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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Azul cria índice para avaliar pilotos por economia de combustível

 

Pilotos chamam de 'índice de perigo'; é incentivo a uso consciente, diz Azul.

 


Gol criou bônus em dinheiro para tripulações que reduzirem querosene.


ìndice de performance azul (Foto: Divulgação) 
 
Documento implantando o "índice de performance" foi enviado
a pilotos em abril (Foto: G1)
 
 
A companhia aérea Azul criou um boletim mensal para  avaliar seus pilotos. Entre os critérios que compõem a nota estão pontualidade dos voos e redução do combustível buscando maior “eficiência operacional” da empresa, segundo confirmou a companhia em nota ao G1.
O “Índice de Performance” (IP), que será enviado individualmente e de forma reservada, está sendo chamado de “índice de perigo” por pilotos da empresa no blog anônimo "Pilotos da fusão".
O índice é visto também com preocupação pelo Sindicato dos Aeronautas e por especialistas do setor, que acreditam que, indiretamente, ele pode gerar uma competição não saudável entre os pilotos e implicar em riscos à segurança. A companhia conta atualmente com 1.300 pilotos e copilotos.

Em uma das denúncias enviadas anonimamente ao Sindicato dos Aeronautas, um funcionário da Azul diz que o índice "fará com que os pilotos, acuados e com medo de perderem seus empregos, optem por encurtar rotas, evitem desvios, encurtem procedimentos, não arremetam quando não estabilizados, abasteçam a menos as aeronaves para melhorar seu índice de performance e não colocar seu emprego em risco”.

O alto custo que a querosene de aviação representa para as operações – 43% do custo das passagens, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas – fez as companhias pedirem à presidente Dilma Rousseff a redução do preço. Em janeiro, após prejuízo de R$ 1,5 bilhão em 2012, a Gol implementou um sistema de bonificação em dinheiro para pilotos que economizarem combustível.

Um documento da Azul obtido pelo G1 e assinado pelo gerente de qualidade de operações da Azul, comandante José Jacques Cardeal de Godoy Júnior, diz que a prática de avaliar funcionários "é comum nas grandes corporações" e que a coleta de dados já começou. "Divulgaremos relatórios individuais fornecendo indicadores de desempenho a partir das métricas obtidas em seus voos”.

O documento cita três recomendações para que pilotos otimizem operações. A primeira é “solicitar proa direta” que significa que o piloto deve pedir aos controladores se pode pegar um caminho direto, sem seguir determinada aerovia, que tem pontos previamente fixados pelos quais o avião tem de passar e em muitos casos obriga o avião a fazer curvas e desvios.
Outras sugestões são “utilizar o nível ótimo” (buscar a maior altitude compatível com a aeronave para que o voo seja feito de forma mais rápida) e aplicar o “idle descente”, reduzindo a potência dos motores para uma aproximação em marcha lenta em direção ao aeroporto.

 

“O que adianta o piloto fazer tudo para encurtar o tempo de voo se, quando chega ao aeroporto, tem que ficar dando voltinhas no céu porque o fluxo é intenso, não há espaço para pouso. O sistema todo é falho e focar no piloto me parece uma medida incoerente que representa risco à segurança", diz Gelson Fochesato, presidente do Sindicato dos Aeronautas.

Questionada sobre o índice de performance, a Azul disse apenas que "essas avaliações contribuem para a implementação de melhorias nesse processo" e que "incentiva tripulantes a fazer o uso consciente do combustível". (veja mais abaixo)


Como funciona a avaliação
Pilotos da Azul ouvidos pelo G1, e que pediram para não serem identificados, possuem opiniões diversas sobre o sistema que, segundo eles, foi implantado em abril. Alguns acham que a medida pode gerar competição devido ao medo de demissões. Outros salientam que os pilotos são responsáveis e que nunca colocariam a vida em risco.
“Tenho mais de 20 anos de profissão e não vou economizar combustível apenas pela empresa ou para fazer um voo mais rápido, mas porque sou consciente que posso poluir menos o ar para o futuro dos meus filhos. A minha segurança também está em jogo e eu sou responsável por todas as vidas lá dentro”, diz um comandante da empresa. “O que a empresa está fazendo é exigir racionalidade. Aquele piloto que era acostumado a pegar um nível e seguir sempre no mesmo, achando que era o caminho mais fácil e não se preocupava com combustível, terá que programar melhor o voo”, acredita.
O meu medo é de alguém, atrás do índice perfeito, faça loucuras"
Piloto anônimo ouvido pelo G1
Segundo pilotos, ao planejar um voo, o despachante operacional analisa a rota e, ao perceber problemas no percurso, como previsões meteorológicas ruis, coloca carga extra de quersone para que o avião possa seguir para outro destino ou tenha a possibilidade de aguardar no ar por mais tempo. Todo avião comercial decola com adicional para voar de 30 a 45 minutos a mais do que o tempo previsto para a jornada. Mas, agora, ao invés de colocar automaticamente a querosene adicional, o despachante deixará nas mãos do piloto pedir ou não a margem de segurança.
Ainda segundo os pilotos, no fim do mês, a empresa irá comparar a previsão de combustível para as etapas e quanto o comandante gastou. Se ele gastou a mais do que previsto, terá um “IP baixo”. “O meu medo é de alguém, atrás do índice perfeito, faça loucuras”, afirmou um piloto ouvido pelo G1.

Competição entre as tripulações
O brigadeiro Jorge Kersul Filho diz que “não vê a prática como saudável” e que “pode gerar uma competição entre as tripulações”. Ele pondera, porém, que o fato da empresa obrigar o piloto a pensar antecipadamente sobre a rota é uma forma de valorizar o piloto responsável.
“Os passageiros têm de saber que os profissionais que estão na cabine são responsáveis, treinados para comandar máquinas no último estágio da evolução. Temos que valorizar estes profissionais. Eles são competentes e não vão quebrar regras de segurança ou entrar em uma competição por dinheiro”, acredita.
A Azul está sempre avaliando a performance de suas operações. Essas avaliações contribuem para a implementação de melhorias nesse processo, tornando suas atividades mais sustentáveis e eficientes"
Nota da companhia ao G1
Oficialmente, o Cenipa informou que “não possui incumbências acerca das políticas operacionais das empresas aéreas desde que essas mantenham conformidade com as regras de tráfego aéreo e com os princípios da segurança de voo”.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) diz que, como no caso da Gol, não tem competência para avaliar se a política da empresa é correta, “tendo em vista que não há quebra de requisitos de segurança operacional”.

A Azul não confirmou as informações fornecidas pelos pilotos sobre o funcionamento do programa e não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem.

Sobre o boletim mensal, a companhia diz que "incentiva os seus tripulantes a fazer o uso consciente do combustível, assim como também adota outras medidas para manter a excelência de suas operações”.

Às 15h10 desta sexta-feira (26), a Azul enviou por e-mail uma nota sobre a reportagem do G1: "Segurança. Esse é o primeiro valor da Azul Linhas Aéreas Brasileiras. A companhia nega, veementemente, que incita ou adota quaisquer práticas que coloquem a segurança de suas operações, clientes e tripulantes em risco. A Azul, a exemplo das melhores práticas de eficiência operacional adotadas pelas maiores companhias aéreas do mundo, trabalha para manter um nível elevado de excelência e eficácia operacional, prezando por questões como pontualidade, regularidade e uso consciente do combustível. Por esta razão, desenvolve ações que visam alcançar tais objetivos".
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G1

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