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quarta-feira, 31 de março de 2010

Ajuda do céu para desabrigados

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Imagens exclusivas: Câmaras de ar eram jogadas por aviões e helicópteros da Força Aérea Brasileira para socorrer as vítimas de inundações. Cel. Aviador Ovídio durante missão
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Doação: toneladas de alimentos, roupas e remédios eram conduzidas em aviões da Força Aérea Brasileira e entregues no sertão
JULIANA VASQUEZ (REPRODUÇÃO)

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O presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, desembarca no antigo Aeroporto Pinto Martins para inaugurar o Açude Orós

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Telhas e carnaúbas: únicos pontos visíveis na área urbana de Limoeiro do Norte. Militares fizeram registros aéreos da operação
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Registros do depto. de Comunicação Social da base Aérea de Fortaleza preservaram a memória de uma das maiores ajudas humanitárias

31/3/2010

No inesquecível caso do transbordamento do Açude Orós, a Base Aérea de Fortaleza teve papel de destaque

Fortaleza. Há 50 anos a barragem do Açude Orós, ainda com obras em andamento, começou a acumular água. As chuvas do ano de 1960 intensificavam-se, caindo torrencialmente. Provocaram o transbordamento das águas do açude. Uma enchente de grandes proporções inundou inúmeras cidades do Vale do Jaguaribe. Mais de 100 mil pessoas ficaram desabrigadas.

Teve início, então, uma das maiores operações de ajuda humanitária no Estado. O Segundo Comando Aéreo (II Comar) acionou a Base Aérea de Fortaleza (BAFZ). As informações chegadas à Capital cearense eram vindas por meio do Radioamador do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), que alertou durante vários dias e noites o acidente.

Como relembra o jornalista Carlos Célio de Souza, chefe do reportagem deste jornal, a emissora Ceará Rádio Clube (PRE-9) fez campanha pedindo a população que enviasse câmaras de ar, que foram lançadas de avião nas áreas alagadas. Assim, as primeiras ajudas caiam do céu.

A assessoria de imprensa da BAFZ revela que os livros históricos do órgão registram a formação de uma verdadeira ponte aérea, com aviões e helicópteros prestando resgate aos moradores situados em áreas de difícil acesso, que se encontravam completamente cercadas pelas águas do Orós.

Com a finalidade de transportar alimentos, remédios, roupas e agasalhos, os trabalhos de descarregamento e carregamento de aviões aconteciam 24 horas por dia. A Infantaria de Guarda e os Esquadrões de Comando, Suprimento de Manutenção, de Material, entre outros, tiveram missões destacadas.

O próprio comandante das Operações, coronel aviador Ovídio Gomes Pinto, participou, num helicóptero Sikorsky S-55, de inúmeras missões de resgate dos desabrigados, alguns resgatados do telhado das casas submersas.

O presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, sobrevoou as áreas atingidas, providenciando pessoalmente a implementação da ajuda federal aos desabrigados.

A Presidência da República pôde acompanhar, diariamente, os relatórios de operações da Campanha Orós, oriundos do Comando da BAFZ, o que permitiu a aplicação dos recursos financeiros, materiais e humanos necessários. Com uma expressiva parte de seu contingente envolvido diariamente, nos municípios afetados, a BAFZ conduziu as ações com total eficiência. Os militares trabalharam incansavelmente, salvando a vida de inúmeras pessoas, assim como uma grande quantidade de animais na área inundada.

Concluída a campanha e cessadas as chuvas, deu-se início, por determinação expressa da Presidência da República, ao trabalho de reconstrução, 24 horas por dia, do Açude que leva o nome do então presidente Juscelino Kubitschek. No momento de inauguração, a BAFZ pode orgulhar-se, com justiça, da ação de seus homens.

Fique por dentro

História revivida

Localizado no leito do Rio Jaguaribe, na região Centro-Sul do Ceará, o Açude Orós tem uma história que remonta à época do Brasil Império, quando várias secas se sucederam dizimando um grande número de pessoas e animais. Represar o Rio Jaguaribe e fazê-lo perene surgiu como a alternativa mais viável para resolver o problema da escassez de água no sertão cearense. Ao ser construído, chegou a inundar vilarejos próximos ao leito do rio, dentre eles o mais famoso: Conceição do Buraco, hoje Guassussê. Foi construído pelo Dnocs, tendo suas obras concluídas em 1961.

Erotilde Honório

Despertar a memória

"As notícias sobre as chuvas e a barragem do Orós tomaram contam não apenas do Ceará, mas de todo o País. As manchetes dos jornais nos três dias que antecederam o desfecho eram dramáticas. O desastre não foi maior porque a natureza foi providencial: primeiro, protegeu os moradores da bacia do açude, fazendo baixar o nível da água pelo escoamento; segundo, a parede não rompeu, a água foi traçando seu próprio caminho, desgastando gradativamente uma das laterais até chegar à fundações. (...) As consequências sociais da enchente não eram aventadas em notícias, mas houve uma grande mobilização em torno do Orós e suas vítimas, num movimento de solidariedade humana que ainda não se verificava em nossa terra, em tais proporções e profundidade, mesmo nos momentos culminantes de sua história. A tragédia do grande reservatório é uma tragédia que paga a si mesma pelos benefícios que provocou à margem de seus males. O Orós, que era a mais querida de nossas obras públicas, tornou-se agora qualquer coisa de sagrado e inviolável graças ao clima psicológico que desencadeou no Estado e fora dele, em virtude da ameaça de sua destruição. Graças a Deus, a majestosa represa teve apenas que ser reconstruída. E graças ao presidente Kubitschek, a reconstrução iniciou rapidamente".

Trecho do livro "O Despertar da Memória: as narrativas dos excluídos da terra na construção do Açude Orós", (págs.63 a 65)

JANAYDE GONÇALVES
Repórter

regional diário do nordeste

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