A moradora do arquipélago, Fátima Santana, chegou a passar uma noite nas cadeiras do Aeroporto dos Guararapes Longe do conforto do lar, a dona de casa Fátima Santana se preparava para passar mais uma noite nas cadeiras do Aeroporto Internacional dos Guararapes/ Recife - Gilberto Freyre.
Com o frio e o desconforto como inimigos noturnos, os casacos e lanches a postos acabavam por se tornar aliados. O barulho do vai e vem dos corredores era o menor dos males para quem ainda iria ficar horas a fio sem nem ao menos tomar banho na tentativa de garantir uma passagem pela qual desembolsaria R$120. A situação pode parecer irreal. Porém, há mais de oito anos faz parte da rotina da dona de casa Fátima Santana e de todos os moradores de um dos mais belos e procurados destinos brasileiros, o Arquipélago de Fernando de Noronha.
Quando precisam vir ao Recife, o regresso à Ilha é esperado sem nenhum entusiasmo. Na volta eles têm apenas duas opções de voos: ou viajam pela Gol, ou pela Trip. Mas é nas opções que mora o problema. A Trip dispõe de voos com capacidade para apenas 68 pessoas, com passagens vendidas antecipadamente. Já na Gol, somente oito das mais de 100 vagas disponibilizadas são destinadas aos ilhéus do Arquipélago de Fernando de Noronha. O valor da passagem para o grupo é de R$ 120, mediante apresentação da Carteira de Identidade do Residente Permanente. Para turistas que ocupam o restante das cadeiras, a quantia cobrada equivale a R$ 500.
A batalha pelas passagens percorre um longo e já conhecido caminho. “É sempre o mesmo problema. Não tem passagens a qualquer horário. Por causa das poucas vagas, a Gol só começa a liberar a compra a partir das 7h. O voo pode ter saído às 16h do dia anterior, mas eles só deixam a gente comprar no outro dia. Para não perder a compra sempre dormimos aqui. Quem chega depois e não consegue comprar passa pelo mesmo drama. Não podemos nem ir ao banheiro para não perder a chance de voltar. Nós estamos pagando e ainda somos tratados desse jeito”, reclama Fátima.
Revoltada com as desventuras pelas quais é obrigada a passar a cada volta para casa, a taxista Jaqueline Garcia lembra as autoridades e as companhias aéreas quem são os maiores consumidores da Ilha de Fernando de Noronha. “Quem dá dinheiro para Noronha (ilha) e para todas as companhias somos nós, os moradores. Nós estamos sempre vindo ao Recife para resolver algo e voltando para lá dias depois. Já os turistas só aparecem uma vez, e depois só no outro ano. Nós temos o direito de ir e vir e estamos sendo privados de desfrutá-lo. Por que esse desrespeito com a gente?”, retrucou Jaqueline.
Para a camareira Leandra Gomes, a questão financeira também pesa. “Eu pago a passagem com um dinheiro suado, que consegui com meu trabalho. Mesmo assim tenho que passar por isso tudo. Comprei camarão para levar, mas vai estragar tudo por causa da demora. Eles pagam por isso? Que eu saiba só sai do meu bolso”, alfineta Leandra.
A assessoria da Imprensa da Gol Linhas Aéreas Inteligentes informou que são reservadas diariamente 20 vagas para moradores, administradores e empresários da Ilha de Noronha, mas a reportagem da Folha de Pernambuco constatou que no balcão da companhia no Aeroporto Internacional dos Guararapes/Recife - Gilberto Freyre são disponibilizadas apenas oito vagas. Ainda segundo a assessoria, o horário de venda das passagens, que hoje é a partir das 7h, será reestruturado. Mas ainda não foram estabelecidos prazos.
Folha de Pernambuco - PE
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