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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Voo alto


O mercado brasileiro de transporte aéreo de passageiros cresceu 59% de 2003 para 2008, enquanto o mercado mundial cresceu 35%.

No ano passado, cresceu 13%, enquanto o mundo encolheu 2,6%.

Isso torna o mercado brasileiro atraente para as empresas em geral. Hoje, a lei impede estrangeiros com mais de 20% das empresas, mas a imprensa internacional está contando que a LAN comprou a TAM.

É uma forma desatualizada de nacionalismo. Por que os brasileiros se sentiriam mais atendidos em seus brios patrióticos apenas pelo fato de a família Amaro e a família Constantino serem as donas da aviação brasileira?

O Senado já aprovou uma ampliação de 20% para 49% na participação de capital estrangeiro em empresas aéreas. Foi para a Câmara, está sendo votado com mudanças, portanto, tem que voltar ao Senado. A expectativa é que até o fim do ano esteja aprovado.

O problema é que pelo que conta, por exemplo, a “Business Week”, a LAN pagou US$ 3,7 bi pela TAM, e seus acionistas vão ficar com 70% da empresa. Aqui, a notícia foi dada de forma nebulosa, porque ao mesmo tempo em que se diz que os acionistas da LAN ficarão com 71%, se diz que a empresa não foi comprada, que a gestão será compartilhada e que a LAN ficará com 20% da empresa. Ou seja, os números são deliberadamente confusos.

Muito provavelmente a operação será apresentada de forma mascarada para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), quando chegar lá, porque a lei brasileira ainda limita em 20%. O que se diz no mercado é que a operação foi feita na expectativa de que o Congresso altere a lei.

Algumas empresas tem mostrado interesse em vir para o Brasil, como a Ryanair, uma operadora de baixo custo, e a Virgin. A própria LAN vem tentando entrar no país há tempos.

O Brasil é atraente por ser um dos poucos países do mundo de dimensões continentais, além disso tem crescido muito, e tem perspectiva de continuar crescendo. O país está atrasado no conceito de organização do mercado de aviação e tem aeroportos que estrangulam o crescimento.

No último dado em que há estatística para a comparação mundial, o ano de 2007, o Brasil era o nono mercado de aviação pelo número de embarques e desembarques, segundo o “World Airport Traffic Report”, do Conselho Internacional de Aeroportos.

Houve naquele ano, 120,4 milhões de embarques e desembarques de passageiros no Brasil; isso é mais do que o triplo do que a África do Sul está tendo em 2010, que é 37 milhões. O oitavo maior mercado é a Itália, mas a aposta dos especialistas é que com o crescimento dos últimos dois anos o Brasil já ultrapassou a Itália. Até 2014, o Brasil deve ter 170 milhões de embarques e desembarques.

Há muita discussão a respeito de o Brasil estar ou não preparado para o aumento do tráfego aéreo de passageiros na Copa do Mundo.

Mas a dificuldade não é a Copa. Ela vai acrescentar apenas 3,5% do volume do mercado. Aumentará apenas seis milhões de embarques e desembarques. O que o Brasil precisa se preparar é para atender ao seu próprio crescimento.

Ontem, a Fitch colocou sob perspectiva negativa o rating da LAN, e sob perspectiva positiva o rating da TAM. Isso aconteceu porque o endividamento da companhia brasileira é quase três vezes maior que o da empresa chilena: US$ 10,8 bi contra US$ 3,7 bi em junho deste ano. Com o operação, a LAN estará, na prática, absorvendo parte da dívida da TAM. A analista do setor de aviação da SLW corretora, Rosângela Ribeiro, explica que 87% do endividamento do TAM é em moeda estrangeira.

— A TAM teve prejuízo de US$ 120 milhões no primeiro semestre e isso aconteceu não por causa das operações da companhia, mas por causa de resultados financeiros. Cerca de 87% do endividamento da TAM é em dólar. Agora, com a entrada da LAN, a companhia chilena vai absorver parte da dívida — explicou.

O analista-chefe da Modal Asset, Eduardo Roche, diz que ainda é difícil classificar a operação que uniu as duas empresas:

— Falar em aquisição não dá, até porque a legislação não permite. Além disso, há uma divisão de poder com certo equilíbrio na nova divisão societária. É difícil de falar em aquisição disfarçada — afirmou.

Vários outros analistas acham que sim, que é uma compra disfarçada, feita na expectativa de que a lei vai mudar até o momento em que a operação tiver que ser enviada à Anac para ser aprovada.

miriam leitão

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