Aviões da coalizão internacional destruíram totalmente a força aérea  do ditador líbio, Muammar Gaddafi e voam livremente dentro do espaço  aéreo do país, atacando tropas no solo em qualquer local onde a  população civil esteja sob ameaça, disse um alto comandante militar  britânico nesta quarta-feira. 
   "Nós estamos agora fazendo pressão incessante sobre as forças armadas  líbias", disse o comandante Greg Bagwell, segundo relato por escrito  feito em uma base aérea no sul da Itália, onde jatos britânicos estão  baseados. 
    
  |  Tony Gentile/Reuters |  
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  | Aviões da Itália sobrevoam base aérea de Trapani; comandante diz que forças líbias foram destruídas |  
 
   "Efetivamente, a força aérea [de Gaddafi] não existe mais como força de  combate, e o sistema de defesa aérea está gravemente deteriorado, de  forma que podemos operar livremente no espaço aéreo livre", escreveu  ainda Bagwell. 
   Ele relatou ainda que devem haver algumas mudanças na estrutura de  comando das forças aliadas, mas que a operação continuará de forma  semelhante. 
   Mais cedo hoje, os aviões da coalizão bombardearam as forças de Gaddafi  perto da cidade de Misrata, onde rebeldes da oposição enfrentam uma  forte ofensiva. Ao menos 90 teriam morrido no ataque. 
   Gaddafi mantém tanques e franco-atiradores no centro de Misrata, a  terceira maior cidade do país. Os rebeldes, que têm conseguido manter o  controle, relatam um massacre, com atiradores matando até mesmo médicos  que aplicam os primeiros-socorros em feridos. Os hospitais, relatam  testemunhas, estão lotados e muitos feridos aguardam no chão por  tratamento. 
   "O aviões aliados bombardearam duas vezes até agora. Às 0h45 (19h45 de  terça-feira em Brasília) e depois novamente menos de duas horas atrás",  disse um morador local Saadoun, citado à agência de notícia Reuters.  "Eles [as forças pró-Gaddafi] não dispararam uma única vez desde o  ataque aéreo", comemorou. 
   Outro morador disse que os ataques atingiram uma base, ao sul de Misrata, onde as forças Gaddafi estão abrigadas. 
   Mais cedo, testemunhas na cidade relataram clima de medo. "As pessoas  estão vivendo em um estado de medo. A eletricidade foi cortada, a água  foi cortada". 
   Somente nesta terça-feira, disparos de atiradores e de obuses mataram 17  pessoas, incluindo cinco crianças, informou à France Presse um médico  de um hospital da cidade. 
   TRÍPOLI 
   A manhã de quarta-feira (madrugada em Brasília) foi marcada por  explosões e artilharia pesada antiaérea na capital da Líbia, Trípoli,  aparentemente mais um dia de ofensiva internacional contra as forças de  Muammar Gaddafi. 
   Ao menos duas explosões foram ouvidas antes do amanhecer desta  quarta-feira. Segundo a rede de TV CNN, a fonte das explosões e dos  tiros não está clara. 
   Mas a região atingida tem uma grande base militar --um dos alvos prioritários da operação Aurora da Odisseia. 
   GOVERNO REBELDE 
   Os rebeldes líbios designaram Mahmoud Jabril como chefe de governo  interino, no que sinaliza uma mudança na estratégia seguida até agora  pelo Conselho Nacional Transitório (CNT), criado em 27 de fevereiro,  informou a rede de TV árabe Al Jazeera. 
   Segundo a TV, o novo presidente provisório, que estava à frente do  comitê de crise para assuntos militares e exteriores, assumirá a tarefa  de nomear seus ministros. Até agora, Jabril havia desempenhado a  representação exterior do CNT e tinha viajado a Paris para se encontrar  com o presidente francês, Nicolas Sarkozy --primeiro país a reconhecer  oficialmente a autoridade dos rebeldes. 
   Considerado um reformista, sua designação pode ser interpretada como um  passo em busca do reconhecimento exterior, embora até agora os rebeldes  tenham evitado essa denominação para tentar diminuir o risco de divisão  no país. Sua escolha para liderar o governo provisório sediado em  Benghazi, um dos principais redutos rebeldes, representa a existência de  dois gabinetes no país. 
   SEM LIDERANÇA 
   A falta de organização da revolta e os protestos iniciados em Benghazi  em 16 de fevereiro --que um dia depois atingiu o país de leste a oeste--  foram agravados pela ausência de uma liderança clara entre a  mobilização opositora na Líbia --que foi assumida provisoriamente por  Mustafa Abdel Jalil, ex-ministro da Justiça de Muammar Gaddafi. 
   No entanto, as dissonâncias fizeram-se evidentes, desde o primeiro  momento, por sua particular interpretação das decisões do CNT, cujo  vice-presidente e porta-voz oficial, Abdel Hafiz Ghoga, teve de  desmenti-lo em várias ocasiões. 
   Sem o consenso dos demais conselheiros, ele defendeu a aceitação da  saída de Gaddafi em troca da garantia de que os rebeldes não levariam o  ditadorl à Justiça, proposta que suscitou críticas entre os  conselheiros. 
   À ausência de uma liderança clara, somou-se a descoordenação dos  insurgentes, que agiram no plano militar com pouca estratégia, o que  ficou evidenciado quando Gaddafi lançou uma contraofensiva e chegou às  imediações de Benghazi. As tropas leais ao ditador foram detidas na  região pelos ataques aéreos da coalizão internacional.
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