 Ao pegar carona, junto com 15 acompanhantes, num Boeing da FAB, Fábio Luiz Lula da Silva, filho do presidente, embarcou numa ilegalidade.
Ao pegar carona, junto com 15 acompanhantes, num Boeing da FAB, Fábio Luiz Lula da Silva, filho do presidente, embarcou numa ilegalidade.
A Presidência da República reconhece que não há na legislação em vigor um mísero artigo que dê respaldo ao vôo.
A despeito disso, o Planalto considerou “normal” a carona. Invoca um argumento extralegal: o costume.
Eis o teor da manifestação oficial da secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto:
“A possibilidade de o presidente da República convidar pessoas para deslocamentos em aviões oficiais baseia-se numa prerrogativa tradicionalmente exercida no Brasil: foi assim em governos anteriores, tem sido assim no atual”.
Deve-se à repórter Kátia Brasil a notícia sobre a apropriação privada das asas da FAB por Lulinha, como é conhecido o filho do presidente.
O primeiro-filho e seus acompanhantes serviram-se do Boeing da FAB em 9 de outubro. Voaram de São Paulo para Brasília.
As circunstâncias do vôo conferem ao caso um quê de extravagância. O Boeing foi deslocado em pleno ar. Estava a dez minutos de pousar em Brasília. Transportava militares recolhidos no interior de São Paulo.
Súbito, o comandante da aeronave recebeu ordem para retornar a São Paulo. Oficialmente, buscaria o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
O avião pousou em Cumbica, no município de Guarulhos. Foi reabastecido. Descobriu-se que Meirelles e os caronas se encontravam em Congonhas.
Nova decolagem, seguida de uma hora de sobrevôo, para gastar o combustível. Aterrissagem em Congonhas. Embarque coletivo.
Meirelles mandou dizer que não sabia que Lulinha e comitiva dividiriam com ele os assentos do Boeing. A Aeronáutica disse que não dispunha da lista de passageiros.
Agora, o reconhecimento oficial de que o avião da FAB voou à margem da lei, equilibrando-se apenas nos velhos costumes.
Os vôos da Força Aérea estão regulamentados num decreto. Leva o número 4.244. Foi editado em 2002, sob Fernando Henrique Cardoso.
A normatização foi feita nas pegadas de uma anomalia. Descobrira-se que sete autoridades haviam como que “privatizado” as asas da FAB.
Usaram aviões da Viúva para realizar viagens de turismo. A maior parte delas para a aprazível ilha de Fernando de Noronha.
Afora os familiares, o rol de passageiros incluía seis ministros: Ronaldo Sardenberg, Pedro Malan, Paulo Renato, Sérgio Amaral, Raul Jungmann e Alberto Cardoso.
Além dos ministros, voara de FAB, a passeio, o procurador-geral da República de então, Geraldo Brindeiro. O PT, então uma aguerrida legenda de oposição, fez barulho inaudito.
Um dos ministros, Ronaldo Sardenberg, chegou a arrostar uma condenação judicial. A sentença seria anulada, porém, no STF. Decisão do presidente do tribunal, Nelson Jobim, hoje ministro da Defesa, a pasta que manda na FAB.
O que diz o decreto 4.244? Afora o presidente, só podem requisitar aviões da FAB ministros, presidentes da Câmara e do Senado, presidente do STF e comandantes militares. A requisição é admitida em três circunstâncias:
1. “Por motivo de segurança e emergência médica”.
2. “Em viagens a serviço”.
3. Nos “deslocamentos para o local de residência permanente”.
O decreto anota: “As autoridades [...] informarão a situação da viagem e a quantidade de pessoas que eventualmente as acompanharão“.
Ficou entendido que os acompanhantes eventuais deveriam ter relação com a segurança, a emergência médica ou a missão de serviço.
No vôo do dia 9 de outubro, a única autoridade presente no Boeing era Henrique Meirelles, que nem sequer sabia da companhia ilustre de que desfrutaria.
Ao invocar a tradição para qualificar de “normal” a carona de Lulinha, a assessoria de Lula arrasta para a encrenca uma filha de FHC, Luciana Cardoso.
Secretária pessoal do pai-presidente, Luciana utilizou-se de uma aeronave da FAB (modelo Xingu), para viajar de Brasília até Buritis (MG), em março de 2002.
Luciana foi à fazenda Córrego da Ponte. Uma propriedade dos Cardoso, que havia sido invadida por militantes do MST.
Alegou-se que era preciso inventariar os estragos. O Ministério Público abriu um inquérito. Mexe daqui, esquadrinha dali, a coisa foi ao arquivo.
Sob Lula, um novo episódio: em fevereiro de 2004, José Viegas, à época ministro da Defesa, voou de FAB, para fazer turismo com a família no Pantanal. O caso foi à Comissão de Ética Pública da Presidência. Deu em nada.
Noves fora um pedido de informações da Comissão de Fiscalização da Câmara, não há, por ora, vestígio de ação contra a carona de Lulinha.
Se vier, será perda de tempo. Como diz a assessoria de Lula, “foi assim em governos anteriores, tem sido assim no atual”. Às favas o contribuinte.
Correio do Povo
 
 
 
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