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sexta-feira, 12 de junho de 2009
Interpol pede vigilância sobre instrutor de voo
Suspeito de ser ex-militante de grupo ligado à Al Qaeda, franco-tunisiano que vive em SC nega acusação.
A Interpol diz que ele é ex-militante de "organização terrorista" ligada à Al Qaeda. Seu nome consta dos arquivos do órgão, que integra polícias de todo o mundo. Está num documento chamado "difusão azul", que orienta que o suspeito seja encontrado e sua localização, informada. Serviços de inteligência brasileiros, que criaram anteontem um núcleo para o estudo do terrorismo, o monitoram há cinco anos -sem ter, até agora, detectado sinais que confirmem as suspeitas.
O franco-tunisiano Manar Mohamed Skandrani, 48, casado, pai de dois filhos brasileiros, dirige uma oficina de carros e acaba de montar sua segunda escola de treinamento para pilotos de aviões e helicópteros em Joinville (SC).
Ele nega envolvimento em planos ou ações terroristas. Declara ter sido simpatizante da organização Al Nahda, mas, ao contrário do que pensa a Interpol, diz achar que ela não tem relações com a Al Qaeda -o grupo responsável pelos atentados de 11 de Setembro.
De inspiração fundamentalista, a Al Nahda despontou em reação ao regime presidencialista vitalício instalado na Tunísia em 1956, quando o país se tornou independente. Foi, então, declarada ilegal. O site da organização, que atua no norte da África, informa que seu propósito é falar sobre política, cultura e ideias relacionadas ao mundo islâmico e árabe.
"Na minha vida lá [na Tunísia], tinha mais simpatia pelo Nahda do que por qualquer outro partido. Mas deixei a atividade política em 1999."
Em Joinville, Skandrani, ou "seu Manar", como é chamado pelos 17 empregados, comanda a oficina Dreicar. A empresa está em nome da mulher, Maria Cristina de Almeida. "Olha essa máquina [elevador de carros]. Custou R$ 220 mil, coisa de primeiro mundo. Tenho câmeras que permitem o cliente observar o serviço pela internet."
Sobre a origem do seu dinheiro, afirma que "é tudo legal", economias dos tempos em que trabalhava, na Europa, como importador de carne. Diz que chegou a ganhar entre R$ 30 mil e R$ 40 mil por mês.
Sua nova escola de aviação, a Dreifly, foi criada em dezembro, também em nome da mulher. Tem autorização da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para ministrar aulas teóricas de voo até 2014 e funcionará no endereço da oficina.
"Vim para o Brasil trabalhar com kebab [sanduíche típico árabe]. Mas sempre tive paixão por aviação. Por ideia de um amigo, abri a primeira escola." Trata-se da Asa Azul, hoje inativa. Por que a segunda? "É para dizer que um muçulmano tem direito a viver em paz. Após o 11 de Setembro, só uma pessoa louca vai abrir escola de aviação para terroristas. Mas não vou deixar o alvo do kebab."
Inicialmente reticente ao ser procurado pela Folha em Joinville, Skandrani depois cedeu e se pôs a falar. Deu quatro horas de entrevista pessoalmente e, depois, por telefone. Em um português misturado com inglês, espanhol e francês, conta que mantém a Polícia Federal a par de todos os seus passos.
Afirma que pratica sua religião em casa e, às vezes, vai a mesquitas em Curitiba ou Florianópolis. Não convive com os poucos árabes da vizinhança.
Quanto aos atentados de 2001, ele diz que o governo dos EUA foi o responsável, para "criar um inimigo da vez".
Skandrani conta que perdeu o visto de permanência no Brasil. Diz que esteve na PF e no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para descobrir o porquê. Sem sucesso.
"Na minha cabeça, isso aconteceu para evitar conflito com os americanos. A PF sabia de tudo que eu fazia. O Brasil não quer problema, e está certo."
Quando ainda tinha visto, Skandrani foi preso no Brasil em 31 de outubro de 2007, sob a acusação de crime de falsidade ideológica. Ele desembarcava em Guarulhos, vindo da Alemanha, sem declarar que levava consigo 14,7 mil, conforme o processo judicial relativo ao caso. A lei manda informar quantias acima de US$ 10 mil.
Foi denunciado. Responde a ação que tramita na 4ª Vara da Justiça Federal em Guarulhos. Apesar de não ter visto, ele não poderia ser deportado. Na ação, há uma determinação para que fique no país.
Procurada, a Embaixada da Tunísia não respondeu aos e-mails. A PF não quis comentar a situação de Skandrani.
Folha de S. Paulo
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