EM PANE: Com dívidas de mais de US$ 25 bilhões, a Japan Airlines pediu proteção contra falência na terça-feira 19 |
Em meio ao alvoroço provocado pela concordata da Japan Airlines, maior companhia aérea do Japão, um relatório preparado pelo fundo japonês Etic, que comandará a reestruturação da empresa, mostrou que parte da solução para os problemas da Jal pode estar deste lado do mundo. Mais especificamente em São José dos Campos, onde são produzidos os E-Jets da Embraer. Conforme revelou a agência de notícias Reuters, a empresa brasileira é uma das possíveis fornecedoras de aeronaves. Em uma radical redução de custos, a JAL vai demitir um terço dos seus funcionários e cortar rotas deficitárias. Sua frota é considerada envelhecida e pouco eficiente. É aí que a Embraer entra. De acordo com o Etic, fundo apoiado por recursos do governo japonês, a Jal precisa de 50 jatos regionais de pequeno e médio porte.
Ao lado da fabricante japonesa Mitsubishi Heavy, a brasileira é uma das candidatas naturais a fornecer as aeronaves para uma frota mais econômica. Com uma vantagem: os jatos da concorrente ainda não estão prontos, ao contrário dos aviões da Embraer. Presente em 88 mercados no mundo, a brasileira tem uma carteira de US$ 16,6 bilhões de pedidos firmes. "A JAL tem uma série de aviões grandes e pouco eficientes no consumo, e isso tem custado muito", diz Akitoshi Nakamura, diretor-executivo do Etic. Cada aeronave da família Embraer 170-190 custa entre US$ 33 milhões e US$ 38,5 milhões. Os modelos 190 e 195 têm um custo de manutenção por hora voada cerca de 25% menor do que aviões similares da concorrência.
"No curto prazo, vejo as portas escancaradas na JAL para a Embraer", analisa Paulo Bittencourt Sampaio, consultor especializado em aviação.
Outro trunfo: a Japan Airlines já é cliente da Embraer, que afirmou que no momento não há novas negociações com a companhia.
Símbolo maior do impacto que a crise financeira recente teve sobre a aviação civil, a JAL pediu proteção contra falência na terça-feira 19, abatida por dívidas de US$ 25,6 bilhões e com um valor de mercado reduzido a US$ 150 milhões - menos do que o preço de um Boeing 747. Continuará voando graças a uma ajuda emergencial de cerca de US$ 11 bilhões do Etic. A concordata é a quarta maior da história do Japão.
A empresa aérea será gerida por um novo conselho de administração.
No dia do anúncio da concordata, os membros da direção da companhia apresentaram seus pedidos de demissão. Entre os demissionários estava o presidente Haruka Nishimatsu, que ironicamente virou "hit" no site YouTube com uma reportagem da rede de tevê CNN sobre o seu estilo de vida espartano - almoçava no refeitório e ia trabalhar de trem.
PLANO DE RECUPERAÇÃO da japan airlines prevê renovação da frota, com a
compra de 50 jatos de pequeno e médio porte
Não foi esse o estilo que marcou a trajetória da JAL na última década. Amparada diversas vezes pelo governo japonês, a companhia não rezou pela cartilha de redução de gastos e ganhos de eficiência. "Não houve adaptação a uma nova época", diz Sampaio. "A JAL era estatal, foi privatizada e continuou com os mesmos vícios de estatal."
A Japan Airlines não foi a única vítima da "década negra" da aviação civil. Os problemas do setor começaram com os atentados de 11 de Setembro, que levaram as principais companhias a um prejuízo de US$ 24,3 bilhões entre 2001 e 2002, segundo a Iata (Associação Internacional do Transporte Aéreo). Nos últimos dois anos, a escalada dos preços dos combustíveis e a crise financeira resultaram em um prejuízo combinado de US$ 27,8 bilhões. Mais de 20 empresas desapareceram ou foram vendidas entre 2008 e 2009. Casos recentes são os da americana Mesa Air Group, que neste mês pediu proteção contra falência, da Alitalia, que pediu concordata em 2008, e da Aerolineas Argentinas, que em séria crise financeira foi reestatizada pelo governo argentino no final de 2008.
ISTO É DINHEIRO
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