Desenvolvida por brasileiros, técnica é considerada não poluente pela ONU.
Próxima etapa é provocar tempestades em áreas do semiárido brasileiro.
Tecnologia para provocar chuva artificialmente, desenvolvida por um grupo de brasileiros, pode ser a solução para aliviar os períodos de forte seca no semiárido brasileiro e contribuir no combate à desertificação.
A produção de chuvas artificiais se dá com o lançamento de gotas de água em nuvens que concentram alta umidade a partir de um avião bimotor equipado com um tanque de 300 litros e um mecanismo que controla o tamanho das gotículas dispersadas.
O processo foi desenvolvido para ajudar a sanar problemas em sistemas de abastecimento de água em áreas urbanizadas, alimentar nascentes de rios em regiões de forte seca e para prevenir incêndios florestais em reservas e parques nacionais.
Motosserras
Segundo Ricardo Imai, 42 anos, sócio da Modclima, empresa que criou a técnica, a ideia das chuvas artificiais partiu de seu pai, o engenheiro mecânico Takeshi Imai. “Ele trabalhava com implementos agrícolas e tinha uma empresa que produzia motosserras e herbicidas para derrubar árvores. Entretanto, decidiu parar e começou a estudar o processo de crescimento das nuvens de chuva, no intuito de contribuir com a natureza”, conta o filho.
Ricardo Imai disse que o que ocorre é a aceleração de um processo natural. O avião entra nas nuvens cumulus, que concentram alta umidade, e lançam as gotas que “pegam carona” nos ventos ascendentes. Dentro da nuvem, elas se juntam e formam a chuva, que cai em local previamente determinado. A precipitação ocorre 30 minutos depois do início da operação.
Um longo processo de busca das nuvens ideais antecede as chuvas artificiais. Radares meteorológicos instalados em Bragança Paulista (SP) ajudam na “caça”, juntamente com imagens de satélite. “Passamos horas monitorando o deslocamento das nuvens, para saber se elas vão para as áreas de interesse e se podem ser semeadas com as gotículas de água. Às vezes, temos que esperar muito tempo", diz Ricardo.
Aplicação
Em 1998, quando o projeto começou a sair do papel, a técnica foi implementada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que contratou a empresa dos Imai para provocar chuvas artificiais na cabeceira dos sistemas Cantareira e Alto Tietê, responsáveis pelo abastecimento de 18 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Foram mais de 500 voos, com ocorrências positivas de chuva em 50% deles.
As chuvas também foram empregadas no Nordeste a pedido de prefeituras da Bahia. Os municípios de Mirorós e Gentio do Ouro, localizados no semiárido brasileiro, sofriam com a seca intensa entre 2008 e 2009 e com a redução do nível da represa que abastecia esta região.
“Nessas áreas, a represa vinha perdendo água há cinco anos e as nascentes dos rios tinham sido gravemente afetadas por um incêndio. Fizemos 25 voos nessas localidades para fortalecer os lençóis freáticos e 17 deles tiveram resultados positivos”, disse. Lavouras também foram salvas devido às chuvas artificiais.
De acordo com Imai, o principal projeto da Modclima é contribuir com o Ministério do Meio Ambiente no combate às secas e queimadas em florestas e biomas como o Cerrado e Amazônia. “A chuva umedece o solo e a vegetação antes do período de estiagem, reduzindo os efeitos. Segundo estudo da Agência Nacional de Águas, 93 cidades brasileiras sofreram com fortes secas em 2010 e outros 490 municípios tiveram graves períodos de estiagem.
Exemplos de nuvens cumulus fotografadas
durante um voo. (Foto: Modclima/Divulgação)
ONU
A técnica foi apresentada em 2010 na Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas (UNCCD), realizada na Alemanha. Segundo Heitor Matallo, coordenador regional para a América Latina e Caribe da entidade, o método brasileiro de realizar de chuvas artificiais foi considerado não poluente em ações contra a desertificação em determinados países.
“É possível que a ONU utilize esta tecnologia, mas precisamos testá-la em diversos ambientes para comprovar sua eficácia. O governo brasileiro precisaria apresentar esta prática para que a Organização das Nações Unidas faça a recomendação desta técnica”, informou Matallo, de seu escritório no México, ao Globo Natureza.
g1
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