SÃO PAULO - Apesar do comando do mercado ameaçado constantemente no caso dos voos domésticos, a TAM (TAMM4) mantém sua posição de liderança e as perspectivas para a empresa se mostram positivas. Mais do que o market share, analistas destacam a eficiência e os bons números operacionais, vistos como ponto forte em um momento de acirramento da competição do setor de aviação.
Questões regulatórias e preço do petróleo
Encontram-se atualmente em andamento projetos para modificar o Código Brasileiro de Aeronáutica, com a principal alteração em votação sendo a possibilidade de aumento do capital estrangeiro no capital votante das empresas aéreas, chegando a até 49% - atualmente o máximo é de 20%. Para os analistas do Banco Fator, Jacqueline Lison e Gustavo Lôbo, a medida teria dois impactos: por um lado aumentaria o acesso ao mercado de capitais internacionais, mas por outro poderia aumentar a competição, pressionando o yield das empresas.
A questão regulatória é citada também pelo analista do Citigroup, Stephen Trent, como um impacto que poderia afetar negativamente no preço da ação e sobretudo na rentabilidade da empresa – como uma limitação sobre determinadas rotas, por exemplo.
Os analistas da Fator citam ainda outros impactos negativos: a demanda por rotas internacionais potencialmente menor e mudanças bruscas no preço do barril de petróleo.
Perspectivas do setor
Para a instituição, o principal ponto sobre o setor de transporte aéreo é que as empresas lidarão com “a retomada da demanda limitada pelo gargalo de infraestrutura aeroportuária”.
Em 2009, o primeiro semestre foi marcado por receita e desempenhos operacionais prejudicados por ocupação restrita, ainda como reflexo da crise. Mas, a partir de julho a melhora da conjuntura ajudou a incentivar a demanda.
Jacqueline e Lôbo lembram que a restrição da demanda não teve contrapartida de redução na oferta, levando a quedas de ocupação. A situação tornou-se ainda pior pelo fato de que não foi possível realizar aumento de preços.
Outro driver que deve nortear as empresas de aviação é a competição por passageiros de negócios – “mais rentáveis, pois têm demanda menos elástica, o que permite a cobrança de preços mais altos”, explicam os analistas do Fator.
No mesmo sentido, Felipe Rocha, da Link Investimentos, ressalta a importância do segmento nos números da TAM. “No geral, os dados do tráfego de janeiro foram positivos, com crescimento forte em ambos os mercados e taxas de ocupação elevadas. Acreditamos que isso seja efeito não só da demanda de turistas devido à alta temporada, mas também de uma maior demanda de passageiros corporativos”.
Case da TAM: liderança de mercado e operações
Pelos últimos dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) disponíveis, de janeiro de 2010, a participação de mercado mostrou um novo cenário: além da concorrência da GOL, a empresa, juntamente com a concorrente, perdeu espaço para a Azul (4,99%) e a WebJet (6,68%). Com a última distribuição de slots de Congonhas, a concorrência tende a se acirrar ainda mais, com as duas empresas passando a operar no aeroporto de São Paulo.A TAM tinha uma participação de 42,9% do mercado doméstico, contra 41,0% da GOL. A tendência dos últimos meses é de diminuição cada vez maior da distância entre as duas, com a TAM perdendo participação para a GOL.
Em janeiro, contudo, a diferença aumentou para 1,9 ponto percentual, ante 1 p.p. de dezembro. Isso se deve, em parte, ao fato das novas empresas terem abocanhado uma fatia maior da GOL do que da TAM.
Se no mercado doméstico o cenário é de competição crescente, no mercado internacional a TAM mantém a liderança isolada. Mas, apesar de deter participação de mercado mais de quatro vezes maior, a diferença diminuiu no primeiro mês – de 85%, a TAM passou a 81% do mercado. Já a GOL, subiu de 15% para 18% de market share.
Comentando a manutenção de market share ao longo dos anos, o analista do Citi afirmou que o potencial operacional da empresa é notável. “A transportadora manteve sua liderança no Brasil, enquanto a rival Varig tinha problemas financeiros”, afirma.
Mais do que o market share, o analista do Citi ressalta um dos pontos mais importantes da empresa, em sua visão, que é a melhora nas operações. “Isso está ancorado em maiores níves de ocupação, racionalização das rotas e uma certa desordem vivida por concorrentes, como Transbrasil e VASP”, enfatiza Trent.
Com relação aos novos correntes, porém, Trent vê um cenário difícil, considerando que o governo brasileiro estaria “facilitando a competição”. O analista cita a reestruturação dos slots e o possível aumento do limite de controle estrangeiro das companhias como exemplos deste aspecto. “Também me preocupa que o crescimento futuro deve vir dos competidores emergentes, como TAM e GOL servindo sobretudo rotas mais maduras”, finaliza o analista.
Riscos vão além da competição
Além do aumento da concorrência, outros dois fatores são citados por Trent: a exposição a mudanças cambiais e aos preços dos combustíveis. Os analistas do Fator adicionam ainda a dependência do crescimento da economia doméstica e internacional – apesar das boas projeções, um eventual mau momento da economia brasileira traz impactos fortes ao setor – e as limitações de infraestrutura aeroportuária.
“A estabilidade financeira da TAM poderia ser colocada em cheque no caso de uma depreciação significativa do real frente ao dólar, em função dos grandes custos denominados em dólar”, afirmou.
No caso dos preços do petróleo, o risco é menor, com o analista destacando a redução da exposição através de instrumentos de hedge realizados pela empresa.
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