
Emissões aéreas e marítimas mundiais, um dos temas que mais divide  países industrializados e em desenvolvimento nas discussões  internacionais sobre um acordo climático, estão na agenda da conferência  das Nações Unidas em Cancún. O fato é novidade, pois este tema sequer  era comentado em Copenhague, em 2009. Mas alguns, entre eles o Brasil,  não gostam do que está sobre a mesa.
Emissões de gases-estufa de  aviões e navios respondem por cerca de 5% das emissões mundiais. E estão  crescendo. Não há nenhuma regulamentação internacional sobre isso. É  fácil entender o motivo: qual país é o responsável por emissões de um  voo entre Londres e Nova York? E quem responde pelas emissões sobre o  Oceano Atlântico? As emissões de navios com bandeira panamenha, em um  porto em Belize, com carga chinesa e rumando para Hamburgo em uma rota  cheia de escalas devem ser colocadas na conta de quem?
Foi pela  dificuldade de trabalhar com fontes emissoras em movimento que, em 1997,  quando o Protocolo de Kyoto foi aprovado, aviões e navios ficaram fora  do acordo. Na ocasião, porém, acertou-se que duas agências ligadas à  ONU, a Organização Marítima Internacional (OMI) e a Organização da  Aviação Civil Internacional (Oaci) cuidariam do assunto.
"Mas,  anos depois, nada realmente aconteceu", critica um funcionário da ONU  que conhece bem esse tema. A associação marítima, diz ele, tem uma  dezena de propostas em estudo, mas o assunto não decola. Em 2007, na  conferência do clima de Báli, os delegados da convenção do clima  resolveram retomar o assunto.
O debate amadureceu, mas o tema  opõe radicalmente países industrializados e em desenvolvimento. Em  Cancún, uma proposta chilena foi apresentada. Ela menciona que qualquer  regulamentação desses dois setores têm que observar o princípio de  responsabilidades comuns, mas diferenciadas, dos países (ou seja, que os  industrializados têm que assumir a maior parte da conta) e também o  Protocolo de Kyoto.
A novidade é que propõe que as medidas para  controlar as emissões (que podem ser taxas de carbono ou um limite para  emitir e a comercialização de licenças) envolvam todos os países. A  diferença seria feita depois de coletado os recursos de todos, países  industrializados e em desenvolvimento. O dinheiro do mundo em  desenvolvimento seria devolvido; o dos ricos iria para um fundo, que  poderia apoiar projetos de adaptação ou de tecnologias limpas.
"Não  me parece possível que esta proposta seja aprovada aqui", adianta um  negociador brasileiro. A Europa não gosta da ideia de retornar os  recursos. O Brasil não gosta da ideia de ter o mesmo tratamento para  industrializados e em desenvolvimento. "Estamos muito longe dos nossos  pontos de comércio", destaca um negociador brasileiro.
Não é só  isso. O Brasil teme que este tipo de regulamentação abra um precedente  perigoso - a chamada abordagem setorial, que os japoneses sempre  defenderam. Ou seja, no futuro, por exemplo, o setor de cimento ou  siderúrgico poderia sofrer o mesmo tipo de taxação, independentemente do  país onde estão as empresas.
"As emissões de aviões e de navios  são únicas, não ocorrem apenas em territórios nacionais", diz um  observador próximo a este debate. "O caso do cimento ou das siderúrgicas  é bem diferente."
A Europa pressiona para que este assunto tenha  regras e possa engrossar seus mercados de carbono. No relatório dos  especialistas convocados pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para  encontrar novas fontes de recursos que possam bancar os desafios  climáticos, emissões aéreas e marítimas são peça fundamental.
No  caso da navegação, o peso dos combustíveis não é um componente tão  fundamental, mas, para a aviação, a equação é bem diferente. "Esta pode  ser uma grande oportunidade para os biocombustíveis brasileiros",  comenta um especialista europeu.
"Começam a aparecer  oportunidades de destravar este ponto da negociação do clima e, neste  sentido, o que for decidido em Cancún pode ser um grande avanço",  comenta Mark Luttes, coordenador da política de finanças do WWF  International. "A proposta chilena trata de uma maneira diferente o  jeito de encontrar recursos para financiar ações em países em  desenvolvimento."
Fonte: Valor Econômico/Daniela Chiaretti | De Cancún
portos e navios
 
 
 
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