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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Reclamação francesa

Em Paris, diretor de órgão que coordena investigações sobre o acidente se queixa de que legista foi barrado no IML de Recife

O diretor do escritório francês de investigação e análises de acidentes aéreos, o BEA, Paul-Louis Arslanian, reclamou ontem, em entrevista coletiva, que um médico legista da equipe do órgão, enviado a Recife, foi barrado nas salas de autópsias do Instituto de Medicina Legal da capital pernambucana, na semana passada, durante os exames nos corpos das vítimas da queda do voo AF-447, da Air France. De acordo com Arslanian, o especialista é um dos mais experientes do órgão e participou dos exames realizados em Nova York nas vítimas do acidente com um avião da TWA, em julho de 1996. O legista já voltou para a França.

Arslanian também sustentou que, até agora, o BEA não recebeu qualquer informação dos exames realizados nos corpos retirados do mar pelas autoridades brasileiras. Ele observou que os dados das autópsias podem fazer avançar a investigação. O diretor do BEA alertou para a importância das investigações técnica (que visa evitar que um novo acidente semelhante aconteça) e judicial (que procura os culpados pela tragédia). Um relatório preliminar do BEA está previsto para o fim deste mês.

O órgão é o único na França que realiza as investigações técnicas para determinar causas de acidentes em aviões. De acordo com Arslanian, o trabalho acontece com base nos cerca de 400 destroços recolhidos e nas mensagens automáticas enviadas pela aeronave, na noite do acidente, em 31 de maio.

Sem credencial
A Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco informou, por meio de uma nota oficial assinada com a Polícia Federal, que quatro peritos franceses trabalham nas salas de autópsias do IML, acompanhando o trabalho dos colegas brasileiros. A nota, de apenas dois parágrafos, é seca: “A participação de qualquer autoridade francesa nos trabalhos realizados pelo IML deverá ser feita pelas vias diplomáticas necessárias, isto é, junto à Embaixada francesa e a Polícia Federal”, explica o texto. A nota destaca que quatro peritos franceses “credenciados” participam dos trabalhos “na condição de observadores” desde 10 de junho, uma vez que “a França é responsável pela investigação das causas do acidente”. O legista que teria sido barrado não possuía essas credenciais, segundo os dois órgãos.
Liberação dos corpos próxima

Pouco antes que a Aeronática e a Marinha anunciassem, ontem, às 18h, o recolhimento de uma “quantidade expressiva” de destroços e despojos (fragmentos de corpos) no Oceano Atlântico, uma reunião a portas fechadas no Instituto de Medicina Legal de Recife começou a definir os primeiros passos para a liberação e o posterior transporte dos cadáveres ao local de origem das vítimas. Estiveram nesse encontro representantes da Air France, do IML, da Polícia Federal, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Receita Federal e da Infraero.

A PF continua afirmando, entretanto, que não há prazo para finalizar a identificação dos 49 corpos que já chegaram ao instituto. A Aeronáutica e a Marinha também informaram que não há data para terminar a operação com o Airbus A330-200 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico, em 31 de maio.

De acordo com uma fonte que pediu para não ser identificada, a reunião foi sobre questões técnicas da Anvisa sobre a liberação e o transporte interestadual e internacional dos corpos. O serviço da agência é de preparo (embalsamento) e acondicionamento adequado dos restos mortais humanos, a fim de evitar exposição de pessoas a fatores de risco durante o translado. À Receita Federal cabe o último passo, antes do embarque do corpo.

De posse dos documentos da Polícia Federal e da Anvisa, o desembaraço do transporte, no aeroporto, é feito. No caso de a vítima ter origem estrangeira, é feita a repatriação do cadáver. A fonte também comentou que um corpo teria sido identificado como o de um brasileiro, do Rio de Janeiro. O nome da vítima, porém, não foi divulgado.

Ontem, o navio-anfíbio Mistral, da Marinha francesa, recolheu mais destroços e despojos, a 950km de Fernando de Noronha. A corveta Caboclo, da Marinha do Brasil, também transporta uma “quantidade expressiva” de destroços e bagagens, em direção a Recife. A embarcação tem previsão de chegar ao porto da cidade amanhã, pela manhã. “O material será transmitido para os representantes da comissão de investigação francesa”, afirmou o tenente-brigadeiro do ar Henry Munhoz. O material a bordo do Mistral, segundo o militar, ainda não tem data para chegar a Fernando de Noronha.

O capitão-de-fragata Giucemar Tabosa, do Centro de Comunicação Social da Marinha, lembrou que ainda há um corpo a bordo do navio-tanque Almirante Gastão Motta. “Não existe previsão de chegada desse cadáver a Fernando de Noronha. E é possível que os despojos do navio-anfíbio Mistral sejam transferidos para esse navio-tanque”, comentou Tabosa.


JUSTIÇA DO RIO DÁ INDENIZAÇÃO
Mesmo sem qualquer definição sobre os pagamentos de indenizações da Air France a familiares das vítimas do voo AF-447, a Justiça do Rio concedeu ontem a primeira compensação a parentes de uma vítima do acidente aéreo. A família do passageiro Walter Nascimento Carrilho Júnior, segundo a decisão, deve receber 30 salários mínimos — cerca de R$ 14 mil — por mês, durante 24 meses, mais um seguro de R$ 50 mil.
Correio Braziliense

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