O texto abaixo foi escrito pelo jornalista Reuben F. Johnson da Jane’s, baseado em depoimentos que ele colheu durante a passagem de comando da COPAC e durante a LAAD 2013.
O Dia da Aviação de Caça deste ano deveria ser a data de anúncio do vencedor do programa F-X2, que escolherá o futuro caça da FAB.
A data possui grande valor simbólico para a força e, portanto, seria o momento ideal para o anúncio do que seria a cara das Forças Armadas do Brasil no século XXI. No entanto, assim como em diversas outras datas esperadas, desde 2009, nada foi anunciado.
Quatro anos já se passaram e nada foi decidido. Isto veio sem grandes surpresas para os três consórcios que competem nesta concorrência. “Desde 2009 todos nós temos estendido o prazo de nossas ofertas e os seus valores para o F-X2 por um punhado de meses e depois por outro período e assim sucessivamente”, disse um representante de uma dessas três empresas. “E agora nós fizemos isso novamente, com as ofertas válidas até o fim de setembro de 2013″.
O programa de renovação da frota de caças da FAB está em andamento desde 1997, tornado-se uma das mais longas competições do seu tipo em toda a história recente. O plano é a aquisição de 36 caças, mas a intenção da FAB é pela compra de sucessivos lotes que deverá substituir toda a frota atualmente em atividade, chegando a um total de 120 caças.
Isto faz com que o negócio seja um dos maiores programas de aquisição de caças do planeta, perdendo apenas para o MMRCA indiano. E esta é a principal razão pela qual os três ofertantes continuam na disputa.
Mas alguns deles já estão falando na “estafa brasileira”. “Nós estamos desgastados por um processo que nunca parece chegar perto do seu fim”, disse um membro de uma das três empresas que competem pelo programa, complementando o fato do processo estar se tornando cada vez mais arriscado do ponto de vista financeiro.
“Nós somos informados constantemente que o F-X2 está nas mãos da presidente Dilma e que ela possui a palavra final”, disse.
Durante a LAAD 2013, ocorrida no mês de abril, um executivo de uma das empresas subcontratantes disse que “qualquer coisa é possível, mas é difícil imaginar com as propostas comerciais possam continuar a ser revalidadas após o mês de setembro, acordado recentemente. Nós estamos estendendo a nossa proposta desde 2009, e qualquer um pode fazer as contas e perceber que nenhuma delas é uma aposta segura”.
Os três consórcios não são as únicas partes preocupadas com o caso. Um pouco antes da LAAD, o brigadeiro Carlos Baptista Junior, então presidente da COPAC, informou no seu discurso de despedida do cargo que alertava para o risco dos contínuos adiamentos do F-X2, combinados com o envelhecimento da frota da FAB, afetarem a habilidade da força em executar uma de suas tarefas mais básicas.
“O principal problema no adiamento do F-X2 é a redução da capacidade operacional sobre qualquer outro aspecto”, disse ele. “A guisa de exemplo identifico, com tristeza e preocupação, que as possibilidades de transferência de tecnologia para nossa indústria – verdadeiras ou não, praticáveis ou inviáveis – assumiram posição de destaque no processo de seleção do projeto F-X2, e que em muito contribuíram para que a decisão final ainda não tenha sido tomada, e que a necessidade operacional ainda não tenha sido atendida.”
O brigadeiro enfatizou que ele não estava culpando as empresas brasileiras pelos atrasos, mas que as prioridades haviam sido distorcidas. A necessidade operacional da FAB, que é acima de tudo, a razão central pela busca de um nov caça. “A capacidade será trazida por um sistema de armas, e todo o resto, inclusive lucro e transferência de tecnologia, serão consequências.”, disse.
O que os representantes de cada um desse consórcios frisaram é que este tipo de escala de crise pode levar a FAB a “aceitar qualquer tipo de caça independentemente dos três da disputa, para que ela continue a fazer o seu trabalho” em função da redução da capacidade de combate da força, composta por F-5 modernizados e Mirage 200 de segunda-mão.
Por um determinado período, “houve uma nítida preferência de todas as partes envolvidas – a FAB, a indústria, sindicatos e políticos locais – pelo Gripen”, disse um dos que acompanham o processo desde o seu começo. “É fácil de ser ver isso. Se você fosse a FAB iria preferi-lo, pois é mais barato e pode ter mais dele. A indústria gosta disso porque é possível construir mais dele e há mais dinheiro nisso.”
No entanto, a maior vantagem do Gripen para o Brasil é o potencial benefício do desenvolvimento do protótipo do NG que culminará no JAS-39E/F.
[o Gripen NG] oferece o meio mais efetivo de transferência de tecnologia, que é pela efetiva participação no trabalho de desenvolvimento do avião e não apenas na produção deste ou daquele componente a partir de um CD cheio de desenhos e plantasOrlando Neto em2009
“Esta é uma oportunidade para a indústria que o programa do Rafale e do Super Hornet não podem oferecer”, disse um analista de defesa brasileiro.
Porém, quatro anos depois, executivos da indústria de defesa do Brasil dizem que a FAB agora está interessada em uma aeronave que esteja pronta para entrar em atividade e não necessita colocar o ciclo de desenvolvimento na frente: um sinal de que alguns interpretam como uma deterioração da capacidade da FAB como fator mais relevante. Atrasos no programa também permitiram que a Dassault e a Boeing melhorassem suas propostas.
“O tempo – e muito dele já se passou – ajudou a proposta do Super Hornet”, disse um representante de uma companhia norte-americana que conhece bem o país. “O pacote oferecido ao Brasil agora é bem mais extenso do aquele ofertado em 2009 em função de um lobby efetivo da Boeing, Raytheon e outros para relaxar o controle de exportação de armas dos EUA.”
A Dassault também melhorou a sua proposta no que diz respeito ao s aviônicos, radar AESA, guerra eletrônica, IFF e outros aspectos da proposta.
Mas uma coisa é certa para o analista brasileiro. “Quanto mais a decisão do F-X2 for postergada, maior será a chance da escolha ser postergada para depois das eleições presidenciais de 2014, o que significa que todo o processo voltará a estaca zero”.
PODER AÉREO
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