Brasília –
“Com as atuais perspectivas de crescimento econômico do país, acho difícil que a infraestrutura dos aeroportos consiga atender a demanda de forma adequada. A possibilidade de caos aéreo hoje é considerável”, afirma o analista da Lafis Jonas Okawara. Segundo ele, os aeroportos já estão operando no seu limite de capacidade e, se houver qualquer aumento repentino da demanda, dificilmente o sistema aéreo conseguirá responder rapidamente à mudança. “Se houver uma chuva forte em um período como o das férias, haverá uma tendência muito forte de que ocorra um novo caos aéreo”, exemplifica.
A Lafis estima que a procura por voos domésticos em 2010 crescerá 35,2% devido à elevação da renda, com o maior acesso das classes C e D aos serviços aéreos e à expansão dos destinos pelas companhias aéreas. No mercado de voos internacionais, a tendência de valorização do real e de crescimento da renda média devem gerar um incremento de 18,4%.
Os dados da Agência Nacional de Aviação Civil já mostram a tendência de forte crescimento da demanda. No entanto, a expansão da oferta não acontece na mesma proporção, o que significa que as companhias aéreas também não estão preparadas para atender ao aumento da procura. Nos cinco primeiros meses do ano, a demanda por voos domésticos cresceu 29,9% e a oferta, 19,7%; a demanda por voos internacionais cresceu 11,7%, enquanto a oferta recuou 0,4%.
As companhias aéreas inovam cada vez mais, criando oportunidades para o consumidor adquirir as passagens. Já é possível encontrar bilhetes da TAM nas Casas Bahia, da Azul nos supermercados e pagar o ticket da Webjet por meio de boleto bancário. Ao mesmo tempo, as condições macroeconômicas do país favorecem o aumento da demanda. A Lafis estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do país irá crescer 6,8% em 2010, o rendimento médio, 3%, e a massa salarial, 5,1%. Para 2011 e 2012, a consultoria prevê crescimento de 7,3% e 7,1%, respectivamente – que só não será maior porque há uma expectativa de aumento no preço do petróleo, encarecendo as passagens.
Cenário nebuloso
Segundo Okawara, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 e a intenção do governo de captar investimentos em infraestrutura até a Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016 podem significar perspectivas melhores no longo prazo. “O problema é que esses investimentos não vão acontecer agora. No curto-prazo, o cenário no setor aéreo é muito nebuloso”, alerta o analista.
O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA), José Márcio Mollo, concorda com essa visão de Okawara, uma vez que a maioria dos projetos da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) para a Copa ainda nem começaram a sair do papel. “Os aeroportos brasileiros estão saturados. Brasília é um dos mais problemáticos e já está operando com 2 milhões de passageiros acima da sua capacidade. E como os processos de contratação da Infraero são lentos devido à exigência das licitações, as obras necessárias para desafogar o tráfego aéreo não avançam no ritmo desejado”, afirma. “O maior problema da aviação hoje não é somente a falta de infraestrutura aeroportuária, mas também a má gestão dos aeroportos”, critica.
De acordo com dados da Infraero, está previsto para este ano R$ 1,5 bilhão em investimentos nos aeroportos brasileiros. Entre 2011 e 2014, o desembolso será de R$ 9,7 bilhões. No entanto, a maior parte das obras listadas pela companhia e que estão voltadas para a Copa têm previsão de conclusão para 2013. Esse prazo é considerado muito longo para o presidente do Snea. “Antes disso, haverá colapso”, alerta.
Gol nega acusações
Os problemas nos aeroportos brasileiros vão além do descaso das companhias aéreas para com o passageiro, que ainda não foi minimizado com as novas regras impostas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) desde meados de junho. Overbooking e falta de informações precisas sobre o portão de embarque exato são alguns dos problemas mais comuns enfrentados pelos passageiros além dos atrasos nos voos. Sem falar nas denúncias sobre o descumprimento das leis trabalhistas pela Gol investigadas pelo Ministério Público do Trabalho, que realizou segunda-feira uma audiência com a companhia aérea em São Paulo, na qual ela negou as acusações. O MPT informou que enviou um ofício à Anac para que ela envie mais detalhes sobre a Gol e a Webjet para investigação nesse sentido.
uai
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