As espécies migram para o entorno do aeroporto, onde há resíduos orgânicos em canais e áreas naturais
Acúmulo de lixo, esgoto, canais sujos e deposição de matéria orgânica são causas primeiras para a atração de aves na área aeroportuária de Fortaleza, que ainda sofre com uma situação complicada de saneamento. Isso acaba provocando acidentes entre as espécies e as aeronaves.
Com o objetivo de reduzir as ocorrências, a Infraero firmou parceria com a Prefeitura de Fortaleza para ações de limpeza no entorno do bairro Aeroporto
O Aeroporto Internacional Pinto Martins, registrou, entre 2012 e 2013 - de janeiro a setembro -, um aumento de, aproximadamente, 60% no número de colisões. No ano passado, foram 17 ocorrências no período, já em 2013, foram 28. O total de acidentes de 2012 foi 39, enquanto que em 2011 ocorreram 33 colisões entre pássaros e aviões.
O número de avistamentos - possibilidade de colisão detectada pela torre de comando do aeroporto - em 2013 é de 48, até setembro, em 2012 foram 70, no total. Os dados são do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
As aves vão em busca de alimento, justamente onde há material orgânico (áreas naturais, parques, rios e lagos, e os locais antrópicos, como aterros sanitários e matadouros). As espécies, verdadeiras proprietárias do espaço aéreo, têm sido um problema ao tráfego de aeronaves.
De acordo com o professor de Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) de Maracanaú, Humberto Júnior, o risco aviário no aeroporto de Fortaleza é grande devido à falta de saneamento no local. "Há pontos de lixo e resíduos expostos de forma inadequada, o que atrai vários vetores, inclusive os pássaros".
O professor acrescenta que o problema é que a coleta de lixo não penetra nas favelas do entorno do terminal. "Antes, tínhamos o lixão do Jangurussu, chamariz das espécies, porém, hoje, ainda temos áreas de acúmulo de matéria orgânica", descreve. Outro ponto de possível atração dessas aves são as lixeiras localizadas no próprio aeroporto que amontoam restos de comida, segundo Júnior. O professor argumenta que as aves migram em virtude de desmatamentos e alterações no meio ambiente de uma forma geral. "Elas se concentram na localidade e acabam se multiplicando, o que gera ainda mais riscos", comenta.
O Canal da Rosinha, localizado no entorno do aeroporto, também atrai espécies por conta da água suja e esverdeada. "Os pássaros são incitados por comida e água. No caso do canal, podem existir peixes que são alimentos fáceis para as aves", explica.
Para minimizar os riscos de incidentes e/ou acidentes envolvendo animais e aeronaves, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) firmou, em 2009, convênio com a Universidade de Brasília (UnB). Desde então, técnicos especialistas na área realizam ações para afugentamento e resgate de fauna, seguindo as orientações traçadas em um Plano de Manejo da Fauna. Documento este aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que inclui também a remoção de atrativos (alimentos, água, abrigo e descanso).
Segundo a assessoria de imprensa da Infraero, o órgão realiza vistorias na Área de Segurança Aeroportuária (ASA) - raio de 20 Km -, identificando os focos atrativos para avifauna. Levantamentos constantes são apresentados aos órgãos ambientais do Estado e dos municípios presentes na ASA para a tomada de medidas mitigadoras.
Limpeza
A Empresa firmou parceria com a Prefeitura de Fortaleza para um efetivo trabalho de limpeza periódica na área patrimonial próximo à comunidade do bairro Aeroporto. "A Infraero, juntamente com a equipe de fauna da UnB, realiza, periodicamente, ações de educação ambiental com as comunidades e escolas do entorno do terminal, como palestras abordando a problemática do lixo mal acondicionado e Risco Aviário, e a distribuição de cartilhas e panfletos, bem como ação de grafitagem no muro patrimonial".
Especificamente sobre o Canal da Rosinha, a manutenção do trecho que passa dentro da área patrimonial do aeródromo é de responsabilidade da Infraero que realiza, periodicamente, a limpeza do riacho, bem como a remoção do lixo. O órgão possui ainda um projeto de recuperação da mata ciliar do córrego a ser implantado no trecho. Já em todo o resto do trajeto, a manutenção é realizada pela Prefeitura da Capital.
DIÁRIO DO NORDESTE
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