Tripulantes da companhia aérea Gol se reuniram na tarde desta  quinta-feira (5) com representantes do Sindicato Nacional dos Aeronautas  (SNA), em São Paulo,  para tratar das insatisfações dos trabalhadores  com a empresa. No  encontro, os funcionários decidiram trocar a greve que  havia sido  anunciada para o dia 13 de agosto por uma assembleia da  categoria,  segundo Carlos Camacho, diretor do SNA.
A paralisação foi convocada por tripulantes anônimos em um blog   criado por funcionários insatisfeitos com o novo modelo de escala de   trabalho implementado pela Gol. Na convocatória para a paralisação, além   de reivindicar uma escala “mais humana”, os trabalhadores exigiam   aumento salarial de 25% para toda a categoria, planos de saúde e   previdência privada, além da implementação de um plano de carreira para   todos os funcionários.
Até  então, os trabalhadores, que não são sindicalizados, ainda não  haviam  se reunido com o sindicato e tentavam se mobilizar por meio do  blog e  de listas de emails. Após o encontro com o SNA --no qual  participaram  mais de 100 trabalhadores, segundo Camacho-- ficou decido  que as  reivindicações seriam discutidas e redefinidas na assembleia do  dia 13.  Antes, na segunda-feira (9), tripulantes, sindicato e a Gol se   reunirão na Procuradoria Regional do Trabalho.
No  início da semana, um alto índice de atrasos e cancelamentos em  voos da  Gol prejudicou o funcionamento dos aeroportos e atrapalhou a  vida dos  passageiros em todo o país. A situação só começou a normalizar a  partir  de ontem.
Nova escala gerou caos aéreo
Em reunião convocada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) na terça-feira, a Gol assumiu que problemas em um novo software para planejamento das escalas dos funcionários --implantado no início de julho-- gerou "dados incorretos que culminaram no planejamento inadequado da malha aérea e da jornada de trabalho dos tripulantes”.
Em reunião convocada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) na terça-feira, a Gol assumiu que problemas em um novo software para planejamento das escalas dos funcionários --implantado no início de julho-- gerou "dados incorretos que culminaram no planejamento inadequado da malha aérea e da jornada de trabalho dos tripulantes”.
Após  se reunir com o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), a Gol  aceitou  reformular as escalas para impedir que os tripulantes  continuassem  trabalhando mais do que o permitido. Com menos mão-de-obra,  a Gol não  conseguiu dar conta de todos os voos que estavam programados,  o que  acabou resultando no caos sentido por passageiros em vários  aeroportos  do Brasil.
Segundo  tripulantes da companhia, há muito tempo os funcionários  estão sendo  submetidos a condições de trabalhos inadequadas, em  desacordo com a  legislação trabalhista que regulamenta a categoria. De  acordo com eles,  em julho ocorreu um agravamento da situação, após o  problema com a  nova escala, que é operada por computadores e foi  instalada em  substituição ao modelo anterior, controlado manualmente.
“O  sistema novo não computa algumas variáveis presentes na legislação   brasileira. Ele não considera os atrasos e os cancelamentos de voos,   nem fechamento de aeroportos por conta do mau tempo, por exemplo”, diz   uma chefe de cabine de 30 anos, que trabalha na Gol há sete e preferiu   não se identificar com medo de sofrer retaliações pela empresa.
“Essa  falha gerou um ‘efeito dominó', que refletiu em toda malha  aeroviária.  Os tripulantes que já haviam trabalhado mais do que o  permitido  tiveram que parar. Aí começou o assédio moral e as ameaças da  empresa  para obrigar os funcionários a trabalhar e a desrespeitar a   legislação”, afirma.
Além  disso, a chefe de cabine afirma que a categoria sofreu uma  defasagem  salarial de 50% nos últimos 10 anos, o que está fazendo com  que muitas  pessoas desistam da função. “No início da década um  tripulante da Varig  recebia R$ 40 por hora de voo, em média. Hoje é de  R$ 22. Nossa função  é estressante. Tripulante fica cinco, seis dias fora  de casa, trabalha  dia e noite, não pode frequentar nenhuma atividade  fixa, vive por  escala”, diz.
Por  conta do problema, um copiloto de 31 anos baseado em São Paulo,   funcionário da Gol desde 2005, disse que ele mesmo e vários colegas já   pegaram no sono durante viagens. “Eu já dormi algumas vezes em voo.   Estamos bem sobrecarregados mesmo, e está complicado de manter a cabeça   no que estamos fazendo. Precisamos de tranquilidade e de uma jornada   decente, mas o que acontece é que somos explorados ao máximo”, disse o   tripulante, que preferiu não se identificar para não sofrer retaliações   da empresa.
Um  outro copiloto que também não quis se identificar afirmou que  quando  não há uma jornada de trabalho regular não é “incomum piloto e   copilotos dormirem em pleno voo”. “Pedimos para o chefe de cabine ir de   meia em meia hora checar se há alguém acordado. É um risco enorme, e   tudo isso foi muito agravado em julho”, diz o funcionário, de 30 anos,   há quatro na Gol.
Brechas na lei trabalhista
De acordo com a Lei do Aeronauta (Lei 7.183/84), por questões de segurança operacional, um tripulante de avião a jato não pode exceder 85 horas de voo por mês, 230 horas por trimestre e 850 horas por ano. O texto também impede que a tripulação que cumpriu três horas de jornada entre 23h e 6h viaje na madrugada do dia seguinte.
De acordo com a Lei do Aeronauta (Lei 7.183/84), por questões de segurança operacional, um tripulante de avião a jato não pode exceder 85 horas de voo por mês, 230 horas por trimestre e 850 horas por ano. O texto também impede que a tripulação que cumpriu três horas de jornada entre 23h e 6h viaje na madrugada do dia seguinte.
Há  três brechas na lei, segundo aeronautas entrevistados pela  reportagem.  Para Carlos Camacho, algumas empresas aproveitam uma falha  no texto da  regulamentação da categoria e obrigam os tripulantes a  trabalhar  durante várias madrugadas seguidas.
“As  empresas se apropriaram de uma falha na regulamentação que  permite uma  interpretação segundo a qual só não podem ser escalados na  madrugada  seguinte os tripulantes que voltaram à sua base. O problema é  que  muitas vezes os trabalhadores viajam de madrugada, mas não voltam  para  sua base, vão para outras cidades”, diz. “Mas o que está em questão  é a  condição física do ser humano, e não a cidade para onde o  tripulante  vai”, afirma.
O  copiloto de 30 anos que falou com a reportagem disse as empresas   encontraram um outro “buraco” na lei. “Se o tripulante chegar na base   entre 23h e 6h, não pode ser acionado para voar na noite seguinte. Mas   se ele decolar 22h e pousar 6h05, por exemplo, as empresas dizem que não   há problema nenhum e esfregam a lei na nossa cara. A regra foi mal   escrita”, diz o tripulante.
“Buracos negros”
Uma outra chefe de cabine, que possui 31 anos e está há seis na Gol, afirma que além do excesso de trabalho, os tripulantes estão sujeitos a riscos decorrentes da falta de infraestrutura adequada no espaço aéreo brasileiro.
Uma outra chefe de cabine, que possui 31 anos e está há seis na Gol, afirma que além do excesso de trabalho, os tripulantes estão sujeitos a riscos decorrentes da falta de infraestrutura adequada no espaço aéreo brasileiro.
“Existem ‘buracos negros’ no Norte e Nordeste do país, nos quais não  há comunicação entre piloto e torre”, diz. “Uma vez, saindo de Fortaleza   para Natal, desviamos de um tucano (aeronave de pequeno porte) a um   pouco mais de 100 metros. Uma amiga que tripulava no dia 1º de agosto   num voo do Recife para Campinas contou que a aeronave quase colidiu com   um avião cargueiro, que teve que arremeter o pouso para não ter  colisão.  Infelizmente só dão importância para isso quando aconteceu um   acidente”, conta.
Outro lado
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Gol negou que desrespeita a legislação trabalhista e obriga os funcionários a trabalhar mais. A companhia disse que os problemas com atrasos e cancelamentos foram causados justamente porque o limite de horas trabalhadas pelos tripulantes foi respeitado. A Gol afirmou ainda que o problema com a escala foi resolvido.
ifronline
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Gol negou que desrespeita a legislação trabalhista e obriga os funcionários a trabalhar mais. A companhia disse que os problemas com atrasos e cancelamentos foram causados justamente porque o limite de horas trabalhadas pelos tripulantes foi respeitado. A Gol afirmou ainda que o problema com a escala foi resolvido.
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