Terminou na noite de ontem, em tese, o prazo que a Marinha francesa tinha para tentar rastrear os sinais emitidos pelas caixas-pretas do voo 447 da Air France no fundo do Oceano Atlântico. As baterias que forneceram energia para o funcionamento dos localizadores são projetadas para funcionar por 30 dias, mas ainda podem transmitir por mais alguns dias ou até semanas.
Entretanto, o mais provável é que os investigadores franceses tenham de trabalhar apenas com os poucos dados técnicos de que dispõem hoje. "É péssimo para a aviação quando não se pode dizer com certeza o que aconteceu, mas isso não inviabiliza a investigação", ponderou um perito militar ouvido pelo Estado.Para se ter ideia da importância das caixas-pretas em investigações complexas, essa pode ser a primeira apuração desde 1980 em que autoridades americanas e europeias têm de trabalhar juntas sem os dados de ao menos um dos gravadores (de voz e de dados), segundo reportagem do Wall Street Journal.
Sem essas informações, o Escritório de Investigações e Análises sobre a Aviação Civil (BEA) devem se debruçar sobre hipóteses. Baseado em mapas meteorológicos e na sequência de mensagens automáticas transmitidas na noite de 31 de maio pelo Airbus A330 ao departamento de manutenção da companhia aérea, os peritos têm certeza de que o avião atravessava uma zona de turbulência quando, repentinamente, os computadores entraram em pane. Dois desses alertas, revelados na semana passada pelo site Eurocockpit, indicam falhas nos tubos de pitot, os sensores de velocidade do avião.
As sondas, instaladas próximas do bico do avião, são as únicas provedoras de informações de velocidade e altitude para os computadores do jato e têm um longo histórico de problemas de congelamento e obstrução. Nesses casos, os sofisticados sistemas informatizados da aeronave "enlouquecem" e deixam de funcionar corretamente - a maior parte das mensagens transmitidas pelo voo 447 é compatível com esse cenário. O que ainda não está claro para os peritos - e talvez jamais seja descoberto - é por que a possível pane dos computadores evoluiu para um desastre.
Nos últimos incidentes originados por supostas falhas nos tubos de pitot - entre eles um voo da TAM entre Miami e São Paulo, em 21 de maio -, as tripulações conseguiram contornar os problemas e pousar em segurança. Para tentar se chegar às hipóteses mais plausíveis sobre as causas do acidente, uma das possibilidades é testar diferentes cenários em simulador de voo. Ainda assim, dizem especialistas, será difícil saber como os pilotos reagiram às adversidades - tentaram alguma manobra, como reiniciar os computadores, ou simplesmente perderam o controle da aeronave? Só a caixa-preta poderia esclarecer.
Caso o BEA não consiga reconstruir o acidente, nada impede que sejam emitidas recomendações de segurança - objetivo primordial de toda investigação aeronáutica. No Brasil, por exemplo, a Aeronáutica finaliza o relatório sobre o acidente que matou em 2008 o dono da Avibrás (fabricante de material bélico), João Verdi Carvalho Leite, e a mulher dele. Até hoje, nenhum vestígio de corpos ou do helicóptero em que estavam foi encontrado.
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