Os responsáveis pela página publicaram uma enquete na qual perguntam “vou parar no dia 13?”. Por volta de 17h30 desta segunda-feira (2), 402 usuários do blog haviam votado; 70% eram favoráveis à paralisação, 17% contrários e 12% estavam indecisos. Não é necessário cadastro para votar. Nenhum dos blogueiros quis se identificar, e as mensagens são postadas por anônimos.
Na convocatória para a paralisação, além de reivindicar uma escala “mais humana”, os trabalhadores exigem aumento salarial de 25% para toda a categoria, plano de saúde, plano de previdência privada e plano de carreira para todos os funcionários.
A página foi criada em meados de julho, alguns dias depois de a Gol alterar o formato e o sistema que gera e administra a escala dos funcionários. Segundo os trabalhadores, a nova escala --chamada crew link-- altera os horários de uma hora para outra e fere a lei trabalhista, que determina que as escalas sejam divulgadas com uma semana de antecedência.
A assessoria de imprensa da Gol foi procurada para comentar a paralisação e as críticas dos funcionários, mas solicitou à reportagem que mandasse as perguntas por e-mail. Os questionamento foram enviados às 19h13, mas até às 20h50, ninguém havia retornado. Procurada novamente pela reportagem, a assessoria não atendeu as ligações.
O Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) afirma ter conhecimento da mobilização, mas diz que a paralisação não foi convocada pela organização. Segundo Carlos Camacho, diretor do SNA, o sindicato não está convocando a greve nem incentivando a categoria a parar, mas acredita que o movimento será inevitável se a empresa não atender as reivindicações, sobretudo as referentes à mudança na escala.
Atrasos
A Infraero, estatal que administra os aeroportos do país, informou que a Gol teve 335 voos domésticos atrasados e 77 cancelados entre 0h e 18h desta segunda-feira. Os atrasos representam quase 54% dos voos domésticos da companhia que estavam previstos para o horário.
Segundo o comandante Gelson Fochesato, presidente do SNA, o alto índice de atrasos é reflexo de um acordo feito nos últimos dias entre a companhia e o sindicato. Fochesato afirmou que, depois de três reuniões com a categoria, a Gol concordou no dia 26 de julho em alterar o formato da escala e reduzir o número de voos para cada tripulante a partir de hoje.
“Em julho, acontecem muitos voos extras. As companhias fretam aviões para agências de viagens, há voos de férias. E eles não levam em consideração a capacidade da tripulação. Em agosto, isso deve melhorar, mas o acordo é de que agora os voos extras só serão aceitos dentro da capacidade”, disse.
Em nota, a companhia disse que os voos da empresa vêm sofrendo cancelamentos e atrasos além do normal desde a sexta-feira por conta do intenso tráfego aéreo causado pelo fim das férias escolares e pelos remanejamentos de voos do Aeroporto de Congonhas, que fecha as 23h, para o Aeroporto de Guarulhos.
“A situação, desenvolvida num fim de semana de pico de movimento, com retorno de férias escolares, ocorreu num momento em que a empresa finalizava a implementação de um novo sistema de processamento das escalas dos pilotos e comissários”, completou a companhia. “Algumas tripulações atingiram o limite de horas de jornada de trabalho previsto na regulamentação da profissão e foram impossibilitadas de seguir viagem, gerando um efeito em cadeia.”
“Falha” na lei
De acordo com a Lei do Aeronauta (Lei 7.183/84), por questões de segurança operacional, um tripulante de avião a jato não pode exceder 85 horas de voo por mês, 230 horas por trimestre e 850 horas por ano. O texto também impede que a tripulação que cumpriu três horas de jornada entre 23h e 6h viaje na madrugada do dia seguinte.
Para o comandante Carlos Camacho, diretor do SNA, algumas empresas aproveitam uma falha no texto da regulamentação da categoria e obrigam os tripulantes a trabalhar durante várias madrugadas seguidas.
“As empresas se apropriaram de uma falha na regulamentação que permite uma interpretação segundo a qual só não podem ser escalados na madrugada seguinte os tripulantes que voltaram à sua base. O problema é que muitas vezes os trabalhadores viajam de madrugada, mas não voltam para sua base, vão para outras cidades”, diz. “Mas o que está em questão é a condição física do ser humano, e não a cidade para onde o tripulante vai”, afirma.
De acordo com Camacho, o site do SNA recebeu, até por volta de 16h de hoje, 845 denúncias de funcionários contra empresas aéreas. Por conta da mobilização contra a Gol, só no mês de julho foram 330 denúncias.
A Anac informou que está acompanhando a normalização da situação e fiscalizando o cumprimento da lei do aeronauta. Segundo a agência, caso o passageiro não seja atendido pela companhia aérea, ele pode registrar queixa pelo 0800 725 4445 ou pelo site: www.anac.gov.br/faleanac.
*Com reportagem de Fabiana Uchinaka
uol
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