27/08/2010  - Os quatro "Ps" do marketing - produto, preço, praça e promoção - são  sempre citados como fundamentais para qualquer empresa. Essa lista deixa  de fora, no entanto, um ingrediente que sempre considerei  importantíssimo: Diversão, com "D" maiúsculo. No início da Virgin  Atlantic, em 1984, contávamos com um pessoal de primeira linha e uma  porção de boas ideias. Infelizmente, não tínhamos muito dinheiro. Nossa  frota era pequena - se é que podemos chamar um único avião de frota - e o  dinheiro da publicidade era mínimo. Não havia muito o que fazer em  relação à nossa frota de uma nota só. Mas tínhamos de nos esforçar ao  máximo para extrair grandes resultados do parco orçamento disponível  para o marketing. Por força das circunstâncias, tornei-me uma espécie de  vítima voluntária de toda espécie de aventura hostil e insana para  promover a jovem Virgin Atlantic. Não dava para comprar um anúncio no  The New York Times, mas, sempre que meu barco afundava ou eu sobrevivia a  um acidente de balão, lá estava o logo da Virgin no jornal.
Com o tempo, começamos também a  usar o humor para veicular anúncios divertidos para atrair a atenção do  público - o que causou certa estranheza no universo solene das  companhias aéreas. A estratégia deu certo e trouxe um bocado de  visibilidade. Não demorou muito para que a Virgin Atlantic se tornasse  sinônimo de uma empresa com personalidade audaciosa, bem-sucedida e,  principalmente, dotada de uma estratégia inovadora em relação à aviação  comercial.
As equipes de marketing de  Londres e de Nova York normalmente reagiam com rapidez às notícias do  dia e, em 24 horas, colocavam anúncios com mensagens táticas nos  principais mercados. Um dia depois que John Sununu, na época chefe de  gabinete da Casa Branca, foi punido por usar dinheiro público para pagar  uma limusine nas viagens pessoais que havia feito, a Virgin veiculou -  apenas uma vez - um anúncio dizendo que, se ele tivesse viajado pela  nossa empresa, a limusine teria saído de graça! Quando o general Manuel  Noriega, ex-homem-forte do Panamá, foi extraditado para Miami para ser  julgado, pegamos uma foto enorme dele e pusemos a seguinte legenda:  "Somente um homem conseguiu voar para Miami num voo mais barato do que o  da Virgin Atlantic!"
As peças publicitárias eram  sempre abusadas. Os anúncios deram à empresa uma personalidade distinta  em seus primeiros anos, o que foi fundamental para seu sucesso e seu  crescimento. Nossos funcionários também gostavam do humor e do tom de  brincadeira das propagandas. Eles se sentiam orgulhosos de fazer parte  de uma empresa que trazia diversão. Às vezes, os anúncios eram bastante  agressivos, principalmente quando provocávamos nossos adversários  preferidos, como a British Airways. Uma de nossas investidas contra ela  aconteceu no dia da inauguração da London Eye, a roda gigante de  Londres, no final da década de 90. A empresa patrocinadora da atração, a  British Airways, pretendia fazer daquilo um grande acontecimento. No  momento em que a roda deveria ser içada, porém, os engenheiros não  conseguiram erguê-la. Aproveitamos a ocasião para jogar lenha na  fogueira. Arrumamos bem depressa um pequeno dirigível, que sobrevoou o  céu de Londres com uma faixa onde se lia: "A B.A. não consegue  levantar". Fomos atrevidos, mas nós é que aparecemos nas manchetes  naquela noite, e não nosso concorrente.
Logo o mesmo espírito começou a  se espalhar por tudo o que fazíamos, e não ficou apenas restrito a  nossos anúncios. Era imprescindível que houvesse uma atmosfera agradável  tanto para os tripulantes quanto para os passageiros a 30 000 pés de  altura. Pequenos toques deixavam claro que você estava num avião da  Virgin. Na parte de baixo do saleiro e do recipiente de pimenta, que  tinham o formato de miniaeronaves, mandamos estampar: "Roubado da Virgin  Atlantic". Na faca de manteiga, pusemos a seguinte frase: "Stainless  steal" (em inglês, steal significa "roubar". Aqui a empresa fez um  trocadilho com stainless steel, isto é, "aço inoxidável"). Mandamos  instalar um bar na primeira classe para que as pessoas pudessem  conversar e se conhecer melhor - afinal de contas, viajar deveria ser  uma coisa prazerosa. Para entreter os passageiros, fomos os primeiros a  instalar aparelhos de TV nas poltronas. Servíamos sorvete no meio da  viagem. Fizemos todo o possível para deixar as pessoas à vontade, para  que desfrutassem realmente do voo. 
Nos títulos de meus livros, a  brincadeira continua - como em "Perdendo minha virgindade" ou "Dane-se,  vamos fazer aquilo". Mas as editoras vetaram o título de meu último  livro, "Agora vai levantar", sobre a história da aviação, e o  substituíram por "Em busca dos céus". Veremos se venderá bem... No  decorrer dos anos, lancei outras empresas vestindo fantasias para  divertir nosso pessoal, nossos sócios e a imprensa. Já pulei de prédios  altos, me pendurei em pontes, entrei com tanques na Times Square - tudo  para chamar a atenção e reforçar o senso de humor.
Tente levar a si mesmo e sua  empresa de forma menos carrancuda. Você ficará surpreso ao ver quanta  gente vai encará-lo com mais seriedade a partir desse momento.
-------------------------------------
Por Richard Branson , para Exame
Texto originalmente publicado na revista EXAME de 05 de maio de 2010
Richard Branson é o fundador do  grupo Virgin. Seus investimentos vão da música à aviação, vestuário,  bio-combustíveis e até viagens aeroespaciais. Richard Branson é o 245º  homem mais rico do mundo, segundo a revista Forbes; a sua fortuna, em  2008, foi avaliada em 2,8 bilhões USD.
o marketizador
o marketizador
 

 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário