Em dois anos, o setor de aviação poderá se beneficiar de uma tecnologia bem conhecida dos motoristas de carros: o sistema flex. A inovação está em desenvolvimento na planta da Magneti Marelli, em Hortolândia, na Região Metropolitana de Campinas. O objetivo é baratear o custo de operação de pequenas aeronaves e reduzir a agressão ao meio ambiente. Com a solução, constituída de um kit de componentes que gerencia eletronicamente o motor, será possível abastecer com gasolina de aviação (AVGAS), etanol ou uma mistura dos dois combustíveis.
A iniciativa é pioneira no mundo, segundo o executivo responsável pelo projeto na Magneti Marelli, Eduardo Campos. Ele ressaltou que, hoje, é possível abastecer aeronaves de pequeno porte, dependendo do modelo, com um ou outro combustível. O desenvolvimento do sistema multicombustíveis para aeronaves é uma parceria entre a empresa, a Divisão de Propulsão Aeronáutica e o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). O projeto foi apresentado, no Seminário sobre Fontes Renováveis de Energia na Aviação, em São José dos Campos, realizado pela Organização Brasileira para o Desenvolvimento da Certificação Aeronáutica (CTA-BR), no mês passado. O sistema não se aplica aos aviões de grande porte e jatos.
Engenheiro e gerente comercial da Divisão Powertrain da Magneti Marelli, Eduardo Campos, afirmou que o sistema tem o mesmo conceito do usado nos carros, porém a aplicação está sendo desenhada para as aeronaves de pequeno porte. Ele explicou que o motor desses aviões é a pistão, e o ciclo térmico é o mesmo dos veículos. O especialista comentou que o novo sistema trará evolução na composição dos equipamentos, que hoje ainda possuem carburadores e magnetos de ponto fixo de ignição. "As peças serão substituídas por um sistema de gerenciamento eletrônico que permitirá a escolha do tipo de combustível que vai no tanque da aeronave", disse.
Campos comentou que a gasolina de aviação tem componentes mais poluentes do que o etanol, e a possibilidade de escolha trará ganho econômico e ambiental. "O valor da hora de voo é muito elevado e será barateado com o novo sistema. O custo do litro do álcool é menor do que o da gasolina de aviação. Com o etanol há um ganho de performance, mas o consumo aumenta. No caso da gasolina, a autonomia é maior", comparou o especialista.
DIFERENÇA. O engenheiro e gerente comercial da Divisão Powertrain da Magneti Marelli salientou que a diferença na autonomia verificada na gasolina usada nos carros, que possui uma mistura de 25% de álcool anidro, a diferença com o combustível originado da cana de açúcar (álcool etílico) é de 25%. Na aviação geral, a variação estimada é de 15% a 20%. "A gasolina de aviação não tem a mistura do álcool. O sistema que está em desenvolvimento, e tem o suporte do CTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeronáutica) que possui o conhecimento dessa área, propiciará o uso de etanol, gasolina de aviação ou uma mistura em qualquer proporção dos dois combustíveis", ressaltou.
Ele acrescentou que para os pilotos e as empresas será ótimo. pois "Eles poderão reduzir os gastos e, dependendo do local onde estiverem, usar o combustível disponível ou escolher com qual deles irão abastecer o avião", comentou. O projeto começou há seis anos e está em fase de ensaios em campo de testes. "O sistema está em provas em equipamentos no chão. Não pretendemos queimar etapas. A estimativa do CTA é que até o final desse ano será possível realizar testes em voo. O projeto é viável e a projeção é que em dois anos ele poderá ser comercializado", afirmou.
De acordo com a empresa, o sistema flex para motores aeronáuticos será implantado inicialmente em um motor Lycoming 0-360 A1D, de fabricação americana, com potência 180 HP. Os ensaios de voo vão acontecer em uma aeronave AeroBoero 180. Campos destacou que três engenheiros do CTA participam do projeto e outros quatro são da multinacional italiana.
COMERCIALIZAÇÃO. A Magneti Marelli vai produzir os componentes do sistema que serão vendidos por uma outra empresa certificada pelo CTA. "Nós iremos fabricar os componentes e o software de gerenciamento do sistema. Uma outra empresa indicada pelo CTA será a responsável pela venda dos produtos", explicou o executivo, que vislumbrou uma oportunidade de expansão do setor e também uma futura exportação da aplicação.
A FRASE
"O valor da hora de voo é muito elevado e será barateado com o novo sistema. O custo do litro do álcool é menor do que o da gasolina de aviação."
Eduardo Campos
Executivo da Magneti Marelli
Empresa faturou R$ 2,245 bi
O NÚMERO
gazeta de ribeirão
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