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quinta-feira, 18 de março de 2010

SENTAR-SE À JANELA DO AVIÃO


Por Alexandre Garcia



Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião.

A ansiedade de voar era enorme.

Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o

vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada

vez mais rápido até a decolagem.

Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens,

chegando ao céu azul.

Tudo era novidade e fantasia..

Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o

início, voar era uma necessidade constante.

As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a

estar em dois lugares num mesmo dia.

No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos

de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de

esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e

tal.

O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de

me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades

abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.

Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido

e sair rápido.

As poltronas do corredor agora eram exigência . Mais fáceis para sair

sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora,

com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem,

comigo mesmo.

Por um desses maravilhosos ‘acasos’ do destino, estava eu louco para

voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba

o mais rápido possível..

O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na

última poltrona.

Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.

Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela.

Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me

preocupava em olhar.

E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez

que voara.

Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga.

Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela

chuva, apareceu o céu.

Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que

brilhava como se tivesse acabado de nascer.

Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava

deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela

vista..

Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha

vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por

exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do

meu trabalho e convívio pessoal?

Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela

janela da nossa vida.

A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o

que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias,

tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.

Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar,

sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que

a viagem nos oferece.

Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do

corredor, para embarcar e desembarcar rápido e ‘ganhar tempo’, pare um

pouco e reflita sobre aonde você quer chegar.

A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é

anunciada pelo comandante.

Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.

Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder

nenhum detalhe.

Afinal, ‘a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos’.

Alexandre Garcia

via josé domingos

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