Um problema no sistema de gerenciamento de escala da companhia aérea Gol fez o Brasil relembrar, entre segunda e terça-feira, o caos aéreo instalado nos aeroportos em meados de 2006. A falha impediu que tripulações que haviam atingido o limite de trabalho seguissem viagem, afetando os voos programados. Mas as reclamações não se limitam apenas aos passageiros nas salas de embarque. Uma comissária que atua na Gol desde 2007 disse ao Terra que o volume de trabalho se tornou insustentável após o problema, sofrendo mais estresse que durante o colapso da Varig, sua antiga companhia.
"Era mais fácil trabalhar sem receber salário do que receber direitinho e trabalhar dessa forma", disse a comissária, que não quis se identificar. Ela afirma que os colegas estão sobrecarregados com o número de horas de voo e que muitos pediram demissão, ou licença médica, piorando a situação.
"Após a implantação do sistema, as escalas começaram a ficar confusas e as horas de trabalho aumentaram. As pessoas começaram a ficar sobrecarregadas, nervosas, e muita gente começou a se afastar (...). A nova escala não respeita as folgas, nem o descanso, a gente sai de casa e não sabe onde vai dormir, nem quando vai voltar. Em um dia, minha escala chegou a mudar três vezes."
Em reunião com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Gol admitiu a falha no software NetLine/Crew como a causa dos problemas. A fabricante do sistema, a companhia alemã Lufthansa, disse, no entanto, que a aérea brasileira não comunicou problemas e que o programa foi elaborado com base na legislação trabalhista brasileira.
A lei nº 7.183, de 1984, que regulamenta a profissão do aeronauta, estabelece que a jornada de trabalho, contada entre a hora da apresentação do tripulante e encerrada 30 minutos após a parada final dos motores, não pode exceder 11 horas diárias, 85 mensais, 230 trimestrais ou 850 anuais para tripulações simples.
Os atrasos começaram a ser registrados no fim de semana, em pleno fim das férias escolares. Só na segunda-feira, dos 818 voos domésticos programados, 430 tiveram atrasos superiores a 30 minutos, além de 102 cancelamentos.
Gol diz que trabalha dentro da lei
Em nota divulgada na terça-feira, a Gol afirmou que o seu quadro de 5 mil tripulantes tem a carga horária de trabalho de acordo com a legislação vigente do setor. A companhia estabeleceu um plano de ação para evitar os atrasos e cancelamentos, deslocando cinco aeronaves Boeing 767, utilizados em fretamentos, para aumentar a capacidade de acomodação de passageiros.
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