Grandes filas, longa espera e o medo de um às vezes inevitável constrangimento. Alvo de críticas de alguns americanos, a forte segurança nos aeroportos nos Estados Unidos, nas últimas três semanas ampliada com a instalação de escâneres corporais e com a adoção de um método de revista invasivo, começa a incomodar também os brasileiros, que reclamam da lentidão e temem ter sua privacidade violada.
Os escâneres de corpo inteiro já estão nos 70 maiores aeroportos do país, como os de Atlanta, Los Angeles, São Francisco, Nova York, Washington e Miami. Qualquer um que se recuse a passar pela máquina, que revela em detalhes os contornos do corpo, é submetido à revista por um policial do mesmo sexo.
As inspeções íntimas geraram protestos e, a pedido do próprio presidente Barack Obama, podem ser reavaliadas pelas autoridades americanas.
Até lá, os procedimentos serão mantidos mesmo com 50% dos americanos, segundo uma pesquisa do jornal "Washington Post" e da emissora ABC, dizendo que vão longe demais.
Como eles, o empresário brasileiro André Rafael, de 38 anos, vê excessos. Ele voltou há algumas semanas de viagem de Miami, onde os escâneres de corpo inteiro já estão instalados, e apesar de não ter sido selecionado para ser inspecionado pelo aparelho, reclama.
- Esses excessos são desnecessários, não vão pegar ninguém. É um exagero - afirma o empresário, que costuma ir em média três vezes por ano aos EUA.
André Rafael conta que qualquer um poderia ser escolhido, mas que ele e sua esposa não passaram pelo aparelho. Sorte diferente teve Paulo Brito, de 42 anos e gerente de uma agência de intercâmbios no Rio de Janeiro. No retorno de Los Angeles para o Rio de Janeiro, ele passou pelo escâner e, apesar de dizer que teve sua privacidade preservada, não esconde o incômodo com a longa espera.
- Eles não me deram opção se eu queria passar ou não (pelo escâner). Eu apoio qualquer coisa por um voo mais seguro, mas o método tem que mudar. Hoje você chega duas horas antes no aeroporto e tem a sensação de que não vai conseguir embarcar - afirma Paulo, que já vem orientando turistas a chegar cada vez mais cedo na hora de embarcar em aeroportos americanos.
Viajantes defendem segurança, mas sem constrangimento
A posição de Paulo é compartilhada também por muitos nos EUA. Segundo a mesma pesquisa, dois terços dos americanos são a favor do uso de escâneres de corpo inteiro nos aeroportos, ao considerar o combate a uma eventual ameaça terrorista como prioridade.
Com o hábito de ir uma vez por ano aos EUA, a aposentada Angelina Queiroz, de 54 anos, também se sente mais segura com o cuidado por parte das autoridades americanas. Na última de suas viagens, que terminou na semana passada em Nova York, não passou pelo escâner, mas não esconde o incômodo com a possibilidade de ter que enfrentar a situação.
- Eu não duvido que haja abusos, mas não vi. As filas estavam muito grandes. O escâner novo deve ser constrangedor, e eu não gostaria de passar por ele - conta.
Dia de Ação de Graças preocupaMesmo com as recentes mudanças nos procedimentos, o Consulado Americano no Rio afirma que não orienta viajantes brasileiros ou responde dúvidas sobre a segurança em aeroportos. Mas os turistas, como o engenheiro Albano Franco, de 64 anos, que esteve nas últimas semanas em Miami, já se preparam para isso.
Após dois overbookings, ele aguarda para embarcar de volta ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira, feriado do Dia de Ação de Graças, quando os americanos se preparam para um grande movimento nos aeroportos e temem um caos. Estima-se que 40 milhões de pessoas viajarão dentro e para fora dos EUA, mas o engenheiro não se mostra incomodado com a situação.
- Eu sabia que existiam os escâneres. Eu passei pelo o que acho que era um detector comum na chegada a Miami, e apitou porque tenho uma prótese no joelho. Então fizeram a revista, mas nada invasivo. Sou a favor de qualquer coisa que reforce a segurança - explica.
Muito cuidado, pouco confortoA pesquisa ABC/"Washington Post" aponta que é crescente o número de americanos que defendem outras ações de segurança para detectar suspeitos de intenções terroristas, como o profiling, uma técnica baseada no perfil étnico ou no histórico de viagem dos passageiros. Hoje, 70% defendem o procedimento no país.
Mas essa busca por tornar a viagem mais segura pode gerar situações complicadas. André Rafael conta, por exemplo, que embarcando de Miami para o Rio, em 2008, teve "explosivos" detectados em sua bolsa.
- Chegaram a levar meu passaporte e tudo, e me revistaram em um local mais reservado, mas visível ao público. Achei que fosse ser preso. Depois se desculparam, alegando problema na máquina - relata.
Situação similar viveu em 2009 o produtor de TV André Chaves, de 26 anos. Na chegada a Los Angeles, foi levado para uma sala reservada, onde foi revistado e interrogado. Ele ainda teve sua carteira de motorista da Califórnia, herança dos tempos de estudante nos EUA, quebrada pelos agentes de imigração.
- Ficou mais do que claro que cada vez mais o imigrante não é bem vindo, eles não querem a gente lá. Acho que é preciso ter segurança, mas falta bom senso em algumas horas - afirma André, que promete pensar duas vezes na hora de voltar aos EUA.
o globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário