, claro, o cenário não poderia ser melhor. Esse é o caso do comissário Demitrius de Morais, chamado pela TAM para uma entrevista apenas cinco dias após cadastrar o currículo no site da empresa.

"Não esperava que fosse tão rápido", comentou o profissional, que foi contratado em maio. Esse é seu primeiro emprego como comissário. Antes de começar a voar, no início do mês passado, Morais passou por um período de treinamento dentro da TAM.

estadão

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