Equipamento de laboratório da USP prevê formação até 1 hora antes. Informações do radar devem começar a ser usadas em SP em dezembro.
Radar do Laboratório de Hidrometeorologia consegue prevê formação de tempestade com até 1h de antecedência (Foto: Divulgação)
Um radar móvel desenvolvido pelo Laboratório de Hidrometeorologia (LabHidro), ligado à Universidade de São Paulo (USP), será a nova ferramenta a ser usada pelo Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), ligado à Prefeitura de São Paulo, na tentativa de alertar a cidade para a chegada de temporais.
De acordo com o meteorologista Augusto José Pereira Filho, coordenador do LabHidro, bastam 15 minutos para um temporal se formar. Por isso, ressalta ele, são necessários equipamentos capazes de alertar a Defesa Civil e a população com antecedência, como o radar desenvolvido pelo laboratório.
O radar consegue prever, até 1 hora antes, a formação das tempestades a quilômetros de distância e precisar informações que os outros equipamentos disponíveis na Região Metropolitana de São Paulo ainda não conseguem, explica Pereira Filho.
De acordo com o meteorologista, o radar estima a quantidade de água que irá cair - sejam 20 mm, 30 mm ou 60 mm - e se a chuva ficará concentrada na Zona Norte ou na Zona Sul da cidade, por exemplo.
Para ler os dados disponibilizados pelo equipamento do LabHidro, a equipe do CGE será treinada a partir do próximo mês para aproveitar as informações do radar. “É uma ferramenta nova, com complexidade maior do que as que a gente tem hoje”, explica Flavio Conde, coordenador do Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo (SAISP), ao qual o CGE também é ligado.
Segundo o meteorologista Pereira Filho, os dados do radar móvel do LabHidro podem ser acessados por qualquer pessoa, basta que seja feito o treinamento. “Os dados fornecidos são como imagens de ultrassom: o técnico vai ler, entender e repassar a informação”, compara Pereira Filho.
Como as instituições têm convênio entre si, o treinamento do CGE não gerará custos, afirma Conde, e a equipe deverá estar capacitada até meados de dezembro.
Barueri
Atualmente, apenas a cidade de Barueri, na Grande São Paulo, aproveita a precisão fornecida por este equipamento. Em esquema de parceria com a USP, a Guarda Civil Municipal consegue saber quando vai chover forte, em quanto tempo o céu vai “desabar” e até a quantidade de chuva que atingirá a cidade.
De acordo com o inspetor Pedro Domingues, diretor da Guarda Civil de Barueri, os dados obtidos com o radar são cruzados com dados históricos de prejuízos causados pela chuva na cidade para saber onde a quantidade de água que irá cair poderá causar alagamentos e deslizamentos.
Se a previsão indica que vão chover 50 mm em determinada área, exemplifica Domingues, o município consegue saber onde essa quantidade de chuva pode provocar estragos, como deslizamento de barrancos.
Em meados de 2007, conta o inspetor, um temporal mostrou que o radar do LabHidro pode ajudar a salvar vidas. Ainda no início das operações do equipamento na cidade, ele relembra que, à medida que um temporal se formava e o radar indicava grande quantidade de chuva, a Defesa Civil optou por desocupar casas de um barranco.
“A chuva começou às 17h. Às 21h, o barranco desabou, destruiu parcialmente uma casa e deixou outra ‘pendurada’. Ninguém ficou ferido”, relembra Domingues, destacando que um casal foi impedido de entrar em uma das casas após voltar do trabalho e assistiu, do pé do barranco, ao imóvel desabar.
Formação de temporais
Uma pesquisa desenvolvida pelo LabHidro constatou que a umidade relativa na região metropolitana de São Paulo caiu 7% em 70 anos. No mesmo período, a temperatura subiu 2,1 graus. Com a cidade mais quente, a tradicional garoa deu lugar às freqüentes tempestades, muitas vezes acompanhadas de granizo.
Os temporais se formam quando o ar quente e seco da capital paulista se encontra com o ar frio e úmido vindo geralmente do litoral. Esse encontro forma as nuvens escuras e profundas em questão de minutos, um fenômeno natural muito comum em São Paulo por causa das características da cidade por conta de sua urbanização desordenada.
Na capital paulista, a previsão do tempo é feita pelo CGE, que tem como função alertar e minimizar os efeitos danosos dos temporais. “Dependendo da chuva, nós colocamos em estado de atenção e essa informação é repassada para a Defesa Civil local de cada região da cidade”, explica Adilson Nazário, técnico em meteorologia.
Hoje em dia, os equipamentos utilizados pelo CGE não têm condições de prever o volume exato de chuva, conta Nazário. Após o treinamento, os dados do radar do LabHidro serão usados para alertar a Defesa Civil e subprefeituras com antecedência para que os órgãos se antecipem ao risco de transbordamento de córregos e alagamento de vias, por exemplo.
BGA
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