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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Para analistas, novo caos aéreo, como o provocado pela Gol, é questão de tempo

Despreparo das empresas e saturação dos aeroportos sinalizam um período difícil para os que pretendem viajar de avião nos próximos meses

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São grandes as chances de cenas como as de sufoco protagonizadas pelos passageiros da Gol nos últimos dias voltarem a acontecer ainda este ano nos aeroportos do país. A associação do crescimento econômico do país ao aumento no número de promoções das passagens está produzindo uma explosão na demanda por voos nacionais e internacionais. Estudo elaborado pela consultoria Lafis constata que os aeroportos não estão preparados para tamanha procura e é elevado o risco de que ocorra um novo caos aéreo.

“Com as atuais perspectivas de crescimento econômico do país, acho difícil que a infraestrutura dos aeroportos consiga atender a demanda de forma adequada. A possibilidade de caos aéreo hoje é considerável”, afirma Jonas Okawara, analista da Lafis. Segundo ele, os aeroportos já estão operando no seu limite de capacidade e, se houver qualquer aumento repentino de passageiros, dificilmente o sistema aéreo conseguirá responder rapidamente à mudança. “Se houver uma chuva forte num período como o das férias, haverá uma tendência muito forte de que ocorra o pior”, reforça.

A Lafis estima que a procura por voos domésticos em 2010 crescerá 35,2% devido à elevação da renda, com o maior acesso das classes C e D aos serviços aéreos e à expansão dos destinos pelas companhias. No mercado de voos internacionais, a tendência de valorização do real ante o dólar e de aumento da renda média devem gerar um incremento de 18,4%.

Sedução

Os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já mostram a tendência de forte crescimento da demanda. No entanto, a expansão da oferta não acontece na mesma proporção, o que significa que as companhias aéreas também não estão preparadas para atender ao aumento da procura. Nos cinco primeiros meses do ano, a demanda por voos domésticos cresceu 29,9% e a oferta, 19,7%; a demanda por voos internacionais avançou 11,7%, enquanto a oferta recuou 0,4%.

Apesar desse descompasso, as companhias aéreas não se intimidam em inovar nas passagens para seduzir os consumidores. Já é possível encontrar bilhetes da TAM nas Casas Bahia; da Azul, nos supermercados; e pagar o tíquete da Webjet por meio de boleto bancário. Diante de tais facilidades, as condições macroeconômicas do país favorecem o aumento da demanda. A Lafis estima que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 6,8% em 2010; o rendimento médio, 3,0%; e a massa salarial, 5,1%. Para 2011 e 2012, a consultoria prevê incremento na demanda por voos de 7,3% e 7,1%, respectivamente, números que só não serão maiores por causa da expectativa de aumento no preço do petróleo, encarecendo as passagens.

Cenário nebuloso

Segundo Okawara, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 e a intenção do governo de captar investimentos em infraestrutura até a Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016 podem significar perspectivas melhores no longo prazo. “O problema é que tais investimentos não vão acontecer agora. No curto prazo, o cenário no setor aéreo é muito nebuloso”, alerta o analista.

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O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), José Márcio Mollo, concorda com essa visão. Ele diz que a maioria dos projetos da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) para a Copa ainda nem começaram a sair do papel. “Os aeroportos brasileiros estão saturados. Brasília é um dos mais problemáticos e já está operando com dois milhões de passageiros acima da sua capacidade. Como os processos de contratação da Infraero são lentos devido à exigência das licitações, as obras necessárias para desafogar o tráfego não avançam no ritmo desejado”, afirma. “O maior problema da aviação hoje não é somente a falta de infraestrutura aeroportuária, mas também a má gestão dos aeroportos”, critica.

De acordo com dados da Infraero, estão previstos investimentos de R$ 1,5 bilhão nos aeroportos neste ano. Entre 2011 e 2014, o desembolso programado é de R$ 9,7 bilhões. No entanto, a maior parte das obras listadas pela estatal e que estão voltadas para a Copa têm previsão de conclusão para 2013. Esse prazo é considerado muito longo para o presidente do Snea. “Antes disso, haverá colapso”, alerta Mollo.

Sobram problemas

Os problemas nos aeroportos brasileiros vão além do descaso das companhias aéreas com o passageiro e que ainda não foi minimizado com as novas regras impostas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) desde meados de junho. Overbooking e falta de informações precisas sobre o portão de embarque são alguns dos problemas mais comuns enfrentados pelos viajantes, sem falar dos atrasos nos voos. Por fim, existem as denúncias sobre o descumprimento das leis trabalhistas pela Gol, investigada pelo Ministério Público do Trabalho. Ontem, o MPT realizou uma audiência com a empresa em São Paulo, na qual ela negou as acusações. O Ministério Público informou que enviou um ofício à Anac pedindo mais detalhes sobre a Gol e a Webjet para investigação nesse sentido.

Em meio ao caos provocado pela confusão no sistema de escala da tripulação da Gol, o Ministério Público também encaminhou na semana passada um ofício para a Anac e para a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) no qual solicitou, entre outras coisas, a informação sobre as medidas emergencialmente adotadas para equacionar o problema dos atrasos.

Questão antiga

Mas os alertas sobre um colapso no transporte aéreo brasileiro não são de agora. Há mais de dez anos, o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, o maior do país, já dava sinais de saturação. Enquanto isso, a proposta de privatização da Infraero, responsável pela administração de 67 aeroportos no país, como forma de acelerar os investimentos nos aeroportos foi engavetada em meio ao movimento de privatizações dos governos FHC e também esquecida nos governos Lula.

De lá para cá, pouco mudou, especialmente na capacidade dos principais portões de entrada de turistas e de investidores estrangeiros no país. Enquanto isso, o movimento dos aeroportos só cresceu. De janeiro a junho deste ano, por exemplo, saltou 22,5% em comparação ao mesmo período de 2009.

No início deste ano, o Sindicado Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) divulgou um estudo apontando a criticidade do sistema e a necessidade dos investimentos urgentes em infraestrutura nos aeroportos, que ainda são carentes de projetos inovadores como os da China e da Índia.

E o estudo elaborado recentemente pela Lafis segue a mesma linha e aponta que nos aeroportos nacionais faltam áreas de armazenagem, instalações para produtos especiais e mão de obra.
correio brasiliense

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