- Daqui a pouco vou receber (os caças) de graça - disse Lula rapidamente, enquanto aguardava o presidente de El Salvador, Mauricio Funes, no Palácio do Itamaraty.
" Daqui a pouco vou receber (os caças) de graça "
Em nota divulgada nesta quarta-feira, a embaixada americana diz entender que o governo brasileiro ainda não tomou uma decisão final sobre a concorrência dos caças FX-2, mesmo após a sinalização do presidente Lula de que fecharia negócio com a França, e afirma que a proposta americana é forte.
Ainda segundo o comunicado da embaixada, o Congresso americano concluiu a análise da proposta de venda no último dia 5, sem nenhuma objeção. Prossegue a nota dizendo que "isso significa que a aprovação do Governo dos Estados Unidos para transferir ao Brasil as tecnologias avançadas associadas ao F/A-18 Super Hornet é definitiva."
" Nosso governo aprovou a transferência de toda a tecnologia necessária. Continuamos a acreditar que a nossa proposta é forte e competitiva "
Além do F/A18 Super Hornet, da americana Boeing, disputam a licitação o Gripen, da sueca Saab, e o Rafale, da empresa francesa Dassault, com quem o governo brasileiro já abriu negociações. O negócio pode chegar a US$ 4 bilhões.
O governo americano tem um trunfo para falar grosso e se manter no páreo. A Embraer, destinatária de boa parte do esforço do governo brasileiro neste negócio, está em negociação sigilosa para a venda de cem aviões Super Tucanos para as Forças Armadas americanas, segundo revelou ao GLOBO uma fonte que acompanha os entendimentos entre as duas partes. Não há vínculo direto entre os dois negócios, mas a venda da Embraer pode ficar mais difícil se a Boeing for prontamente descartada na licitação da FAB.
As autoridades americanas sustentam que o pacote de compensações da Boeing para investimento na indústria aeroespacial brasileira "vai transferir tecnologia relativa ao design militar e à produção, fornecer autonomia em áreas-chave para suporte do programa e desenvolver uma ampla indústria aeroespacial no país que vai além de aeronaves de combate". A Boeing estaria disposta até a fazer parceria com a Embraer no projeto do KC- 390, novo avião de carga da empresa brasileira.
- A oferta inclui o KC 390. Uma parceria para o desenvolvimento desse projeto - afirmou uma diplomata americana.
A sueca Saab também deve fazer nova proposta. Segundo a embaixada da Suécia, a empresa está fazendo uma análise das mudanças para oferecer vantagens adicionais.
A transferência de tecnologia era o principal argumento do governo brasileiro para negociar com os franceses a compra de 36 caças Rafale. Na segunda-feira, Lula, ao lado do presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciou a abertura da negociação, antes mesmo de receber o relatório da Força Aérea Brasileira (FAB) sobre as propostas dos três concorrentes que disputam o negócio milionário.
Jobim: Decisão até o fim do ano
Diante da pressão, o governo brasileiro, que já manifestou interesse pela oferta da Dassault, anunciou que o processo para a compra dos caças está aberto.
- Esse assunto será encerrado até o fim do ano - disse o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que na terça-feira, em nota, ratificou o interesse pela oferta da Dassault.
" Queremos saber se não vamos sofrer restrição como sofremos na venda dos Super Tucanos "
Fontes diplomáticas manifestaram reservas à proposta americana. O argumento é que há histórico de problemas de transferência de tecnologia com os EUA. O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que, diferentemente da França, os Estados Unidos não têm "bons antecedentes" nas negociações com o Brasil nas questões de defesa.
Marco Aurélio disse que as boas relações com a França se refletiram no acordo que permitirá a construção no Brasil de cinco submarinos - um de propulsão nuclear - e 50 helicópteros de transporte militar, todos de tecnologia francesa. Em relação aos EUA, lembrou o episódio da venda para a Venezuela de aviões Super Tucanos, fabricados pela Embraer, em 2006. Os EUA vetaram a negociação brasileira, porque os aviões têm componentes americanos.
- Queremos saber se não vamos sofrer restrição como sofremos na venda dos Super Tucanos. Este antecedente não é bom e diplomatas americanos reconheceram inclusive que não foi um bom antecedente - afirmou o assessor, citando Jobim.
'Queremos saber se há garantias efetivas'
Na defesa da posição francesa, o assessor disse que, no caso do acordo sobre helicópteros e submarinos, além da transferência de tecnologia e da construção dos equipamentos no Brasil, o país terá reserva de mercado dos helicópteros na América Latina e na África.
- Ele (Jobim), como brilhante advogado, trabalhava com antecedentes. Os antecedentes com outros parceiros não eram bons, e com a França no caso dos submarinos e dos helicópteros é bom.
Para Marco Aurélio, a disposição dos Estados Unidos de transferir tecnologia é genérica, e pede garantias efetivas:
- Transferência de tecnologia é um termo geral; nós queremos saber se há garantias efetivas de transferência.
Jobim participará de reunião extraordinária da Comissão de Relações Exteriores do Senado na próxima quarta-feira, às 10h, para tratar exclusivamente da negociação sobre a compra de 36 caças franceses. O acerto da reunião foi feito na manhã desta quarta-feira pelo presidente da comissão, Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e o próprio ministro. Segundo Azeredo, Jobim reafirmou que o processo de compra está aberto a todas as empresas credenciadas.
General nega que Brasil participe de corrida armamentista
Já o chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, general Augusto Heleno, negou que o país esteja envolvido em uma suposta corrida armamentista na América do Sul, conforme chegou a destacar a imprensa estrangeira .
- Não participamos de nenhuma corrida armamentista. O que se busca é uma expressão de poder militar compatível com a expressão estratégica do país - disse Heleno durante audiência pública promovida nesta quarta-feira pela Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT).
Em sua exposição aos senadores, o general disse que o Brasil tem se tornado cada vez mais relevante no cenário internacional. Ele observou que apenas quatro países - Rússia, Estados Unidos, China e o próprio Brasil - contam, ao mesmo tempo, com área superior a quatro milhões de quilômetros quadrados, população superior a 100 milhões de habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) maior que US$ 400 bilhões.
A expressão do poder militar do país, recordou Heleno, está ligada a seu poder tecnológico. A partir da II Guerra Mundial, observou, a capacidade científica e tecnológica de um país passou a ser determinante para seu poder político, econômico e militar. E nos países mais desenvolvidos, acrescentou, o Estado "joga seu poder" na construção de um grande parque científico e tecnológico.
O Globo
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