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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Avião que caiu em Resende matando dos bombeiros não tinha autorização para usar aeroporto

Imagem do alto mostra claramente o ponto onde o avião se chocou  com o solo


RESENDE - O avião monomotor do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio que caiu na tarde de terça-feira numa rua do bairro Vila Santa Isabel, em Resende, não poderia ter usado o aeroporto municipal, que está interditado desde o dia 29 de setembro do ano passado. Em uma entrevista nesta quarta-feira à TV Rio Sul, afiliada da Rede Globo, Nélio Silva Sampaio, coordenador operacional do aeroporto, disse ter alertado o piloto do avião, o major Jasper Sanderson da Silva, de 34 anos. O piloto morreu, juntamente com o aspirante Guilherme Augusto Rocha Neto, que servia no grupamento dos bombeiros de Resende. Ambos foram sepultados na tarde desta quarta-feira no Rio, onde moravam.

- Tive o cuidado de alertar o piloto. Fiz contato com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e com o Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio, de onde ele decolou. Eles confirmaram que o piloto deveria ter ciência de que o aeroporto está interditado - disse o coordenador, explicando que nas duas cabeceiras há um "X", o que indica a interdição da pista. - Não temos o poder de policiamento, só nos cabe reportar ao órgão superior, que é a Anac", acrescentou Nélio, em entrevista ao RJ TV, da TV Rio Sul.

Ainda de acordo com Nélio, a conversa com o piloto ocorreu cerca de uma hora e meia antes da queda do avião, na Rua José Estevan da Mota, depois de a aeronave voar apenas 300 metros além do aeroporto de Resende.

O comandante do grupamento de Resende, Ernani da Mota Leal, chegou a voar no monomotor pouco antes da queda. O avião, de fabricação canadense e o único da América Latina para combate a incêndios florestais, foi adquirido pelo Corpo de Bombeiros em 2002 e tinha capacidade para transportar três mil litros de água.

A Anac enviou um ofício à prefeitura de Resende no dia 29 de setembro anunciando a interdição do aeroporto. Segundo o documento, durante uma vistoria realizada nas dependências do aeroporto, técnicos da agência constataram falhas na cerca de arame em torno do local, o que motivou a interdição, por motivos de segurança.

De acordo com nota enviada pela Anac, após a realização das reformas solicitadas, a agência deverá fazer outra vistoria para verificar se podeá liberar o local. O aeroporto, ainda segundo a nota, está interditado para as operações de pouso e decolagem por um período de 180 dias contados a partir de 16 de setembro ou até que as adequações sejam feitas.

No dia seguinte ao aviso, a prefeitura avisou à agência sobre o projeto de construção do muro. Na época, a obra estava orçada em R$ 700 mil.

Moradores de prédios próximos ao local do acidente estão abalados

Nesta quarta-feira, o coordenador da Defesa Civil de Resende, coronel Marco Resende, esteve novamente onde ocorreu queda do avião, assim como peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Marco tranquilizou os moradores alegando que as estruturas dos prédios próximos ao acidente não foram abaladas por causa do desastre.

De acordo com o coronel Antônio Augusto Walter de Almeida, do Cenipa, a Aeronáutica designou uma comissão de três investigadores para atuar no local do acidente. Eles vão colher informações técnicas, realizaram registros fotográficos, além de entrevistar moradores e testemunhas.

- Depois, será redigido um relatório de ações iniciais que deverá ficar pronto em 30 dias. Já o relatório final tem o prazo de até 12 meses para ser concluído - disse Antônio Augusto. - Nós trabalhamos de acordo com normas internacionais, e o nosso objetivo não é procurar culpados, mas sim trabalhar com diversas linhas de pesquisas para prevenir futuros acidentes aéreos. Depois dessa pesquisa preliminar, outras serão desenvolvidas com engenheiros, psicólogos, investigadores científicos. O motor e a hélice, bem como outras partes do avião, serão enviados para o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) de São José dos Campos (SP), a fim de serem analisados com profundidade. Serão feitas contas, medições, laudos de engenharia e, ainda, um perfil psicológico do piloto. Tudo isso vai ser investigado, e o relatório final vai ser publicado no site do Cenipa.

Os moradores do bairro Santa Isabel estão ainda muito abalados com o acidente. Entre eles está a arquiteta Andreza Heringer Tavares, moradora do primeiro andar de um apartamento do bloco 3. O local foi o mais afetado pelo fogo, provocado pela queda do queda do avião, que incendiou. Segundo ela, está até agora em estado de choque, a impressão era a de que estava estourando uma bomba dentro da sua casa.

- O estrondo foi ensurdecedor. Eu vi uma bola de fogo entrando pela janela. Eu não conseguia entender nada. Só deu tempo de arrastar a cama da minha filha de perto da janela para o colchão não pegar fogo e alastrar mais fogo pelo apartamento. Ela não estava em casa na hora, se estivesse no quarto não quero nem pensar. Depois que eu puxei o colchão, sai do apartamento gritando e chamando todos os outros moradores para saírem. Só fomos entender que era um avião que tinha caído na rua quando chegamos ao térreo do prédio - contou a arquiteta.

Até a manhã desta quarta-feira, a Rua José Estevan continuava interditada. Havia muita fuligem ainda, e os destroços do avião não tinham sido retirados. O comandante do 23º Grupamento de Incêndio de Resende, tenente-coronel Ernane Motta, acompanhou o trabalho dos peritos. O militar disse que observou a aeronave perder altitude e testemunhou o esforço que o piloto fez para não bater em nenhuma residência. Motta classificou o ato do piloto como heróico.

O Globo

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