Donna Hrinak foi diplomata dos Estados Unidos durante 30 anos.Agora, ela comanda a operação da gigante da aviação Boeing no Brasil
Donna Hrinak, presidente da Boeing Brasil: mudança de carreira aos 52 anos
São Paulo - A presidente da Boeing Brasil, Donna Hrinak, de 62 anos, fez carreira como diplomata dos Estados Unidos em diferentes países. Depois de 30 anos de serviço para o governo americano, Donna decidiu que era hora de trocar de carreira. Ela falou à VOCÊ S/A sobre sua trajetória, os desafios e os planos da companhia de aviação no Brasil, onde está como a principal executiva há um ano e meio.
VOCÊ S/A - A senhora foi embaixadora dos Estados Unidos e resolveu partir para a iniciativa privada depois de 30 anos de carreira. Por quê?
Comecei a carreira diplomática com 22 anos, fiquei 30 anos nela, mas sempre dizia para mim mesma que não queria chegar aos 65 anos e me questionar se eu poderia ter feito outra coisa na vida. Na diplomacia temos a possibilidade de nos aposentar com 50 anos de idade e 25 anos de serviço. Eu fiquei mais três anos para poder me tornar embaixadora no Brasil.
VOCÊ S/A - A Boeing não foi sua primeira experiência na iniciativa privada. Onde a senhora estava quando surgiu essa oportunidade?
Eu saí do governo em 2004 e fui trabalhar em um escritório de advocacia em Miami, na Flórida. Depois, entrei na indústria de alimentos — na Kraft Foods e depois na PepsiCo. Foi completamente inesperado o convite da Boeing com a oportunidade de abrir o escritório no Brasil.
A oferta combinava algumas coisas que achei interessante, como a possibilidade de voltar para o Brasil e de entrar em uma indústria diferente. É outra escala, bem mais complexa e com uma mentalidade diferente.
Numa empresa como a Boeing, o foco é sempre tecnologia — o negócio é baseado em engenharia. A mentalidade desses engenheiros é completamente diferente de quem faz marketing. Tem sido uma curva de aprendizagem bem alta para mim.
VOCÊ S/A - Qual é seu desafio no Brasil?
A ênfase aqui é criar parcerias com centros de pesquisa, universidades e com centros de estudo públicos e privados.
VOCÊ S/A - Por que só agora a Boeing resolveu investir mais no Brasil?
Se o objetivo é criar parcerias duradouras para investigações que vão dar resultados em longo prazo, é preciso estar aqui.
VOCÊ S/A - Como foi sair de uma função diplomática e passar a dirigir um escritório da maior fabricante de aviões do mundo?
A mudança não foi tão brusca por várias razões. A Boeing tem uma parte de defesa forte, que tem ligação com militares. As pessoas que trabalham nessa divisão são ligadas às Forças Armadas dos Estados Unidos, são profissionais com quem trabalhei sempre nas embaixadas.
Elas também estão saindo do governo para trabalhar no setor privado. Então, temos uma experiência similar. Quanto à parte comercial, acho que teria sido mais difícil se eu não tivesse passado primeiro por outras empresas, porque há um foco muito forte no cliente, que às vezes faz pedido fora de série, um pouco exagerado, e você tem de procurar uma maneira de atendê-lo ou explicar bem por que não pode fazê-lo.
Acho que eu precisava entender esse enfoque. Afinal, quem é o cliente quando se está em uma carreira diplomática? No meu caso, era o povo norte-americano. Talvez essa relação mais íntima com o cliente seja a diferença entre o que eu fazia na diplomacia e o que faço agora.
VOCÊ S/A - Você é uma mulher que assumiu o escritório da Boeing aos 60 anos de idade e com poucos anos de experiência na iniciativa privada. Como encara isso?
Isso diz mais sobre a Boeing do que sobre mim mesma. Poucas empresas chamariam uma mulher de 60 anos sem experiência na carreira. Não sou engenheira, não tenho experiência na indústria aeroespacial para chefiar um escritório novo. Sou candidata da diversidade por ser mulher e ter 60 anos.
Mas acho que essa decisão era por alguém que entendia de Brasil, e não que precisasse ter conhecimentos tecnológicos. E tenho muito orgulho de entender as aspirações do Brasil — também tenho um filho brasileiro e agora um neto que ganhou a cidadania brasileira.
VOCÊ S/A - Há quantos anos está no Brasil?
Há seis anos. Morei três anos durante a década de 1980 e depois voltei para a embaixada de 2002 a 2004. Meu filho tem 27 anos e nasceu no Hospital Albert Einstein, quando eu trabalhava em São Paulo.
Ele diz para todo mundo que é brasileiro, e não norte-americano e muito menos mexicano, porque o pai é do México e ele tem direito à cidadania desse país.
VOCÊ S/A - O que a senhora diria a uma mulher que quer mudar aos 60 anos?
Que ela pode. A minha mãe achava que a idade limite para fazer as coisas era 40 anos. Hoje, eu tenho 62 e me tornei presidente da Boeing no Brasil há um ano e meio. Sou de uma geração que tinha que provar que tudo é possível.
EXAME
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